Capítulo 2

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Allan



Cheguei em casa e não deitei na cama imediatamente, eu estava cansado mas com certeza hoje seria um dia que eu não dormiria. Amanhã era o aniversário da sua morte e isso ainda mexia comigo, era um dia sem nada a fazer na minha agenda, além de levar flores e chorar por algo que não voltaria. Ás vezes eu me perguntava quando superaria isso? Quando eu teria uma vida normal novamente? Na verdade talvez nunca mais tivesse...

Sair nesse dia parecia tão errado que eu acabava não fazendo nada. Sentava no meu sofá e esperava o tempo passar junto com a minha dor. Nem ver o pessoal eu fazia questão, só o Josh e o Silas sabiam o porquê da minha falta de vontade nessa data, ninguém mais precisava saber. Ninguém.

Fui até o quarto, abri o closet e procurei na gaveta onde eu sabia que encontraria sua foto, peguei-a e no mesmo momento comecei a chorar. Amar é complicado, mesmo depois de tantos anos eu continuava da mesma forma, ela era o meu tudo. Eu gosto da Rô, gosto de ficar com ela, conversar com ela, mas eu não sei se a amo, talvez seja pela névoa do passado que não me deixa seguir em frente, mas eu sei que eu não a amo tanto assim, pelo menos não como um dia amei Lettie. Pode até parecer egoísmo, mas ela foi a única mulher que conseguiu ultrapassar a barreira que eu mantinha dos meus sentimentos, Rô era como uma luz no fim do túnel, indicando que minha felicidade um dia chegaria... Me sentia como se estivesse a enganando e iludindo a todo momento, mas o que eu faria sem ela na minha vida? Acabaria voltando pras farras, mulheres, beber até cair e eu não queria mais isso, estava cansado de toda a merda que sempre caía nos meus ombros no final do dia.

Desabei no chão, sentando e me apoiando na porta do closet, chorando como toda vez que eu me lembrava do amor que perdi. Meu celular tocava insistentemente no meu bolso, mas eu não atenderia mais, nem hoje, nem amanhã. Sabia que podia ser alguma coisa importante, mas se eu atendesse agora todo mundo saberia que o Allan que eu aparentava ser não era real. Eu vivia um sonho que era mais da Lettie do que meu, jogar na NBA e me tornar famoso, ser reconhecido pelo meu talento. Quantas vezes eu a ouvi falar sobre isso? Sobre como queria ter muitos filhos e cachorros? Ai meu Deus, eu nunca conseguiria tirar ela da minha cabeça, era meu carma. Sei que onde quer que ela esteja, deve estar torcendo pela minha felicidade, porém quem ficou aqui sozinho fui eu e tinha horas que me sentir perdido era pouco.

Enxuguei as lágrimas que desciam desenfreadamente pelo meu rosto e fui até a caixa onde eu guardava todas as cartas que trocávamos quando éramos crianças e adolescentes. Isso era meu refúgio e fazia com que eu sentisse sua presença ali me acalmando e dando-me forças para continuar.

Sabe o que é engraçado? Saber que mesmo ficando todo dia ao seu lado, eu não me canso, você é tão especial pra mim Jay. Sempre vai ser.

Eu conseguia imaginá-la sorrindo e escrevendo ao mesmo tempo. Podia sentir o seu cheiro de morangos em minha mente, adocicando tudo a minha volta e me fazendo odiar e amar essa fruta. Puta merda, eu tinha que fazer alguma coisa para tentar pelo menos seguir com a minha vida, mas sempre que eu dava um passo a frente, dois eram contrários e eu acabava ficando na mesma. Sempre...

Quando tudo parecia não fazer sentido minha mãe me colocava pra cima e tentava me animar, só que era tão angustiante. Ficar com várias mulheres e em nenhuma você se encontrar. Conhecer várias pessoas e somente em algumas ser capaz de confiar. A vida é tão injusta e maléfica que todo dia você tem que confirmar sua vontade de ser alguém e não sucumbir a miséria de apenas interpretar um papel pré estipulado pela sociedade. Ser um astro estava longe da minha realidade de sete anos atrás e hoje eu sei como isso é algo horrível. Ser taxado de sortudo é algo comum no meio, mas o pior é perceber que quanto mais eu me esforço mais sorte as pessoas me atribuem.

Antes do Sucesso - Boston Globe II (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora