capítulo 5

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"O que você está fazendo aqui?" A garota pergunta com espanto. Não queria correr o risco de um auxiliarzinho qualquer dedurar ela para alguém e sua mãe acabar sabendo. "Achei que você estivesse discutindo Shakespeare com algum desocupado em plena sexta a noite." Seu tom é de falsa surpresa. "Oh não, esqueci que sua opinião sobre tal assunto não é válida." Angie diz e sem hesitar, retorna a andar.

"Sua perspectiva. Eu tenho a minha." O homem não havia feito um movimento sequer a não ser o trajeto do cigarros entre seus dedos até sua boca. Ele dá uma leve tragada deixando a nicotina envolver seus pulmões. A garota para por um momento e vira de costas.

"O que você quer? Eu nem sei quem você é." Ela dá de ombros, sem esperanças.

"Você não lembra de mim, Angel?" Isaac diz sem encará-la, com os olhos vidrados no cigarro. Ela arqueia as sobrancelhas. "Conhecia seu falecido irmão. Eu e você já fomos apresentados rapidamente uma vez." Ele dá outra tragada e dessa vez a encara. Isaac percorre o corpo curvilíneo da menina com olhares maliciosos e pensamentos que falam altos demais. Ele consegue incrivelmente ser mais indiferente do que a própria Angie e suas palavras pareciam vir sem nenhum pingo de compaixão. "Sinto muito pela sua perda."

"Não lembro de você. Não faço questão dos pêsames de um desconhecido.", ela mente. As memórias de quando ficou bêbada pela primeira vez a invadem juntamente com a imagem de Isaac. Foi uma festa da faculdade que seu irmão havia a levado consigo. De qualquer forma, são memórias desconexas. Ela não lembra muito bem do acontecimento. "Vou ter que repetir:", diz, inquieta. "O que você quer?" O homem ri, sarcástico.

"O Fortis não é perto o suficiente a ponto de você ir andando até lá nesse frio, Angel." Ele está certo. O Fortis Pub dariam pelo menos 25 minutos de caminhada, e como hoje não havia nem Alex, Donnah ou Barbora disponível para buscá-la, Angie teria que ir a pé. "Pegue uma carona comigo." Isaac deixa de se apoiar no carro preto e se aproxima da menina. Se ela antes havia reclamado da reação que o homem causou nas suas colegas de sala, Angie agora retira suas palavras. Ela pode sentir a atmosfera pesar quando ele está por perto.

"Por que você está me oferecendo uma carona? Não sabia que você perde seu tempo com pirralhas." Ela diz e Isaac ri novamente sarcástico. Merda. A menina faz de tudo para não querer desejá-lo depois daquelas risadas maliciosas.

"Você se acha bem esperta, não é garota?", ele pergunta. "Estou te oferecendo uma carona porque está fazendo um puta de um frio e porque não sou o tipo de cara que deixa uma conhecida vagar sozinha no meio da noite." Isaac fala como se eles já se conhecessem a muito tempo, mas não tira razão de seu comentário. Está um gelo e com essa jaqueta jeans que de nada serve, Angie vai acabar morrendo de frio. "É pegar ou largar." O homem diz enquanto entra no seu 1969 Plymouth Road Runner preto. É definitivamente um carro que faz jus a imagem do dono. A menina resmunga e sem opções, entra no carro ocupando o banco passageiro.

"Por que você disse conhecida?" Angie pergunta a Isaac num tom curioso. Ele a encara desentendido. "Por que você disse que não deixaria uma conhecida vagar sozinha, especificamente?" Ela esclarece.

"Porque se fosse qualquer uma eu estaria pouco me fodendo." O homem solta um forte palavrão em seu comentário e Angie tenta não processar a informação. Como se ele realmente fosse se importar, ela pensa.

O trajeto até o Fortis Pub tem a duração de uma música que ecoa quando Isaac liga o ráido. Uma letra que ambos conhecem bem toca num tom médio. I Wanna Be Yours do Arctic Monkeys embriaga seus ouvidos e diminuí a tensão do momento. Enquanto Isaac batuca as batidas ritmadas da música, Angie deixa se envolver pela melodia, olhando para fora da janela do carro. Ela amava aquela música e naquele momento, sentia-se estranhamente confortável em dividi-la com alguém. Até mesmo alguém como Isaac.

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