Capítulo 3

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DRAKE

Estava muito enganado quando pensei que o mais estranho que poderia me acontecer era o desejo de salvar a vida de uma humana, colocando-a num grau de importância mais elevado do que jamais poderia imaginar colocar alguém em tão pouco tempo. O mais estranho foi perceber que eu estava deliberadamente aceitando tudo o que ela insistia, inclusive me convencer a passar parte do dia na forma que eu mais detestava: um humano.

Selene foi até a vila mais próxima e acompanhei cada passo dela com a minha audição. Ela não demorou a voltar trazendo algumas coisas para mim e foi quando eu percebi que, além de ter de me locomover apenas com duas pernas, humanos usam roupas. Nunca pensei que roupas incomodassem tanto! Vai demorar muito para me acostumar com isso. Fiquei um bom tempo reclamando e puxando as vestimentas para longe do corpo, procurando incansavelmente uma maneira de me sentir mais confortável. Não obtive muito sucesso...

— Por que eu tenho que ficar nessa forma? Quero dizer, porque tenho que ficar assim se não há humanos por perto? – Perguntei escondendo o quão incomodado eu estava.

Ela respondeu com perspicácia. 

— Porque, em primeiro lugar, você precisa se acostumar com essa forma. Em segundo lugar, precisamos passar por perto de uma vila nesse caminho, se as pessoas te virem como dragão, certamente ficarão apavoradas e vão tentar de atacar, mas como você está machucado, não será fácil fugir.

Além disso, ela provavelmente deve se sentir um pouco solitária, pensei.

— Certo. Tem razão. Mas assim vai demorar mais para me recuperar. O corpo humano é muito inútil e lerdo. 

— Vou tentar não ficar ofendida com isso. – Ela falou em tom divertido.

Droga, reclamar deles é tão automático que se não tomar cuidado, vou acabar ofendendo-a de verdade. E Selene é tão diferente do que eu penso sobre humanos que até esqueço que estou falando com um deles...

— Desculpe, é só que...

— Antigos hábitos são difíceis de serem quebrados, não é?

— Suponho que sim...

— Ainda está doendo muito?

— Nem tanto. Melhorei bastante durante a noite, mas poderia estar melhor...

Poderia ter completado a frase com o quanto que era melhor se estivesse andando sobre quatro patas, mas achei melhor ficar quieto. Reclamar não levaria a nada. Mesmo assim, acho que ela entendeu as palavras não proferidas, pois olhou pra mim levantando a sobrancelha como se soubesse exatamente o que eu diria se continuasse.

Resolvi cortar o breve silêncio, mas ela foi mais rápida.

— Então, eu falei muito ontem, por que não fala alguma coisa sobre você?

— Sobre mim? Não tenho nada pra falar de mim...

— Como não? Você tinha uma vida, não é? Como é ser um dragão? O que você estava fazendo quando foi capturado? Para onde estava indo?

Quantas perguntas! Ela gostava mesmo de conversar, seria algo de humanos ou de fêmeas? Ou talvez apenas dela? Imagino que Selene se sentia mesmo sozinha e queria conversar, afinal, depois de perder tanta gente, talvez precisasse se distrair. Dei de ombros pensando em como responderia sem falar o que não devia.

— Ser dragão é ótimo. Menos quando estamos sendo caçados, claro. Todo o céu é meu território. Voar é maravilhoso. E era isso o que eu estava fazendo antes, voando sem rumo. Só que foi baixo demais.

Selene e o Dragão {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora