Capítulo 1

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Mais um dia. Mais uma semana. Mais um mês. Mais um ano.

Na verdade, já nem faz diferença. Agarrada a uma cama de hospital não existe muita coisa que se possa fazer. Tinha de acreditar que estava no fim e que já não havia nada a fazer, naquele momento só podia agradecer pelos bons momentos que tinha vivido com as pessoas que mais amava.

-Mãe, como é que te sentes?- perguntou uma voz feminina, aveludada e carinhosa.

- Querida, estou bem- na verdade, não estava, aquilo era só uma resposta automática para tranquilizar a minha filha.

1 ano antes...

- Querido acorda tens de ir levar a Sofia à escola!- dizia ao meu marido enquanto ele ainda estava a acordar.

- Dá primeiro um beijo ao teu marido!- pediu-me sorrindo, éramos como gémeos, duas metades que se completavam, preto e branco, céu e terra.

Tinhamos tudo o que podíamos desejar, uma filha linda com os seus catorze anos que claramente herdara os olhos verdes do pai e o meu cabelo encaracolado castanho-claro tal como todas as qualidades do pai inteligente, simpática, forte e otimista, uma casa grande como sempre quisemos com piscina e agora aguardávamos a vinda de um um novo ser, que neste momento não pára de dar pontapés.

Beijámo-nos. Não porque ele tinha pedido, mas sim como uma forma de demonstrar o que sentia por ele, e a felicidade que ele me dava.

- Já estou a ficar atrasada para a consulta, não vou poder levar a Sofia. Importas-te de a levar?

-Claro que a levo, eu hoje entro mais tarde e tudo, não há problema.- respondeu o homem mais importante da minha vida.

Apenas lhe pude sorrir, e agradecer a Deus por me ter dado um marido tão bom.

Antes de sair, dei um beijinho à minha filhota. Apesar de ter catorze anos, ela iria ser sempre a minha bebé.

-Bom dia, mãe.- disse.

- Bom dia, filha. Olha hoje é o pai que te vai levar à escola porque eu já estou atrasada para a consulta.

- É hoje que vamos saber se é menino ou menina?- perguntou-me super entusiasmada.

- Esperemos que sim, se ele não se esconder- sorri-lhe, a minha filha estava excitadissima por ter um irmão ou irmã, passava a vida a queixar-se de ser filha única.

- Está bem.- respondeu enquanto se levantava da cama e escolhia a roupa.

Uma vida de porquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora