III - CALEIDOSCÓPIO - Reunião

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Três dias.

Alec só estava em sua vida somente há três dias e Magnus sequer se parecia com um ser humano. Noite após noite, ele manteve o olhar fixo no teto, perguntando-se como e por que acabara expulso da própria cama.

Suspirou, rolando desconfortável no colchonete.

— Apague a luz, Alec.

— Estou lendo — essa era a resposta para tudo. Magnus não tinha alternativas nem paciência. Se o menino quisesse roubar sua cama para si e perturbar seu precioso sono, oras! Quem era Magnus para discordar?

Bem. Ele era o adulto dali.

Não que isso fosse algo que se diga "Oh, que extraordinário!" — porque não era. Alec dava tanto medo em Magnus quanto o tirava do sério. Mas, em teoria, a mínima coisa que Bane deveria fazer era impor algum respeito.

Certo?

— Eu juro por deus que vou tacar esse livro pela janela, Alexander — silvou como um gato selvagem. Alec rolou os olhos fora do seu alcance de visão.

— Você não é religioso.

— APAGUE. A. LUZ.

Alec apagou. Magnus finalmente pôde relaxar a cabeça em seus travesseiros de pena de cisne, bagunçando os lençóis amarelos com os pés ao se deitar de bruços, sorrindo com a paz da serenidade de uma querida noite de son-

A luz se acendeu outra vez.

— Alec.

— Eu esqueci de organizar minhas coisas para amanhã — o Herondale pulou da king size, sem se importar por aterrissar nas costas do tutor, que arfou sem ar. — É rápido, Bane.

Ah, Bane. Desde que Jem e Tessa vieram visitar o novo morador do apartamento, Alexander passara a chamar Magnus somente de Bane e agia de forma arrogante e fria com ele, como se o mais velho não devesse estar ali. O que era um absurdo, claro, e Magnus mordeu a língua para perguntar se Alec não o queria chamar de sangue-ruim. Mas aqueles paspalhões do Carstairs e Gray acharam o caçula de Will tão fantasticamente adorável, que qualquer palavra dita por Magnus teria sido prontamente ignorada.

Adote ele, então — ele dissera bem alto. Mas ninguém deu bola. De qualquer forma, o menino acabaria morrendo de fome. Jem era professor de filosofia e Tessa... Bem, Tessa fazia alguma coisa.

Só os gatos lhe deram atenção. E mesmo assim, Church abanou o rabo espesso para Jem quando este o chamara para afagar suas orelhas.

Os traidores estavam por todos os lados.

Alec enfiava cadernos novinhos na mochila preta sóbria que ele mesmo selecionara na papelaria, na tarde anterior. Magnus nunca viu um menino de oito ou nove anos desprezar os temas de heróis, nem pedir mais canetas do que lápis. Mas estava tudo bem. Por fazer escolhas mais maduras, Alec acabou lhe saindo muito mais barato do que as criancinhas pirracentas que encontraram quando deixaram a loja.

Ao fechar o zíper da mochila, Alec pareceu perdido por alguns segundos, passando os olhos azuis ao redor como lanternas de polícia.

Magnus suspirou, sentando. Os cabelos castanhos sem laquê estavam para o alto de um jeito nada charmoso.

— Seu uniforme está na área de serviço — informou. O menino cruzou os braços.

— Pega pra mim.

— Alexander. Eu não vou pegar. Você sabe onde fica.

Alec olhou para a porta e hesitou. Estava aberta e do lado de fora, a escuridão engolia o corredor.

GROWING UP ;; malec (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora