Capítulo 8

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DRAKE

Um dos maiores problemas do corpo humano é que ele dói. Quer dizer, não necessariamente doer, mas os músculos ficam tensos de um jeito que não acontece quando sou dragão. A magia que flui pelas minhas veias previne esse tipo de coisa na maioria das vezes. Me sinto enfraquecido quando estou sobre duas pernas.

Acordei tentando me mexer devagar, alongando e relaxando. Eu não pretendia dormir à noite, muito menos assim. Só que foi estranhamente inevitável, ainda mais porque acordei encharcado. Sempre acordo quando chove, o barulho da chuva é agradável, porém alto demais para me deixar dormir, exceto quando eu "desligo" a audição. Ficar molhado nunca foi um problema pra mim, é até bom para as escamas, só que as roupas, que já incomodam quando secas, são piores ao adicionar água. Porcaria de tecido grudento...

Levantei irritado e tentei me secar, sem sucesso. Ajustando os olhos à luminosidade importuna do Sol, virei para o lado para chamar Selene, mas ela não estava lá. Por um momento, fiquei com medo de que ela pudesse ter me feito dormir e fugido como fez com o caçador, então, eu vi a bolsa dela. Ela não iria sem isso. Então, onde estaria?

Peguei a sacola e coloquei sobre o ombro como ela faz e prestei atenção em tudo o que estava a minha volta. Vários pássaros cantavam e voavam ao longe, grupos de animais pequenos, talvez coelhos e esquilos roendo alguma refeição pela floresta... Então, o barulho de uma respiração pesada, seria dela? Foquei ainda mais na origem dele, batidas lentas de um coração acompanhavam o ar entrando e saindo. Era um som reconfortante, trazia segurança.

Segui o som sem hesitar até finalmente encontrar Selene dormindo, encostada numa árvore de um jeito que não parecia muito confortável.

Só notei que havia algo errado quando cheguei perto e abaixei para ficar no mesmo nível dela.

— Selene, acorde. O que aconteceu? Você está bem? Acorde...

Ela abriu os olhos devagar e virou o olhar pra mim, sua expressão não parecia nada saudável, mal conseguia deixar os olhos abertos. Como eu, ela também estava ensopada pela chuva.

— Estou... Desculpa, eu... – Selene começou com uma voz seca e rouca, mas parou ao tossir. – Eu saí e acabei dormindo...

Peguei a mão dela e a ajudei a levantar. Ela cambaleou e teria caído ao tropeçar nos próprios pés, se eu não tivesse segurado a tempo, deixando que ela se apoiasse em mim. Achei estranho que a pele dela estava quente, e, para averiguar se ela estava toda assim ou se era impressão minha, toquei de leve em seu rosto. Não havia dúvidas, algo estava errado com Selene, sua temperatura não estava normal. Segurando o meu pulso, ela tirou minha mão de perto.

— Está tudo bem. Eu só quero ficar aqui... Vá embora...

Suas palavras carregavam muita dor, não do tipo física, mas do tipo que esmaga o coração como uma nuvem negra.

— De jeito nenhum.

Contra sua vontade, segurei-a nos braços, ainda bem que eu estava quase completamente curado, não seria bom forçar a asa, ou poderia não conseguir mais voar. Para mim, ela não era pesada, no entanto, não poderia ficar segurando-a o tempo todo. Eu precisava ajudá-la, mas como?

Eu não sabia o que ela tinha, o que estava errado, portanto, não sabia o que poderia ser feito para curá-la... Nem se era possível. E ela obviamente não iria conseguir me dizer o que fazer.

Preocupado, eu sabia que ela precisava de ajuda da sua espécie, e eu precisava encontrar alguém! Seguindo os sons que eu conseguia escutar, andei bastante até finalmente me deparar com um vilarejo. Então, hesitei. Eu teria de falar com um humano. Além disso, será que alguém ajudaria? O que pediriam em troca? Eu faria qualquer coisa, mas seria o suficiente? O que poderiam fazer? Tudo o que sabia sobre humanos era que adoravam matar dragões, sempre acreditei que eles não podiam ser capazes de demonstrar bondade ou compaixão. Claro, Selene me mostrou que não eram todos assim, que ainda havia esperança para essa espécie tão odiável. Mas, teria mais gente assim?

Selene e o Dragão {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora