A conversa entre Rony e Cris foi interrompida quando o portão da casa abriu de repente. Era Margarete chegando com uma sacola de verduras e um frango, para o almoço. O policial se deu conta da hora e lembrou que Lisboa o esperava para as diligências do dia. Mas não poderia sair dali sem explicar o que havia acontecido com a filha da dona da casa.
– O que foi isso, Cris?
– Calma, mãe. Está tudo bem. Foi só uma queda da moto.
– Meu Deus!!!
– Calma, dona Margarete, está tudo bem. Não houve fraturas, apenas arranhões. Eu tenho que ir porque vou trabalhar. Mas mais tarde trago a sua moto, ok Cris?
– Ok. Obrigada mais uma vez.
– Por nada. Tchau. Até mais, dona Margarete!
A mãe de Cris abriu meio sorriso para Rony e ergueu levemente o braço para se despedir do investigador. A morena de olhar sedutor pode até não ter percebido ainda, mas o policial não escondia o brilho nos olhos quando se portava a ela.
Mais experiente e com a infalível suspeição de mãe, Margarete achou estranho a presença de Rony sentado em sua garagem, tomando suco ao lado daquele par de pernas espremidas em um palmo de jeans:
– O que esse rapaz veio fazer aqui?
– Ele me socorreu quando eu caí de moto, mãe. E me trouxe pra casa. A moto está lá, quebrada. Ele vai trazê-la depois.
– E ele viu na hora em que você caiu? Como foi isso? Foi em frente à delegacia?
– Não, eu já havia saído da delegacia. Foi mais distante. Coincidentemente, ele também vinha passando no local e me ajudou. Só isso.
– 'Coincidentemente' é?... Sei...
As suspeitas de Margarete se dividiam entre um possível interesse amoroso de Rony por sua filha, ou uma tentativa de aproximação com a menina apenas para tentar arrancar informações que pudessem esclarecer a morte de Sandoval. A viúva não queria envolver Cris nessa história, temendo eventuais complicações futuras.
– Vocês conversaram sobre o quê?
– Ah, um monte de coisa, mãe.
– Que coisa?
– Eu perguntei se eles já tinham informações sobre a morte de papai, e ele diss...
– Elaine Cristina, eu não quero você envolvida nisso! Isso fica para a polícia resolver. Você não tem nada que ficar atrás disso.
– Eu sei, apenas perguntei porque o assunto me interessa. Foi meu PAI que mataram, lembra?
– Lembro sim. Mas deixe que a polícia resolva.
Margarete entrou com as sacolas para preparar o almoço. Cris ficou sentada na cadeira, tomando no copo usado por Rony o suco que sobrou na jarra. Ela olhava os jambos caídos no chão, na grande sombra que o jambeiro projetava sobre quase todo o jardim da casa.
Meio que sem intenção nenhuma, Cris resgatava na memória os momentos que estava sendo levada nos braços por Rony, da cadeira emprestada durante o socorro no acidente até a viatura do policial.
Como que numa sintonia de pensamentos, Rony, já na metade do caminho de volta à delegacia, não tirava da cabeça cada instante em que esteve ao lado de Cris. O depoimento na sala da delegacia, a caminhada até o estacionamento, a 'perseguição' forjada à moça, a hora da queda da moto, o socorro, a carona até em casa, o suco, os quase 70% dos seios à mostra no vacilo que a menina deu ao se baixar com a jarra... Um filme se passava no mundo imaginário do investigador, com intermináveis acionamentos no replay.
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Caso Encerrado
RomanceEu não vou mentir para você. Eu não tenho como mentir para você. Não consigo! Muitos crimes sob nossa investigação acabam por despertar um 'interesse' diferenciado, de nossa parte, em solucionar o caso. Não há como tratar todo delito de forma igual...