Capítulo 4

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Allan



Eu estava mais do que irritado, mas entendia o que havia acontecido, ela simplesmente tinha precisado de mim em um momento no qual eu estava mais preocupado em sentir pena de mim mesmo do que olhar para o lado, então não podia culpar o Silas por ter feito o que eu deveria ter feito... Já estava sendo mais do que egoísta com ela, sem me dar por inteiro, me relacionando sem ter superado outra pessoa, então como podia julgá-la? Era uma puta de uma injustiça da minha parte por mantê-la comigo sem saber ao certo como continuaria com tudo isso, mas eu simplesmente não conseguia deixá-la ir embora... Eu me sentia perdido, mas ela sempre me trazia de volta quando sorria e querendo ou não isso me deixava balançado quando decidia por um fim em tudo. Ainda mais agora que realmente tive a certeza de que algo muito grave tinha acontecido com ela, uma pessoa não fica daquele jeito por qualquer coisa, o pavor e desespero que eu vi em seu olhar deixaria qualquer um perturbado por um bom tempo e mesmo não sendo o cara mais esperto do mundo eu sabia identificar quando alguma coisa estava muito errada... Desde quando a conheci percebi que algo a travava sempre que fazíamos amor, algumas vezes podia senti-la tensa e vulnerável e isso acabava comigo. Não era do tipo de homem que só se preocupava com o próprio prazer, antes de tê-lo eu preferia proporcioná-lo e muitas vezes Rose não deixava que eu ultrapassasse as barreiras que impôs para manter todos afastados. Nunca achei que fosse perceber algo do tipo, mas com ela eu acabava percebendo. Sempre que sorria não era com a alma, não sei se isso fazia algum sentido, mas era o que eu conseguia imaginar...

Forcei-me a lembrar de todas as vezes em que ela perdia o foco e parecia não estar mais vivendo ali naquele momento e há alguns minutos atrás foi exatamente isso que aconteceu, ela gritava e tentava afastar um ser invisível com as mãos, pedindo para deixarem ela em paz e chorando copiosamente. Quando saí e vi isso, com certeza algo dentro de mim se quebrou e eu tive a certeza que não podia deixá-la sem entender o que estava acontecendo... Nós estávamos juntos há quase um ano e eu nunca senti a necessidade de passar para um estágio maior de relacionamento e ela não me cobrava também, então tinha ficado elas por elas, eu tranquilo e ela sem expectativas quanto a tudo o que rolava. Algumas vezes antes de dormir eu me perguntava se conseguiria viver sem ela, como o Josh dizia não conseguir viver sem a Beatriz, achava aqueles dois tão melosos juntos mas não podia deixar de concordar que eram perfeitos um para o outro. Eu e ele éramos amigos já há alguns anos e lembro-me muito bem das farras em que ele se metia, das mulheres que passaram pela sua vida, das mulheres que compartilhamos e se me falassem que ele encontraria uma e a trataria da forma como trata sua mulher eu chamaria a pessoa de louco e a internaria na clínica mais próxima, porque dizer aquilo seria simplesmente uma insanidade... Porém, no entanto, lá estava ele, sendo pai, comprando uma casa que levasse em conta a segurança de uma criança, cachorros e até mesmo colocando sua família acima do basquete que era sua paixão número um... Ele era o exemplo máximo de que as prioridades de um homem podiam mudar, mas será que as minhas mudariam um dia?

Levantei a cabeça e olhei para Silas e Josh, que estavam sentados e de cabeça baixa, e me culpei por ter sido idiota com os melhores amigos que eu poderia conseguir, me remoendo por não ter conseguido controlar a minha parte egoísta...Senti que devia me desculpar pela merda que tinha acabado de acontecer e foi quando percebi que a Rose já tinha voltado... Olhei e vi uma expressão que nunca imaginei encontrar em sua face, ela estava decidida, a fazer o quê eu já não sabia...

Criei coragem e ignorei o seu olhar em minha direção, indo até onde Silas estava e murmurando um pedido de desculpas baixo, mas que tinha certeza que ele havia ouvido, fui até o Josh e fiz a mesma coisa, o que liberou um peso em minhas costas automaticamente. Decidi logo em seguida sair dali, tentar pensar um pouco na minha vida e no que estava fazendo dela, Rose me seguiu e eu não a impedi em momento nenhum, apreciando a sua companhia silenciosa e acolhedora. Saí do hospital e sentei em um banco nos jardins da entrada, sem saber ao certo o que fazer... Rose queria falar comigo, eu conseguia sentir a tensão em seu corpo mesmo sem sequer tocá-la e isso não me soava bom.

Antes do Sucesso - Boston Globe II (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora