capítulo 6

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Não querendo acabar com a noite dos amigos, Angie resolve voltar a pé para casa. Estava distraída demais com seus pensamentos para permanecer no Pub, aquilo só faria a situação piorar.

Com passos firmes e acelerados a menina segue seu caminho de volta para casa, ao som de corujas e ventos uivantes. Maldito auxiliar, maldito pub, malditas emoções e maldito Condado de Oxfordshire, ela pensa alto. À noite, a atmosfera do local é extremamente pesada, o que faz daquele cenário o perfeito para um filme de terror. Eu deveria ter ido junto com Peter, pensa.

Nos momentos de crises existenciais, Angie se martiriza com os piores de seus pensamentos. Culpa, medo, insegurança. É como se tudo tomasse vida e mergulhado a menina no fundo do poço. Ela está indo bem até. Consegue sobreviver às aulas e aos comentários previsíveis da mãe. Consegue até conviver com as idas à missa. Ela realmente está indo bem, não importa se isso inclui alguns comentários incrédulos no meio.

Com a pequena mochila na mão e o inútil casaco jeans, Angie pode avistar sua casa numa distância curta. A residência não é muito grande, suntuosa ou moderna. É apenas mais uma casa que intensifica o ar rústico de Holton. Tem dois andares e um pátio significativo na frente, cercado por uma cerca branca baixa. A grama está verde devido a ocorrência de chuvas, o que dá vida ao jardim sem muitas flores a não ser um conjunto de lírios e Bluebells contornando a pequena cerca. A casa de tijolos e tamanho regular sempre fora perfeita para a família Walker, nos tempos que ainda eram uma família.

Ao abrir a porta Angie tira suas botas pretas sem brusquidão para previnir que sua mãe ouça a sua chegada. Ela sobe as escadas com cautela até chegar em seu quarto e se despreocupa, colocando as botas num canto qualquer do cômodo ao sentar na cama.

Desajeitada, Angie encara a parede de cabeceira clara, repleta de fotografias autorais. Foram bons anos. Anos que a garota podia se expressar como sempre gostara sem deixar que o mundo a corrompesse. Ao lado das fotos, alguns posters de bandas, filmes e de celebridades antigas se espalham desordenados sem um padrão. O seu preferido é um de Audrey Hepburn. Acredite ou não, a garota sempre fora fã de clássicos como Bonequinha de Luxo.

Ao lado da cama há uma estante vertical comprida de largura intermediária, que guarda seus preciosos livros. É a biblioteca particular da garota, que poderia variar seu acervo literário de Meg Cabot até Jane Austen. Às vezes ela encara seus preciosos livros e lembra de seu pai. O único vestígio que ainda tem dele é o amor pela literatura. Senão fossem noites de leituras inimagináveis, a menina talvez não fosse tão apegada à suas obras. O que ele estaria fazendo agora?, ela invade sua cabeça com a última imagem que tem do mais velho. Um sorriso no rosto, um livro no colo e um café quente nas mãos fazem de Jeremiah uma memória muito distante. O homem que havia se mudado para Londres, parece ter morrido tanto para Angie como para sua mãe. Agora são apenas as duas e mais algumas notas verdes de falso consolo do homem que a colocou no mundo.

No outro lado do quarto, há um criado mudo branco de aproximadamente 6 gavetas, que o dá um ar de quarto infantil, seguido por um armário de correr da mesma cor.

Não pode faltar a famosa bancada branca da menina que fica em frente a sua cama. Alguns livros abertos, anotações sem rumo, o computador ligado e uma caixa com absorventes jogados é o que toma o espaço da bancada. Acima, há uma prateleira que dá o lugar à sua famosa coleção de câmeras antigas e à alguns discos de vinil. É uma perfeita hipster com ar de revoltada.

Enquanto Angie pega no sono, Isaac Larsen se acomoda no banco de motorista do seu Plymouth e acende um de seus cigarros. A noite que, para a menina já estava no fim, mal acabara de começar para o homem. As agitadas ruas de Oxford o esperam ansiosamente e questionam seus motivos para prolongar suas idas a Holton. Será que valia a pena? Será que suas razões são fortes o suficiente a ponto de resistirem o gelo de Angelina Walker? Foda-se, ele pensa ao dar sua primeira tragada. O homem não tem escolhas.

Os lábios de Isaac abrem-se em um sorriso maroto ao ouvir a banda que toca quando liga seu rádio. Arctic Monkeys. Talvez o conjunto britânico de Indie Rock fosse melhor do que ele esperava.


Nota da autora:

400 views!!!!! Estou muito feliz, gente! Obrigada pelos votos e comentários!

Beijos,

L. Ferrerro

MASQUERADEOnde histórias criam vida. Descubra agora