IV - CALEIDOSCÓPIO - A primeira confusão

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— Você trouxe o seu material todo? — perguntou Raphael com as mãos nos bolsos, encostado na entrada da escola primária como se fosse o dono dela.

Alec pôs a mochila grande e preta para frente, conferindo tudo rapidamente. Assentiu.

— Sim.

Bueno. E você tem o dinheiro do lanche?

Alec ergueu os olhos.

— Dinheiro do lanche? — repetiu ele. — Bane disse algo sobre eu acordá-lo para pegar, mas...

Raphael apenas fez que sim e se desencostou do muro de tijolinhos vermelhos. Alec observou-o caminhar a passos lentos e calmos... Até pegar um garoto gordinho pelo colarinho e prendê-lo na parede.

— Não me bate, por favor! — disse ele, protegendo o próprio rosto. Santiago rolou os olhos.

— Me dá o dinheiro do lanche, rolha de poço.

O garoto gordinho fez uma preocupante cara de choro, mas nenhuma lágrima caiu quando ele enfiou a mão no bolso de trás e tirou de lá um pequeno bolinho de dinheiro cuidadosamente amarrado por um elástico.

Raphael sorriu, exibindo seus caninos sobressalentes.

— Ora, ora — liberou sua vítima tirou o elástico, jogando-o no chão. Contou rapidamente. — Eu devia voltar a ser valentão. Isso dá dinheiro.

Quando o porteiro finalmente percebeu o que acontecia e gritou "Ei!", Raphael já tinha colocado cinco dólares na palma de Alec e enfiado o restante no próprio bolso.

— Que horas sairá?

— Às duas.

— Oh, — disse Raphael, subindo em sua moto possante. Colocou o capacete preto e acenou, girando o pulso no acelerador. — Virei te buscar, muchacho.

Então ele se foi, voando no asfalto com desenvoltura quando o senhor do portão chegou correndo, ameaçando ligar para a polícia.

Alec olhou para o outro menino, que se encolheu instintivamente.

— Sou Alec Herondale — sorriu. — E isto é seu. Me desculpe.

O garoto gordinho arqueou uma sobrancelha dourada ao recuperar os cinco dólares, esticando os ombros ao perceber o que tinha acabado de acontecer.

— Sou Jace — disse, com um pé atrás. — Jace Wayland.

**

A Escola Primária Idris era grande e limpa demais para uma escola de ensino fundamental. Por onde quer que Alec olhasse, não havia uma poeirinha nos corredores. Os professores pareciam rígidos e sérios, e a não ser na hora do recreio, as crianças eram bem tranquilas.

Claro, havia exceções. E Jace era uma delas.

Durante a aula de matemática, Jace ocupou o lugar vago ao lado de Alec no fundo da sala, onde ninguém gostava de sentar. Era distante do quadro e da professora, mas contrariamente ao que Alec pensara, Jace o convenceu de que não ter supervisão alguma era a melhor coisa.

— É, tipo os chefes do pedaço — sussurrou Wayland conspiratório, quando Alec lhe perguntara se ele tinha certeza em abandonar seu lugar no meio para juntar-se consigo no fundão. — Aqui não há leis. É como o faroeste.

O Herondale pensou seriamente em dizer que eles não estavam no faroeste, mas pressentiu que seria esse seria apenas um comentário inútil aos ouvidos do menino loiro. Além disso, demorou algum tempo para fazê-lo falar consigo e não queria que ele desistisse da ideia de ser seu amigo.

GROWING UP ;; malec (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora