I - CALEIDOSCÓPIO - Alec conta com você

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Há uma sequência agradável de multicores que a luz fornece através do vidro colorido - mas não haverá beleza alguma se você fechar os olhos.

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Ragnor entrou na suíte soltando fogo pelas ventas. Rápido como guepardo, foi direto à janela, espaçando as pesadas cortinas e blackouts que continham a luz do sol de meio-dia. Magnus lembrou-se de ter se virado para o lado da parede, afundando o rosto sonolento no travesseiro de penas de cisne francês - tout le confort, mon amour -, ignorando a presença inquietamente aborrecida de Fell.

Fato que provou-se impossível dois segundos depois. Seu melhor amigo arrancou-lhe o edredom sem dó nem piedade, ocasionando um duro encontro com o chão frio.

- Ragnor...

- Magnus, Magnus! - o homem de cabelos verdes exasperou-se, largando a coberta cara de Bane na cama do mesmo, após enrolá-la num bolo estranho. - Você, por algum acaso, esqueceu-se de que dia é hoje?

Levou um tempo para situar-se. Observou Presidente Miau esticar as patinhas listradas para fora da caminha que ele próprio fizera para si - usando, naturalmente, a camisa de linho favorita do dono. Magnus bocejou preguiçoso, sentando-se no chão de pernas cruzadas.

- Hoje é terça-feira - respondeu ele, esticando os braços nus acima da cabeça. Ragnor franziu o nariz.

- O quanto Catarina o fez beber ontem?

- Ah, meu caro Ragnor! - Magnus começou com um tom condescendente, brincando com os anéis que usava até para dormir. - Há coisas em nossas longas, intermináveis, infinitas existências, que não podemos contabilizar! E bebida de graça é uma delas.

- Você vai morrer de cirrose. - observou com o azedume de um limão.

- Ou não - Magnus sorriu de lado. - Às vezes, me sinto imortal.

Ragnor rolou os olhos. Magnus era tão... Magnus! Por isso preferia Raphael, que parecia estar sempre na mesma sintonia e o levava com seriedade - não que pudesse verbalizar isso sem ouvir insinuações de que ele e Santiago fossem namorados. Namorados! Que absurdo...

Ragnor tossiu contra a mão fechada, dissolvendo tais pensamentos mirabolantes, e empertigou-se, fingindo não notar a curiosidade felina naqueles olhos puxados.

- Catarina te deixou ficar chapado, não deixou? - perguntou retoricamente, logo tendo sua resposta: um leve arquear de sobrancelhas. - Eu sabia! Eu entendo que ela esteja mal com o término com aquele bunda mole, mas francamente! Foi falta de tato. Você tem responsabilidades!

- Okay, repolhinho! - Magnus levantou-se, rindo de Fell. - Não é como se eu tivesse filhos. Não tenho nenhuma responsabilidade; não culpabilize nossa garota.

No entanto, Magnus deixou o sorriso morrer lentamente ao olhar com atenção para as feições enrijecidas dele. Ragnor estava tão terrivelmente tenso, que parecia gritar por socorro, só que para dentro. Por fora, apenas apertava os lábios e dançava o olhar pelo cômodo luxuoso e exagerado demais para um quarto. Magnus soube, então, que devia agir mais como um adulto e menos como um adolescente.

- Ragnor...? - disse, aproximando-se sem fazer movimentos bruscos. Ragnor, por outro lado, precisou sentar na cama, pálido.

GROWING UP ;; malec (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora