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Camila e eu encarávamos o teto. O meu nariz estava congestionado devido ao cheiro de mofo daquele quarto de hotel. A estrutura parecia querer ceder a qualquer momento.

"Esse lugar me lembra o sótão," Camila disse.

Eu apanhei a sua mão e despejei um beijo, "Me desculpe, eu gostaria mesmo de ter feito check in em um hotel legal de Las Vegas, mas a Alexa-"

"Tudo bem." Camila selou meus lábios. "Eu entendo que nós somos fugitivas."

Nós havíamos passado algumas horas daquela forma. Não é como se desse para fazer muita coisa nesse lugar, qualquer movimento era perigoso, além do mais, foi difícil achar uma posição em que a mola do colchão não perfurasse o meu pulmão, então eu não pretendia sair dali tão cedo.

"Nós podíamos aproveitar a cidade um pouco, o que acha?" A latina quebrou o silêncio, me encarando com aquelas gotas de chocolate no lugar dos olhos.

Embora meu corpo estivesse confortável, não existia nada nesse mundo que eu fosse capaz de negar àquele olhar. E, também, Camila estava certa. Nós estávamos em Las Vegas — e sem dinheiro! —, isso podia ser muito divertido.

Talvez eu pudesse apostar minhas moedas em algum cassino e acabar ficando milionária, ou então morrer de fome até que alguma das minhas amigas fizesse a caridade de me enviar uma ajuda monetária.

Camila parecia muito atraente dentro do seu habitual uniforme escolar e com o seu laço no topo da cabeça — sinto-me estranha. Eu deveria me sentir uma pedófila por isso? Não acho que seja o caso. Quero dizer, eu tinha dez anos a mais que Camila, biologicamente falando, mas, ao seu lado, eu sempre voltava a ser uma adolescente. Eu me sentia jovem. Além de tudo, eu não acreditava que nós estivéssemos realmente tendo uma experiência física, nosso contato era puramente espiritual, divino, repleto de elétrons e essas coisas que apenas a física quântica é capaz de explicar. Era como se nenhuma de nós tivesse idade ou face, só existia um sentimento grande e mútuo entre nossas almas. Uma grande bola de energia.

Camila e eu andávamos de mãos dadas pelas ruas da Strip, sob a luz do luar e — claro — de todos aqueles prédios, hotéis e cassinos. Eu me sentia confortável. Era a primeira vez que eu e Camila estávamos no exterior como se fôssemos um casal normal. E ninguém sabia quem eu era, ninguém sabia do meu passado e do que havia acontecido na época da escola, ninguém me olhava com pena ou curiosidade. O máximo que as pessoas faziam era, talvez, se perguntar porque eu balançava tanto a mão e ria para o nada. De qualquer forma, também não acho que alguém estivesse prestando atenção em mim.

"O espetáculo!" Camila gritou, apontando para um lago, em frente a um hotel. "A dança das águas."

"Como você sabe dessas coisas?" Encarei-a.

Camila cruzou os braços, sem tirar os olhos das águas, que dançavam ao som de uma música, "Sabe, Lauren, você me ensinou a usar um computador. E eu sempre tive planos de nós fugirmos para Las Vegas, caso você tenha esquecido."

"E agora nós estamos aqui." Corri os olhos pelo local.

As águas subiam mais de cem metros, em movimentos suaves, como uma verdadeira dança. Era um verdadeiro espetáculo. Dezenas de pessoas paralisavam em frente ao show. Eu não sabia o que se passava pelas suas cabeças, mas eu soube que eu e Camila pensamos a mesma coisa quando compartilhamos uma longa troca de olhares.

Nossas almas dançavam como as águas daquela fonte. E era simples assim. E bonito daquele jeito. Um espetáculo. As pessoas não precisavam entender, apenas apreciar.

Camila apoiava sua cabeça no meu ombro, ainda admirando o cenário a nossa frente, quando alguém pigarreou, chamando a minha atenção. Era um garoto alto e branquelo.

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