Capítulo 3

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 Roselyn


Roselyn... Roselyn... Roselyn... Seu nome é tão bonito Rose.

Fui transportada novamente há sete anos atrás e podia sentir tudo o que faziam comigo novamente e novamente.

-Vai cara, aproveita! Porque está demorando?

-Porra Henry, porque você não nos disse que ela era virgem?

-Como assim virgem, você tá louco?

-Não estou não, sei diferenciar muito bem.

-Merda, eu devia ter ido primeiro então!

-Agora já era!

Ouvi as suas risadas e só conseguia gritar e espernear para pararem de me tocar e saírem de perto de mim. Gritei a palavra NÃO por incontáveis vezes mas isso não mudou a atitude deles, pareciam se sentir mais encorajados a continuar com aquela violência desmedida. Eu implorei a Deus que pelo menos fosse rápido, já que não tinha como evitar, mas em algumas situações parece simplesmente que tudo o que desejamos não pode acontecer e naqueles momentos dizer que eu queria morrer seria um eufemismo.

-PAREM DE ME TOCAR! SAIAM DE PERTO DE MIM! POR FAVOR NÃO, CHEGA, EU NÃO AGUENTO MAIS...

Eu gritava e sentia meu corpo sendo investido com mais força ainda até que parei de gritar e deixei que fizessem o que queriam... Eu não conseguiria fazer mais nada, eu só fiquei esperando eles se cansarem e darem o fim que tinham planejado para mim.

-Rose, Rose, o que está acontecendo? Fala comigo pelo amor de Deus gata! ROSE! ROSE!

A névoa que assombrava minha mente foi se dissipando aos poucos e eu pude ir assimilando onde estava...

Estava sentada em um dos bancos do lado de fora do hospital, só não sei como cheguei aqui e nem o porquê, eu apenas estava sentada, ereta e com o olhar perdido. Vi Allan parado a minha frente me olhando de forma assustada e temerosa e fui percebendo que provavelmente minha crise tinha acontecido de novo... Era sempre assim, quando eu ouvia algo que me fizesse assimilar o que tinha acontecido eu regredia no tempo e revivia tudo em tempo real, como se eu estivesse presa lá novamente e não pudesse fazer nada, só esperar acabar. Nunca tive coragem de ir ao terapeuta, como explicaria o que estava acontecendo comigo? No mínimo ele ou ela me achariam louca e me dariam remédios prescritos que me fariam dormir doze horas seguidas.

Depois de tudo o que aconteceu eu saí da cidadezinha do interior, tentando fugir das lembranças que não importa para onde eu fosse me seguiam como abelhas seguiam o mel e isso tornava a minha vida um inferno, literalmente um inferno. Eu li em algum lugar, não me recordo muito bem onde, que o inferno é o lugar onde seus pesadelos se tornam infinitos, então você fica revivendo sempre tudo o que mais te apavorou... Fiquei remoendo essa leitura e constatei que estava vivendo o meu inferno aqui e que não merecia ser feliz nunca mais. Talvez em uma vida passada eu tenha feito muita coisa errada e somente me restou pagar nessa, eu não acredito cegamente nessas coisas, mas algumas vezes na vida você passa a duvidar até da sua sombra e é quando chega nesse ponto que você sabe que tudo está perdido, não tem mais solução, não importa o quanto tente lutar contra a verdade que te assola... Nada nunca mais será bom para você.

-Rose o que aconteceu? Quem tem que te soltar? Eu estou realmente preocupado, só por favor, me diz o que aconteceu?

Olhei fixamente em seus olhos e menti com a cara mais deslavada que pude aplicar no momento. Eu não queria ter que contar isso para ele, não queria deixá-lo saber de tudo o que tinha acontecido comigo... Eu já não sou mais a mesma garota pela qual todos sentiam pena pelo ocorrido. A pobre Roselyn, a coitada Roselyn. Não, eu não era mais. E isso graças ao foco que consegui manter nos estudos e nas pessoas que encontrei pelo caminho. Sobreviver da piedade dos outros não era uma alternativa pra mim, todos temos que aceitar o que nos foi dado, mesmo não sendo algo do qual queira se lembrar, levantar a cabeça e seguir em frente, porque passado não move o futuro. Cansei de todo mundo sempre me perguntar como eu estava, para fazer um tratamento, tentar esquecer o que aconteceu e outras coisas indiferentes a minha situação e foi por isso que eu fui embora, deixando todos a quem eu conhecia para trás, tentando criar uma nova vida onde eu não seria conhecida como a "menina estuprada", mas sim como a Rose bibliotecária, que sempre foi a minha vontade... Algumas coisas infelizmente eu não podia mudar, como o meu nome, mas eu podia tentar acreditar que eu não me chamava mais assim, por isso falava a todos pra me chamarem de Rô, até mesmo Rose, mas nunca meu nome inteiro... Ele me trazia memórias amargas de um passado infeliz e isso eu queria evitar ao máximo.

Antes do Sucesso - Boston Globe II (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora