V - Zachary

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Sua primeira missão como espadachim havia falhado. Isso era um fardo que Zack tinha que carregar por toda sua vida. Teria de voltar para casa e olhar para Weslley, seu pai, e dizer que tinha falhado.
- Zack, quando você tinha cinco anos, sua mãe morreu. – Começara o Weslley depois da festa de escolha do espadachim. – E ali estava eu, um homem só para dar conta de uma criança que nunca parava. Eu achei que estava perdido. Mas olhei para você. Eu simplesmente parei e olhei para o meu filho. Você era forte...você iria ser alguém. E isso sempre foi motivo suficiente para não desistir.
Zachary olharia nos olhos desse homem e diria que falhou. A filha do rei é malvada e escapou para terras além da floresta, onde as bruxas dominam e algo dizia a Zack que eles iriam voltar...

A volta para casa ia mais calada do que Zachary esperava. Charles, em seu cavalo, parecia repassar cada momento do último dia vivido. Zack fazia o mesmo. Se perguntava se todas as missões seriam assim. Ele, como espadachim, esperava lutar contra piratas ou mercenários e defender a honra do reino e do seu rei, mas ao invés disso estava no possível começo da nova guerra de Ur contra as bruxas.
Tinha acabado de lutar contra uma bruxa que tinha a capacidade de se transformar em animal e ainda não acreditava nisso.
- Ela era uma bruxa poderosa, então, experiente. – Zachary falara para Charles, acabando com o reino de silêncio que a estrada tinha se tornado.
- O que?
- O Mago disse que os bruxos mais experientes, os mais poderosos, que desenvolviam habilidades especiais. Uma delas era a transformação em animal. Luna faz isso.
- Mas ela é da nossa idade, não tem tempo suficiente para ser experiente.
- Eu sei, eu sei. – Zachary continuara a pensar e a viagem prosseguia silenciosa.
- Sabe o que isso tudo me fez lembrar? – Charles começara.
- O que?
- A história do Rei George III, você conhece?
- Claro, é uma das melhores. – Charles estava impressionado, mas não sabia que uma das coisas preferidas de Zack era ler as histórias dos antigos reis. Saber como o reino funcionava antes dele, antes de Roberto II e Richard I.
O Rei George III fora um grande rei que perdera sua sanidade para a magia. Na época, Ur, como todos os outros locais, tinha magia por toda a parte. Inicialmente, não era um problema para George, mas, durante o casamento de sua filha, Jennifer, sofrera um atentado de bruxos. Um marido e uma esposa – o que surpreendera Zachary, que achara que só existiam mulheres com magia. – que se transformavam em animais, atacaram o rei e sua filha durante a cerimônia. O rei só ficara com algumas cicatrizes, porém sua filha foi assassinada na frente do noivo. Nesse dia, o Rei George organizou a maior caçada humana que o reino de Ur já tinha visto. Eventualmente, devido a persistência e a grande recompensa oferecida pela rei, os dois foram encontrados. O rei encomendara uma magia e fez com que os dois ficassem presos em suas formas animais para sempre (um leão, para o rapaz, e uma tigresa, para sua esposa). Os dois foram aprisionados em correntes e ficaram a exposição do lado do trono de George III. O que George não sabia era que sua segunda esposa, Dalila, madrasta de Jennifer, também era bruxa e ficara revoltada com o tratamento que George oferecera a seus companheiros de magia. Dias depois, Dalila assassinou o seu marido, transformou os bruxos-animais em seus guardas pessoais e deu inicio a um reino de terror em Ur. Essa foi a gota d'água para os reis de todo o mundo se reunirem e exilarem a magia, tendo que matar Dalila e seus guardas para que isso acontecesse.

- Eu me pergunto o que aconteceram os bruxos durante a guerra... – pensara Zachary
- Eles continuaram lá, mas essa briga não era deles, era delas. Elas que queriam a magia em todo lugar a todo custo. Os bruxos ainda existem, assim como as bruxas. – Charles mantinha sua visão na estrada enquanto falava.
- George III era louco.
- A grande ameaça à loucura é a insanidade. E foi isso que matou George, sua esposa insana.
- Mas foi isso que acabou com a magia da primeira vez. Essa história deve ser cativada não por mera lembrança, mas como um mantra, entende?
- Sim, claro. – Charles olhara para Zachary. – Pois precisamos de um mais do que nunca.

O Filho Perdido - As Crônicas de Ur I Onde histórias criam vida. Descubra agora