d o i s

3.9K 755 139
                                    

Ah, eu lembro bem da Catherine, o modo como ela prendia os cabelos pintados de azul de uma forma desgrenhada. Haviam pontas para todos os lados, saindo daquele ninho azul que ela chamava de "coque" e se enroscando na base de suas orelhas rosadas.

Eu queria ser o passarinho que, eternamente, se aninharia àquele ninho.

Mas, Rine era bela de mais para mim, esperta de mais para mim, popular de mais para mim, legal de mais para mim, amiga de mais para mim, perfeita... em todos os sentidos... E isso não é para mim.

Eu costumava ser o garoto esquecido pelos cantos. Rine talvez fosse a única me procurando. Mas isso só prova que ninguém mais me esperava.

Caindo. Eu estava sempre caindo. Então não acho que minha doce morte fora uma tragédia. Eu só cai mais uma vez. Apenas isso.

Dessa vez, então, Rine não pode me achar. Não sou um fantasma que vai aparecer em seu espelho enquanto ela estiver tentando prender a massa azul em sua cabeça. Sou o fantasma que ela procura em um túmulo e nunca encontra. Pois, com certeza, só o que há lá, no túmulo, é o corpo que eu costumava habitar.

Eu estou bem longe, agora. Longe de mais para ser visto, tocado, ouvido, procurado.

Mas alguém, um dia, qualquer dia, alguém me encontrará. E, talvez, eu não seja mais um grande fracasso abandonado.

Uma Doce Morte Na Rua SeteOnde histórias criam vida. Descubra agora