Moisés - O jovem sem compromisso

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Naquela manhã o culto estava cheio de gente. As pessoas cantavam com as mãos erguidas, louvando com intensidade e fé.

"Segura nas mãos de Deus! Segura nas mãos de Deus!"

Moisés era filho do pastor daquela igreja, mas não parecia muito interessado no que acontecia à sua volta. Ele bufava, resmungava e evitava até mesmo entoar as canções. Ergueu uma mão em completa má vontade e batia os pés impacientemente no assoalho.

"Segura nas mãos de Deus! Segura nas mãos de Deus!"

O culto acabou depois do que pareceu uma eternidade para o garoto, que saiu correndo em disparada para falar com seus amigos.

- Querido, o nosso filho é uma benção! - A mãe de Moisés exclamou orgulhosa para o marido que a acompanhava de volta para casa. - Passou o dia evangelizando e a uma hora essas deve estar na igreja.

- Não foi a toa que colocamos o nome de Moisés! - Exclamou o pai, sem conter seu contentamento.

De repente uma bola de futebol acerta as pernas do homem, que vira-se abruptamente e depara-se com seu filho junto a um grupo de garotos que jogava futebol animadamente.

- Moisés!! - Pai e mãe gritam ao mesmo tempo, sem acreditar no que estão vendo.

A mulher agarra o braço do marido, pois ele tenta avançar sobre o menino que pega a bola e esconde debaixo do braço.

- Me solta que eu tenho paciência! - O pastor grita para esposa indignado, empurrando-a para longe. - Vem aqui, moleque!

O garoto vem ao encontro do pai com um andar folgado, cheio dos trejeitos.

- O que você está fazendo com esse ovo do Capeta na mão, seu infeliz? - O pastor arranca a bola de futebol do garoto e bate com ela na cabeça do menino. - Segura isso, bem!

O homem joga a bola para a esposa que a segura e começa a brincar, quicando-a para cima e para baixo, enquanto o marido reclama com o filho.

- E esse cabelo? - O pastor aponta para o cabelo do menino que está completamente duro por causa do excesso de gel, e modelado com várias mechas pontiagudas espalhadas pela cabeça do menino. - O que significa isso?

- É a moda, pai! - O garoto ginga o corpo de um lado para o outro fazendo uma dancinha estranha.

- Moda? - O pastor pergunta já irritado. - Crente não tem... Moda! - Ele rebate e acerta um tapa na nuca do garoto que geme e tenta se esquivar sem sucesso.

- Que é aquele moleque? - O homem fala entredentes enquanto observa dos amigos de Moisés que estão um pouco atrás deles.

O garoto chega perto da família de Moisés fazendo uns movimentos de braço e trocando as pernas num passinho esquisito.

- E aí, tio? - Ele fala. - Firmeza? Eu sou o Geléia! Toca aí! - Ele oferece a mão num cumprimento para o pai de Moisés.

- Tio? - O pastor responde e dá um tapa na mão do garoto que sai correndo assustado. - Tá repreendido em nome de Jesus! Fora!

- E aqueles dois moleques? - O pai segura Moisés pela camisa enquanto pergunta e o menino se encolhe. - Quem...

- Prazer! Prazer! - Um dos garotos interrompe. - Meu nome é Ramelão! Valeu, hein!

- E aí, tio?! - O terceiro menino se manifesta. - Eu sou o Zoreia! Tudo bem?

Enquanto Zoreia fala, Geléia fica cutucando a orelha do amigo que é um pouco pronunciada em relação ao tamanho de sua cabeça.

- Ramelão? Zoreia? - O pai de Moisés não acredita no que está ouvindo. - Isso é nome de amigo de filho de crente?

O menino começa a chorar.

O Jardim do Inimigo - CIA NISSIOnde histórias criam vida. Descubra agora