Amor

A moral das hipócritas

Portas trancadas e janelas fechadas, tenho vivido num quarto escuro,
Sem ter como sair, e sempre a vista dos olhares e bocas do povão,
Escuto vozes sussurrando, e entre todos os sussurros, escuto o meu nome,
Elas falam o que elas pensam que sabem sobre mim.

Se ando para direita, imediatamente escuto comentários
Sobre a minha escolha, o mesmo vale se ando para a esquerda,
Para cima e para baixo, tentando não subir pelas paredes
E soltar a fera que há muito mantenho trancada no meu interior.

As poucas vezes que tentei forçar uma porta ou janela, foram levantadas
Acusações de que eu não valia nada, que meu espírito era sujo
E minha alma estava corrompida; até quando vou ter que escutar isso?
Meus planos ficam tão somente frustrados no mundo das idéias.

Uma vez um pássaro pousou na beirada da janela, seu canto ela lindo,
Livre e puro, as vezes ainda escuto seu assobio pelo quarto;
Na primeira vez que ouvi aquele ser irradiar felicidade, ouvi as vozes
Falarem que aquilo era um pássaro, e logo depois houve uma enchurrada de comentários maldosos.

Meu coração tem estado tão triste, meu espírito anda abatido,
A minha essência não tem mais vigor, e meu mundo está sem cor;
Um dia pensei que o mundo era bom, que as pessoas que o habitavam
Eram verdadeiras e generosa e que todos se respeitavam.

Hoje estou cercada de intolerância, não posso si quer pensar em opinar,
Porque os que falaram foram calados, os que viram foram cegados,
E os que sentiram foram mortos por reconhecerem algo que ninguém
Podia ver, por terem tido o vislumbre do esplendor.

Bando de hipócritas! Algum dia eu escapo desse quarto escuro,
E liberto alguns se seus reféns! Víboras! Seu corpo asqueroso e sua língua afiada me enojam!
Não é porque as portas e janelas me prendem que não posso ver a luz!
Algum dia hei de ver esse quarto em chamas, e então o último mal terá caído por terra!

Eu só quero estar em algum lugar vazio, bem longe daqui,
Longe dos olhares que me cercam, distante de qualquer julgamento,
Onde vou poder ser livre, e ser quem eu sou, sem mais amarras;
Algum dia todos nós seremos livres.