Terça-feira, oito e meia da manhã. Lisboa e Rony conversam sobre tudo o que é "assunto de homem", enquanto tomam café na lanchonete que fica em frente à delegacia. A cada dois minutos, o papo é interrompido pelo desfilar de mulheres vestidas de branco na calçada, a maioria delas enfermeiras que trabalham no hospital localizado na mesma quadra. A marca da calcinha na calça justa das moças tirava o sossego até de seu Expedito, dono do ponto de lanches: "Eitaaaa, Deus!"
– Não pensa em casar de novo, parceiro? – perguntou Lisboa.
– Camarada, deixa eu sossegar um pouco. Minha ex-mulher fez tanta raiva que eu tô traumatizado com essa história de casamento.
– É, a minha mulher também me faz uma raiva danada. Mas eu não tenho mais idade pra viver solteiro, não. Toda mulher faz raiva [risos]. Ruim por ruim, deixa eu com ela. Nada que uma boa rodada de cerveja não resolva, depois que o relógio bate meio dia no sábado.
Lisboa virou pela última vez a xícara de café na boca, para acender o terceiro cigarro do dia. Rony mordia mais da metade do pão com queijo assado, fitando os olhos numa morena que passava pela calçada em direção à delegacia. A calça branca apertada deixava dez centímetros de pele bronzeada à mostra, entre um pouco abaixo do umbigo e o início da blusa, também fixada ao corpo.
Os cabelos lisos, longos e bem escuros deixaram para trás um perfume de arrancar mais um grito de seu Expedito. "Eitaaaaa, Deus!!!" Lisboa, de costas, perdeu essa.
Rony não atentou para o rosto da morena porque a quase metade dos seios à mostra roubou-lhe o foco visual. Estavam espremidos pela blusa colada e exibiam um pingente dourado com a letra 'C' bem na linha que dividia aqueles peitos salientes.
– Meu amigo, passa cada mulher gostosa aqui, viu – exclamou Rony.
– É por isso que esse velho só falta morrer – completou Lisboa, apontando para seu Expedito.
A dupla de investigadores mandou o velho anotar o café no caderninho do fiado e seguiu para a delegacia, dar início aos trabalhos. No corredor do prédio policial, no banco de espera, estava a morena do pingente dourado, sentada entre oito ou dez pessoas que aguardavam atendimento naquela manhã.
Rony, sem disfarçar a atração que sentiu pela jovem, foi direto falar com a menina:
– Já foi atendida, moça?
– Não. Na verdade, eu fui intimada para ontem, mas não pude vir porque estava doente. É sobre o assassinato do meu pai, Sandoval. É com vocês o caso?
– É sim. A gente te chama já, ok?
– Ok.
Rony andou apressado para a sala, onde já estava Lisboa revirando alguns papeis. O depoimento iniciaria tão logo o delegado Braz chegasse, às 9h, como de costume. Faltavam apenas 10 minutos, e o policial novato da equipe não se continha em ansiedade.
– Que agonia da porra é essa, parceiro? Vai pôr um ovo, é? – disse Lisboa.
– A filha do Sandoval tá aí pra ser ouvida.
– Já chegou? Nem vi.
– Já. E é linda, viu...
– Pronto. O homem que há meia hora disse não querer nem ouvir falar de casamento parece que vai mudar de ideia...
– Nada... É só um comentário. Não se pode mais nem achar uma mulher bonita?
– Com esses olhos aí? Sei...
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Caso Encerrado
RomanceEu não vou mentir para você. Eu não tenho como mentir para você. Não consigo! Muitos crimes sob nossa investigação acabam por despertar um 'interesse' diferenciado, de nossa parte, em solucionar o caso. Não há como tratar todo delito de forma igual...