As Palavras Mágicas

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Meu coração pulava no peito junto com o carro a cada vez que passava por uma pedra ou um buraco na estrada de terra em direção a vinícola.

“Você tem certeza do que está fazendo?” meu pai estacionou o carro e perguntou sorrindo para mim, o João Pedro era como um filho para ele era impressionante ver a satisfação e o orgulho no olhar do pai, toda vez em que o J.P. entrava pela porta de casa e o cumprimentava como se fosse seu melhor amigo.

O meu desespero em estar presa nos braços do J.P. era tanto que só pude sorrir e sair correndo do carro, a cada vez que eu tocava a campainha era como se o tempo tivesse parado, não me lembro que horas eram, mas o que importava?

Quando a mãe de João Pedro abriu a porta alarmada, sorriu ao me ver como se fosse o sol em meio a tempestade. “Maria Eduarda, você voltou!”, exclamou ela sorridente, as bochechas naturalmente avermelhadas como as do filho, se levantaram a deixando mais linda do já era.

“O João está?” ao dizer seu nome meu coração se sentiu cheio, é como se eu tivesse acabado de descobrir que o perdão não é apenas uma decisão, pois temos que senti-lo dentro de nós, e eu senti. “Ele está na biblioteca”, a mãe do meu namorado apontou com a cabeça para o andar de cima, onde fica a biblioteca da casa, ah o João Pedro gostava tanto daquela biblioteca.

Como uma atleta corri pelas escadas, tropecei algumas vezes pelos degraus, mas isso não era nada pois depois deles estava o meu amor.

Eu bati de leve e coloquei a orelha na porta para escutar qualquer sinal de resmungo que o J.P. pudesse dar. “Entra”, ele disse em alto e bom som, com a voz rouca e meio chorona, ah aquela voz...

Assim que fecho a porta atrás de mim, os olhos do João Pedro passeiam pela bela biblioteca até a porta, observo com cuidado seus olhos vermelhos e seu rosto lindo, agora pálido, meu coração se aperta ao ver o quanto ele se arrepende. Ali, bem naquele momento eu finalmente descobri que o amava, em nenhum outro pensei nesta possibilidade, mas ali com seus olhos cravados nos meus, eles diziam exatamente a linguagem do amor.

Incrível como nunca juramos amor um para o outro, até aquele dia, sendo que desde o começo estivesse bem claro que nos amávamos.

“Madu, o que você está fazendo aqui?” ele parecia tão assustado, suas roupas estavam amassadas e o seu cabelo molhado com cheirinho de banho recém-tomado. “Não venha me dizer palavras feias, eu já me sinto como todas elas”, até em suas dores o meu amor as transformava em poesia.

“Não João, eu só preciso que aceite o meu perdão, e que me perdoe também, eu odeio brigar...” seus olhos se iluminaram com as minhas palavras, como se elas fossem a maior surpresa do mundo. “Você está me perdoando? De verdade?” o João Pedro se aproximou de mim e como eu, não fazia ideia do que fazer com as mãos.

“Eu amo você Madu, e se disser que não me quer mais, eu realmente não saberei o que fazer da minha vida, porque descobri que você é ela”. Essa foi a primeira vez que eu o vi chorar, e foi a milésima vez que ele me viu chorar. E você ouviu bem? Ele disse que me ama. ME AMA!

Eu não vi mais nada depois de suas palavras, e o que eu poderia responder? Um beijo deixou tudo muito claro, eram as minhas cartas na mesa, eu estava ali pronta para o que viria.

“Preciso falar com o seu pai”, declarou J.P. “ele me trouxe, deve estar por aqui ainda”, minha resposta é o suficiente para que ele me puxe escadas a baixo.

O meu pai estava na sala de visitas com a mãe do João Pedro tomando uma xícara de chá.

“E então?” meu pai perguntou, mas antes que eu pudesse responder, meu amor se pôs a minha frente, “senhor meu sogro”, disse fazendo meu pai rir, “me concederia a mão de sua filha?” o que? Eu estava descrente de suas palavras, ele não poderia estar falando sério.

“Ora, mas isso quem tem que responder é a Madu”, meu pai sempre risonho e sempre com razão, apontou para mim, fazendo João Pedro se virar e se ajoelhar na minha frente, sua mãe já estava em meio as lágrimas.

“Eu estava preparando um textinho para alimentar as minhas esperanças de que um dia você voltaria, só que agora com você olhando para mim com esses olhos cor de avelã, me deixou nervoso e acabei até mesmo esquecendo quem eu sou...” de todas as vezes que o João Pedro me disse coisas bonitas, nenhuma foi parecida com essas, nenhuma me fez chorar tanto. “Eu me tornaria o homem mais feliz do mundo se você... Maria Eduarda Baccile cassasse comigo. E então... aceita?” Minha cabeça fez que sim tantas vezes que ate até hoje eu não entendo como eu consegui não quebrei o pescoço.

A partir daquele dia eu entendi o verdadeiro sentido de amar, não é apenas estar junto em todos os dias de sol, mas principalmente sair de um tornado e querer reerguer o que sobrou da destruição. Eu estava reconstruindo a minha vida ao lado do João Pedro, e não lamento nenhum segundo disso, ao contrário, depois que tudo se transforma em ruína as lembranças boas são sua única motivação para seguir em frente.

Deixa Que Eu Te ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora