Capítulo 3 - Cris e a carona para casa

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Terça-feira, oito e meia da manhã. Lisboa e Rony conversam sobre tudo o que é "assunto de homem", enquanto tomam café na lanchonete que fica em frente à delegacia. A cada dois minutos, o papo é interrompido pelo desfilar de mulheres vestidas de branco na calçada, a maioria delas enfermeiras que trabalham no hospital localizado na mesma quadra. A marca da calcinha na calça justa das moças tirava o sossego até de seu Expedito, dono do ponto de lanches: "Eitaaaa, Deus!"

– Não pensa em casar de novo, parceiro? – perguntou Lisboa.

– Camarada, deixa eu sossegar um pouco. Minha ex-mulher fez tanta raiva que eu tô traumatizado com essa história de casamento.

– É, a minha mulher também me faz uma raiva danada. Mas eu não tenho mais idade pra viver solteiro, não. Toda mulher faz raiva [risos]. Ruim por ruim, deixa eu com ela. Nada que uma boa rodada de cerveja não resolva, depois que o relógio bate meio dia no sábado.

Lisboa virou pela última vez a xícara de café na boca, para acender o terceiro cigarro do dia. Rony mordia mais da metade do pão com queijo assado, fitando os olhos numa morena que passava pela calçada em direção à delegacia. A calça branca apertada deixava dez centímetros de pele bronzeada à mostra, entre um pouco abaixo do umbigo e o início da blusa, também fixada ao corpo.

Os cabelos lisos, longos e bem escuros deixaram para trás um perfume de arrancar mais um grito de seu Expedito. "Eitaaaaa, Deus!!!" Lisboa, de costas, perdeu essa.

Rony não atentou para o rosto da morena porque a quase metade dos seios à mostra roubou-lhe o foco visual. Estavam espremidos pela blusa colada e exibiam um pingente dourado com a letra 'C' bem na linha que dividia aqueles peitos salientes.

– Meu amigo, passa cada mulher gostosa aqui, viu – exclamou Rony.

– É por isso que esse velho só falta morrer – completou Lisboa, apontando para seu Expedito.

A dupla de investigadores mandou o velho anotar o café no caderninho do fiado e seguiu para a delegacia, dar início aos trabalhos. No corredor do prédio policial, no banco de espera, estava a morena do pingente dourado, sentada entre oito ou dez pessoas que aguardavam atendimento naquela manhã.

Rony, sem disfarçar a atração que sentiu pela jovem, foi direto falar com a menina:

– Já foi atendida, moça?

– Não. Na verdade, eu fui intimada para ontem, mas não pude vir porque estava doente. É sobre o assassinato do meu pai, Sandoval. É com vocês o caso?

– É sim. A gente te chama já, ok?

– Ok.

Rony andou apressado para a sala, onde já estava Lisboa revirando alguns papeis. O depoimento iniciaria tão logo o delegado Braz chegasse, às 9h, como de costume. Faltavam apenas 10 minutos, e o policial novato da equipe não se continha em ansiedade.

– Que agonia da porra é essa, parceiro? Vai pôr um ovo, é? – disse Lisboa.

– A filha do Sandoval tá aí pra ser ouvida.

– Já chegou? Nem vi.

– Já. E é linda, viu...

– Pronto. O homem que há meia hora disse não querer nem ouvir falar de casamento parece que vai mudar de ideia...

– Nada... É só um comentário. Não se pode mais nem achar uma mulher bonita?

– Com esses olhos aí? Sei...

Caso EncerradoOnde histórias criam vida. Descubra agora