Capítulo 1 - Do sonho à realidade

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Ano de 1995, em algum lugar do Brasil. Cidade interiorana de médio porte, com aproximadamente 500 mil habitantes. Naquela época não existiam, por exemplo, os sofisticados aparelhos celulares que atraem tantos assaltantes em duplas de moto. Também não havia a massificação da Internet, para deixar toda uma sociedade informada na velocidade de um click, sobre a quantidade de assaltos que ocorrem do outro lado do município.

Sim, há muito já se falava em maconha. Mas em crack, não. Essa guerra urbana protagonizada pelo tráfico de drogas é uma realidade de hoje (2018). Violência e insegurança, se existiam, não davam suas caras com tanta frequência naqueles dias.

Crianças e adolescentes brincavam sossegados nas ruas. As mulheres, nos afazeres domésticos, não se preocupavam tanto em manter a porta de casa fechada o dia inteiro.

Os homens que invariavelmente frequentavam seus bares preferidos depois do expediente no trabalho não temiam perambular às 22h, 23h ou meia noite, no caminho do boteco até suas casas. Não havia mais ônibus circulando naquele horário.

Taxi? Não há bolso que aguente. Mas para quê? Sem tanta violência nas ruas (comparando-se aos dias atuais), os operários voltavam a pé mesmo aos seus lares.

Rony era apenas um menino de 10 anos de idade, que se juntava aos colegas do bairro para brincar por aquelas ruas ainda sem calçamento. A farra era à noite. Uma porrada de moleques se reunia na esquina e ditava as regras da brincadeira.

A preferida da gurizada era "polícia x ladrão". Na incerteza do par-ímpar, os grupos eram divididos entre quem seriam os policiais e quem deveria fazer o papel de bandido.

Toda vez que, por falta de sorte, Rony caía no grupo dos ladrões, implorava para trocar de função. Detestava aquilo. Fazia de tudo para convencer um colega a aceitar a troca. Chegava a prometer o lanche da escola, na aula do dia seguinte, a quem lhe fizesse o favor.

E cumpria! A mãe nem sonha o tanto de dias que seu filho passou sem lanchar, só para não ser 'o ladrão' na brincadeira da rua. Seu negócio era ser polícia e ponto final.

Era fascinado. Não escondia a empolgação quando avistava uma viatura vagueando pelas ruas tranquilas dos anos 1990. Entre seus brinquedos, tinha de haver um carro da polícia e alguns soldados armados. Nos desenhos da televisão, idem.

No cinema, seus heróis atendiam pelo nome de Rambo, num primeiro momento, e anos à frente a admiração recaía sobre Robocop, o policial do futuro. Não tinha dúvidas quanto ao seu futuro, toda vez que seus pais faziam a velha pergunta de praxe:

– O que você vai ser quando crescer, Rony?

– Eu vou ser policial!

Não era mero sonho de criança. Rony seguiu nos estudos básicos, concluiu o ensino médio e prestou vestibular para um curso qualquer, só para não perder o embalo. Mas seu foco mesmo era um concurso público da polícia, fosse ela Civil ou Militar. Queria mesmo era ser investigador. Mas também não deixaria escapar as oportunidades que a PM oferecesse.

O primeiro concurso que veio foi justamente para ingresso na polícia fardada. Ele se saiu bem nas provas, mas, talvez engolido pela ansiedade de alcançar o grande objetivo de vida, levou pau no psicotécnico. Viu a chance de ouro escapar de suas mãos como um sabonete liso. Chorou como nunca ao vir seu nome na lista dos eliminados.

Continuou no curso de História – que fez apenas para "ter um curso superior" –, mas sequer cogitava a possibilidade de terminar seus dias dentro de uma sala de aula, ensinando aos alunos como era a vida no passado. O seu presente continuava sendo de preparativos para o que mais almejava no futuro: o distintivo policial.

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