Capítulo 12

20 2 0
                                    

Aquilo era uma piada, certo?

- Uma caixa de copos, uau, era mesmo disso que eu precisava- disse o mais sarcasticamente possível.

- O sarcasmo não te assenta nada bem.

Mas por corra santo é que ele me ofereceu uma caixa de copos?

- Então, gostaste?- o Diogo perguntou super entusiasmado.

- Diogo, a sério. Qual é o motivo de me ofereceres isto?

Assim que ele ouviu aquela pergunta, o Diogo entrou dentro de casa e fez com que eu recuasse até à parede mais próxima, e continuou a aproximar-se de mim, colocou os dois braços encostados à parede não me deixando qualquer hipótese para escapar dele.

-Senti-me culpado por teres partido um copo enquanto te beijava, não sabia se tinha sido a perícia do meu beijo ou simplesmente a minha presença, então pensei que sempre que me quiseres beijar basta vires ao pé de mim e porque não partires um desses copos.

Ele falou a sussurrar ao meu ouvido, a voz rouca e sensual a vibrar junto aos meus tímpanos, a respiração quente dele na parte lateral do meu pescoço, o corpo dele encostado ao meu, fazendo com que a minha temperatura corporal aumentasse muito rapidamente. Eu já não estava a pensar em condições e quando ele fixou o olhar dele no meu não veio ajudar toda aquela situação.

-Apetece-te partir algum copo?- ele perguntou-me de uma forma bem perversa, claramente referindo-se a tudo menos a um copo.

Eu não sei o que aconteceu, eu estava a tremer por tudo o que era lado e parecia que a minha consciência de repente lembrou-se de tirar umas férias repentinas.

Só saí daquele estado de transe quando ouvi o som dos copos a partirem-se no chão.

O Diogo olhou para mim e sorriu.

-Não sabia que estavas assim tão desejosa de me beijar.

Antes que eu pudesse processar nem que fosse a primeira palavra daquela frase, ele pegou na minha cabeça e beijou-me, o beijo começou suave até se começar a intensificar.

Eu estava completamente derretida naquele beijo, não era possível de forma alguma parar o que estava a acontecer, mesmo que eu quisesse, algo que eu definitivamente não queria.

Ele continuou a agarrar a minha cara e puxou-me mais para si, e libertou uma das suas mãos para poder pô-la ao fundo das minhas costas e intensificar a pressão dos nossos corpos, que se encaixavam perfeitamente um no outro.

Aquilo estava a evoluir para algo bem maior do que um beijo, quando a Maria acorda de todo o ambiente desorganizado de quem esteve a estudar até bastante tarde e apanhou-nos em flagrante naquele contato íntimo entre as nossas bocas.

-O que raio é que se está a passar aqui, mesmo à minha frente?-os olhos dela estavam super arregalados e a sua expressão era quase de terror.

Assim que a ouvimos, afastámo-nos logo de caminho, mas já era tarde ela já tinha visto o que tinha acontecido, situação essa que não era difícil de imaginar tendo em conta que ainda estávamos com o batimento cardíaco acelerado, os nossos peitos a arfar devido à intensidade do momento e às nossas faces coradas ao percebermos que tínhamos sido apanhados, senti-me tal como um miúdo que é apanhado pelo vizinho a roubar as maçãs dele.

Nenhum de nós reagiu àquela interrogação.

- O gato comeu-vos a língua? Será que alguém pode explicar-me o que acabou de acontecer?- insistiu a Maria.

- Sabes, Maria, é que bem, eu sabes, eu entrei para um clube de teatro. E então a minha personagem vai ter que beijar outra pessoa e eu estava a sentir-me um bocado inseguro, então vim aqui ter contigo perguntar-te se podia praticar contigo, mas a Bárbara veio abrir a porta e disse-me que tu estavas a dormir, por isso pratiquei com ela a "cena do beijo" foi só isso.- o Diogo gaguejou tanto, que eu duvidava que a Maria estivesse a acreditar numa palavra que fosse.

-Hahahaha!- ela ria-se à gargalhada- espera, tu entraste num clube de teatro?- perguntou a Maria bastante surpreendida.

-S-sim.-ele olhou para mim nenhum de nós estava a perceber a razão daquela risada.

-Porque é que não me contaste?

-Porque já sabia que ias começar a gozar comigo.-ele desculpou-se.

-Pronto, desculpa-disse ainda rindo um bocado- é que nunca pensei, é só isso. Então o que é que estes vidros todos estão a fazer no chão? Também fazem parte da "cena"?- ela falou aquilo de uma forma bastante desconfiada, ela não tinha ido na história do "clube de teatro".

- O Diogo ofereceu-nos a nós uma caixa de copos, porque ele disse que tinha bastantes em casa e não sabia aonde havia de pô-los, foi muito simpático da parte dele. O problema é que eu sou tão distraída que tropecei nos meus próprios pés e deixei cair a caixa e eles partiram-se todos.- eu estava a morrer por dentro, eu detestava mentir à minha melhor amiga, mas era mesmo necessário, não lhe podia dizer a verdadeira razão dos copos.

-Hum...então o beijo foi simplesmente teatral e sem qualquer significado?-questionou-nos com os olhos um pouco semicerrados.

-Claro que sim, óbvio não? A Bárbara representa muito bem, devia seguir também teatro.- o Diogo disse isto a tremer da voz e a rir-se com aquela risada nervosa.

-Ah! Que disparate, o Diogo é que é um ótimo ator.- eu disse isto da forma mais culpada possível, era óbvio que eu estava a mentir.

Rimo-nos nervosamente os dois.

-Xau, tenho que ir-disse logo correndo para o seu apartamento.

-Eu também- e fui logo para o meu quarto e tranquei a porta.

A Bárbara ficou sozinha na sala, sem perceber muito bem o que tinha acontecido.

-Beijo teatral e sem significado...pois sim.- disse a Maria para ela mesma-nenhum daqueles dois é bom a representação.

E ela abanou a cabeça e riu-se para si mesmo.

Uma vida de porquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora