Candace 18/07/2040
Agora tenho apenas dois quartos de cabelo, caindo de forma irregular sobre meus ombros.
A fome é um alarme constante ressoando em minha mente, meu corpo protesta em não continuar, mas é melhor não se dar ao luxo de descansar quando um psicótico aleatório está te perseguindo. Psicóticos aleatórios... Aparentemente o único tipo de cara com que tive algum tipo de relacionamento.
Três horas se passaram desde que deixei a região da floresta, agora me encontro em um vilarejo pequeno, cercado de mercadores vendendo todo tipo de coisa que se possa imaginar. Resolvo me aproximar de uma das barraquinhas que vendem peixe grelhado, compro um por cerca de duas moedas de prata e dou meu melhor sorriso ao vendedor, o que aparentemente o assusta um pouco. Decido permanecer no vilarejo por ao menos dois dias, pois o lugar desvia completamente da rota que eu seguiria e duvido que ele vá me rastrear até aqui.
Chego a uma pousada de madeira rústica na qual decido passar a noite. O lugar é tranquilo e aparentemente todos os outros hóspedes estão dormindo. Aproximo-me da senhora que está atrás do balcão e peço por um quarto.
A senhora me olha de uma forma estranha e me conduz até a escadaria, abro a porta e olho para trás para agradecê-la, mas ela já partiu.
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Minhas tentativas de adormecer são falhas.
Não consigo parar de pensar no fracasso da missão. Como se não bastasse o número de pessoas que já procura por mim, agora terei de me preocupar com um empregador insatisfeito com falta de resultados.
Não costumo saber a real motivação das pessoas que me contratam, apenas faço meu trabalho, pego a grana e desapareço. A maioria dos serviços é conseguir algum tipo de informação, nunca me envolvi em casos que de alguma forma machucassem alguém diretamente. Sou conhecida pela minha habilidade de disfarce e espionagem, uma mercenária medrosa demais para fazer o trabalho sujo. Sempre mantenho uma posição neutra em relação aos casos, mas devo admitir que aceitar a missão para acabar com Eugene e sua corja, foi bem mais que uma missão em busca de dinheiro, devido à minha história, isso tornou-se imperativo.
Checo o restante de meus suprimentos na bolsa de couro agora largada no canto do cômodo mofado - três facas pederneira, dois vidrinhos cheios de acâmideria e uma aljava de flechas sem o arco correspondente. Resistiria a um confronto com aquele sujeito que estava me procurando, mas não teria nenhuma chance contra mais de um oponente.
Não tinha prestado atenção suficiente ao local em que estou acomodada. É bem simples, com pisos de madeira, iluminação ruim, que se deve a apenas dois abajures em funcionamento e um papel de parede com flores demais. Aproximo-me do espelho em uma das cômodas e pego uma de minhas facas, vislumbro brevemente a quantidade de cabelo que me restou e corto o resto de forma a deixar o comprimento na altura do queixo. O resultado me surpreende, consegui fazer um bom trabalho apesar de deixar fios com comprimento maior na frente.
Apago as luzes e deito na cama fazendo uma lista mental de rotas de fuga que não me levem à ruína.
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Filhos do caos
Science FictionFogísia o país de origem de Candace, é atacado e se vê obrigado a tornar-se uma colônia de Emperius. Ela nasce em meio à guerra, e vê o mundo que conhece desabar diante de seus olhos. Ainda criança é sequestrada e levada a Emperius para viver como u...