ú l t i m o

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Caindo. Eu sempre estava caindo.

E eu cai mais uma vez. Cai para fora de mim. Cai para fora de quem eu era.

Quem eu era? Um louco qualquer, você pode me reconhecer pelas ruas... Eu era aquele que perambulava sem rumo. Eu tinha amigos, eles, talvez, não me tivessem.

Eu era ausente, distraído... Vivia em um mundo só meu, o qual não partilhava com ninguém.

Eu tinha uma família, eles me tinham também... Para eles, não importava quão ausente eu fosse, sempre estava lá. Meu lugar na mesa estava sempre reservado, meu quarto, minhas coisas... Tudo naquela casa denunciava a minha existência.

Por mais patético que eu fosse, existia. E, mesmo agora, mesmo depois de morto, mesmo depois de ter mergulhado de cabeça em um mundo igual aquele que criei, ainda existo. Existo nos pensamentos de quem deixei para trás, nos corações de quem sempre estava ali, na vida de quem me viu crescer...

Então, apenas meu corpo se foi. Continuo aqui!

Eu morava bem ali. Entre dois pequenos prédios sem pintura, fedendo a bebida e culpa. Mas eu morava bem ali.

Rua Sete, número quarenta e seis, até ontem.


FIM

Obrigada a todos por lerem mais um dos meus contos microscópicos.

Vocês são incríveis!

Não sei se haverão outros contos, mas, se eu postar, vocês irão saber.

Obrigada, mais uma vez.

Com amor, S. S. Missing.

Uma Doce Morte Na Rua SeteOnde histórias criam vida. Descubra agora