III - Zachary

203 20 7
                                    

O Mago Branco atacava Ragnar com fogo por todos os lados. O ogro não podia mais nem se enxergar envolto em tantas chamas.
Ragnar era valente, e provava tal virtude na coragem de suas jogadas. Invocava chamas, puxava o ar ao seu redor, tentara até fazer com que a terra ao redor levassem seus inimigos.
Zachary, caído do chão, observava o Mago Branco trabalhar sua mágica. Ragnar não tinha muitas chances. Também era uma criatura mágica, claro. Por estarem na fronteira, a magia ali era muito mais forte e dava uma ajuda especial para o ogro... e para o mago também, aparentemente. Mas não era magia o suficiente para realizar todas as tentativas de Ragnar.
- De todos os meus anos em Ur.. – o mago atacava Ragnar
- Devem ter sido muitos, eu acredito. – Ragnar rebateu enquanto tentava usar a água do Rio Corrente para apagar as bolas de fogo que o Mago Branco lançava.
- Eu nunca vi ninguém clamar prioridade sobre a ponte. O senhor não será o primeiro. – o mago estava sobrevoando Zachary caído e Charles, que mirava uma flecha em Ragnar para caso tudo desse errado. Enquanto Ragnar tentava sua sorte com a água do rio, o Mago Branco usava o ar ao seu redor para aumentar a correnteza, dificultando o trabalho do ogro.
- Ele se chama de Rio Corrente por uma razão, não é? – o mago se divertia as custas de Ragnar.
Zachary se levantou e se posicionou junto a Charles. Brandiu a espada e estava pronto para se o Mago não estivesse.
Ragnar voltara a atacar usando seu melhor elemento, o fogo.
- O senhor é um incendiário, percebo isso, senhor Ragnar – o mago estava calmo.
- Eu nunca disse meu nome.
- Eu sou um ótimo mago, oras – O Mago mudara a direção das águas, que estavam correndo numa velocidade maior que a normal graças a sua magia, e usou o tempo de desaceleração para conjurar as águas para cima de Ragnar. – E também tenho uma péssima mania de escutar a conversa dos outros.
Ragnar, enquanto caia, atirou bolas de fogo para todas as direções. Dessa vez, falhara em mirar no Mago Branco, mas conseguira atingir Charles, que caíra ao lado de Zachary junto ao seu arco e a flecha mirada no coração do ogro.
O Mago pareceu não se abalar.
Enquanto Zachary segurava o corpo do amigo conselheiro caído no chão, o Mago desceu de onde estava e simplesmente deu ás costas a toda a briga, deu as costas à Ragnar.
- A maior virtude de um homem é a coragem, senhor Ragnar, nunca duvide disso – e continuava andando em direção a estrada, enquanto Ragnar o observava ir embora. – Esses garotos demonstram suas coragem enquanto estamos aqui, duelando. Mas e os ogros? Qual a maior virtude? Estupidez? É isso que o senhor tem me mostrado hoje...
- Muita conversa para quem está indo embora. – Ragnar ria.
- ... e eu simplesmente não posso mais aguentar isso. – O Mago Branco se virou e com um movimento de mão dez das árvores que estavam a sua frente, na estrada, voaram em direção ao ogro. Duas na cabeça, duas no pescoço, duas na barriga, duas nos joelhos e outras duas nos pés. O ogro caiu no rio correndo em direção contrária.
Enquanto lutava contra a correnteza, o Mago, com um simples movimento de mãos, encolheu o ogro ao tamanho de uma formiga e o assistiu indo embora com a correnteza.
- Isso deve o ensinar.
O Mago olhou para Zachary, que estava chocado.
- Claro. Onde estão meus modos? – fez um movimento como se estivesse derrubando algo e uma semente caiu em cada buraco deixado pelas árvores. – Esperemos por dias chuvosos!

- Isso não está funcionando. – Zachary estava nervoso.
- Sua falta de fé é perturbadora, garoto. Olhe, ele está acordando!
No chão, Charles abria os olhos.
- Quanto... quanto tempo eu dormi?
- Não se preocupe, preguiçoso, só faz dez minutos que o Mago derrotou Ragnar.
- Eu encolhi ele na verdade... mas, nunca sabemos, ele pode querer continuar a briga!
- Ele é bem engraçado, também, você vai descobrir, Charles.
Charles se levantou e sentou-se junto aos outros.
- Eu tenho muitas perguntas. – Charles começou
- Nós dois temos, Char. – Zachary parecia mais ansioso que Charles.
- Eu já escutei de você – Charles parecera se lembrar agora – Existe uma lenda, eu escutei com os garotos do orfanato, desse bruxo que teria todos os poderes que um bruxo poderia ter. Dominaria todos e andava por ai de branco, ajudando aqueles que pode... e que pedem.
- Nós não pedimos nada.
- Mas tínhamos a folha, Zack. Victor nos ajudou, no final das contas.
O Mago parecera reconhecer as histórias e afirmava sua fama com uma balançada de cabeça.
- E eu estou aqui para ajudar vocês... no que eu puder, é claro. – O Mago tinha um olhar vago, ele podia estar olhando dentro dos seus olhos, mas parecia estar a quilômetros de distância. Seus olhos eram castanho claros que, em contato do sol, pareciam ser verdes. – Zachary começou a me contar sobre a missão de vocês...
Nunca Zachary se sentira tão intimidado. Não é todo dia que tem que fazer conversa fiada com um mago com poder de te diminuir ao tamanho de uma formiga e te jogar rio abaixo. Acabara contando sobre o plano, que outro assunto teria?
- O que são os poderes que bruxos tem... você fala de algo além das magias? – Zachary perguntara.
- Todo bruxo, os experientes eu digo, desenvolvem um poder em especial. Existem vários deles. Existem bruxos com telecinésia, teletransporte, alguns tem a habilidade de se transformarem em animais.
- E duplicação existe também, não é? – Zachary interrompera o mago.
- Sim, claro.
Zachary lembrara de algo que escutara a muito tempo atrás. Quando era criança, acompanhou seu pai até uma festa no salão do rei, onde anos depois seria eleito espadachim de Ur. No dia, seu pai ficou com uns amigos e Zack foi brincar com algumas crianças.
- E aqui, nesse mesmo castelo, está Esmeralda, a bruxa das bruxas. – Contava uma criança. – Que, secretamente, fez uma duplicação de si mesma antes de vim para cá e até hoje controla um plano de trazer a magia de volta para Ur, enquanto a outra fica aqui, presa. – Zachary olhava assustado para o caminho que levava a prisão real e refletia se seria possível tal coisa.
- Eu acho muito improvável isso, senhor Zachary. – O mago tirara Zack dos seus pensamentos.
- O que?
- Eu posso ver o que está pensando. Não, não acho que Esmeralda esteja controlando as bruxas com um clone seu. Mas sim, seria possível. – o olhar vago do Mago fazia Zachary duvidar.
Se realmente fosse o caso, o Mago nunca diria que Esmeralda realmente se dividiu e ainda tenta transformar Ur em uma terra mágica.
- Vocês estão numa missão mágica, não se enganem. É por isso que Richard mandou vocês. Ele com certeza tem medo do que pode encontrar com esse filho perdido.
- Sabíamos das consequências. – Zack queria estar no controle da situação. – Vamos entrar na floresta, terra mágica. Sabemos disso.
- Não é só isso, rapaz, e se você acha isso é um tolo. A missão em si é mágica e vocês vão ter que saber o que fazer quando a hora chegar.
- E o que teremos que fazer, Mago?- Charles estava preocupado.
- Vocês vão saber, garotos. Tenho fé nisso. Só, por favor, não entrem em contato com nenhum exílir. Se existe alguma força ai fora tentando trazer a magia de volta para Ur, um exilir é a última coisa que vocês deveriam ver.
- O que é um exilir? – Charles estava com a sua cara de aprendizado.
- Então Pietro não fala muito disso em aula, não é? – O Mago rira – O exilir é o ponto mais importante na guerra entre as bruxas com as terras sem magia. No começo dos tempos, a magia existia em todos os lugares. Tudo era caos, obviamente. Então, os reis se uniram e foram até os confins do mundo, transformando a magia em exilirs, cada local tinha um exilir e o exilir é a fonte material de magia em qualquer lugar. As terras mágicas do leste, por exemplo, tem exilir em todas as partes. Já aqui, no oeste, alguns lugares têm, outros não. Ur é o local que até hoje luta contra o exílir e qualquer indicio de trazer um para essas bandas.
- Foi isso que matou o Rei Roberto II, não foi? – Zachary se lembrava das histórias que seu pai, Weslley, contava.
- Sim, no ápice da Guerra contra as Bruxas, Roberto foi morto por ele mesmo. – O Mago refletira sobre aquilo.
- Mas salvou a todos do reino. Isso é o que importa. – Charles era fã de Roberto II. Zachary sabia o porquê. Os dois eram muito parecidos. Os dois eram os homens dos livros, mas Charles era bem melhor como guerreiro. – Eu prometo que ficaremos longe de qualquer exilir que podemos ver no futuro. – Charles se levanta e coloca a mão sobre o abdômen. – Eu devo ter machucado durante a luta com Ragnar.
- Não será um problema, garoto, deixe-me resolver. – O Mago se levantou também e ficou de frente com Charles.
Charles levantou sua camisa e revelou algo que Zachary não sabia sobre ele: Charles carregava, no abdômen, uma marca de nascença. Tinha uma aparência de meia-lua e seria carnuda se Charles não tivesse um físico tão bom.
O Mago passou a mão sobre o machucado de Charles e o vermelhão provocado por ele não estava mais ali.
Enquanto o Mago cuidava de Charles, existia um pensamento que Zachary não conseguia tirar da cabeça: a profecia de Victor.
Agora que descobrira que bruxos experientes realmente tem todos os tipo de poderes, aquela profecia poderia ser de fato real.
- Mago... desses poderes dos bruxos, prever o futuro é um dele? – a pergunta de Zachary pega o Mago de surpresa.
- A visão do futuro é algo incerto, pois o futuro é algo incerto. Existem vários bruxos que possuem o poder das previsões. Conseguem ter vislumbres do futuro em forma de palavras. Existem, de fato, bruxos que podem ver o futuro de forma mais clara que água, mas esse é um poder muito grande que nem eu possuo. O bruxo que carregar esse poder, que também pode ser um fardo, haverá de se dedicar em completa para ele e gasta muito de suas energias. Conheço a história de um, a muitos anos atrás, e escuto sussurros sobre um possível segundo. Mas isso, garotos, não posso confirmar.
O Mago sabe mais do que fala, claro, Zachary pensava.
Charles parecia fascinado pela quantidade de informações que estava obtendo. Zachary, por outro lado, estava assustado. Essa missão seria mais perigosa do que ele pensava, disso não tinha mais dúvida.
- Agora, percebo que é hora de me retirar. É aqui que vocês devem seguir sozinhos. Sem folhas, sem minha presença. – O Mago se afastou dos garotos. – O que posso garantir, crianças, é que vamos nos ver de novo. Podem esperar. – e com um movimento de mãos subiu e logo depois, sumiu no ar.
- Pronto para continuar? – Zachary olhou para Charles.
- Que escolha temos, não é? – E Charles pegou seu arco e sua aljava.

O Filho Perdido - As Crônicas de Ur I Onde histórias criam vida. Descubra agora