and the sun, filled with longing

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O Hotel Bellagio era estonteante. Eu não sabia quem Sean era, nem como diabos ele havia visto Camila — mas, sendo amigo de Veronica, era esperado que ele também fosse um médium —, ainda assim, ter aceitado a sua gentil proposta de desfrutar desse maravilhoso lugar, foi a melhor decisão que eu havia tomado desde que cheguei em Las Vegas.

O acesso ainda me pareceu como um presente. O check-in para nós duas já havia sido feito, o que só tornava a situação ainda mais estranha e questionável. Eu teria tempo para tirar as devidas satisfações com Veronica, mas esse tempo podia esperar. Afinal, eu estava em um romântico hotel com a minha romântica namorada fantasma.

Era engraçado ver o meu nome e o de Camila na lista de hóspedes. Ali, naquela cidade e naquele hotel, nós éramos apenas mais um casal. E todos falavam como se Camila ainda estivesse entre nós.

"Lauren," a garota disse, assim que atravessamos a porta da nossa suíte, "isso é exatamente como eu imaginei que seria, há dez anos atrás, enquanto te esperava na ponte."

O cômodo era espaçoso, em tons de azul e com macrofotografias de plantas distribuídas pelas paredes. Eu estudava o espaço, enquanto Camila parecia já ter encontrado sua parte favorita do quarto: a janela. Devo dizer que, apesar das fotografias botânicas chamarem a minha atenção, eu me juntei ao clube de Camila após me dar conta da visão que nós tínhamos através do vidro.

Nosso quarto ficava de frente para o Hotel Paris, portanto, nós não precisaríamos ir até a França, já que estávamos cara-a-cara com uma perfeita réplica da Torre Eiffel. Como se não bastasse, ainda tínhamos a visão das Fontes Dançantes. Era quase como se tudo estivesse sido feito a nossa forma, para que não saíssemos mais do quarto.

Os fatos se encaixavam de maneira quase inacreditável. Nós duas tínhamos quinze anos, estávamos no hotel mais romântico de Las Vegas — cedido por um estranho muito simpático —, e não havia contagem regressiva.

"Eu nunca pensei que fosse sair daquela mansão," Camila confessou, ainda fitando a paisagem lá fora. "Assim como não pensei que você fosse voltar. É como se eu me sentisse viva de novo, você entende?"

Emparelhei meu corpo ao lado do seu, admirando as águas que dançavam, "Não é como se eu tivesse algo além de ar nos meus pulmões antes de tudo isso. Eu morri junto com você, Camila."

"Isso às vezes me remete ao céu que eu imaginei. Acho que você é o meu paraíso."

Encarei-a de canto de olho, "Poética."

"Diferente de você." Camila riu. "Eu costumava contemplar as noites silenciosas na mansão lembrando de como você era silenciosa e se isolava do mundo naquele piano. Eu nunca precisei ouvir você declamar poesias, Lauren, ou fazer uma serenata. Você sempre funcionou diferente."

"Ou não funcionei," Dei de ombros.

"Não tinha um manual de instruções, o que te deixava mais interessante."

Um manual de instruções. Talvez, por ter nascido para ser impecável, mamãe sempre buscou me fazer a sua fórmula. Para Clara, Camila era o tipo de companhia que me levaria para o mal caminho. De fato, Camila me afastava de toda ideia que mamãe tinha de mim, Camila me afastava de todos os planos que já haviam sido traçados em uma lista do que eu me tornaria, mas tudo isso porque ela me deixava confortável para eu ser quem eu realmente era, me deixava livre para eu me descobrir e me encontrar.

Eu buscava não pensar sobre isso, mas alguma parte de mim sabia que minha mãe ficou aliviada com a morte de Camila. Era a oportunidade de me colocar na linha novamente, de ter a impecável Lauren de volta. De um jeito ou de outro, no fim, tudo saiu como Clara Jauregui planejou, eu me tornei o seu projeto de vida. Isso tudo, é claro, até eu enlouquecer e passar a ver fantasmas.

Eu, que até aquele ponto, só tinha olhos para ver o que me era mostrado, renasci. Eu aprisionei a verdadeira Lauren — afinal, qual a graça de ser a verdadeira Lauren sem Camila?

Agora eu tinha Camila. Agora eu sentia que tinha a obrigação de ser mais do que um modelo de impecabilidade.

Apesar de cada segundo parecer loucura, nada ali parecia mais real e mais certo. Era como se os dez anos que vivi no Brasil fossem apenas um período em coma — nada daquilo se parecia comigo. Era como se eu tivesse pulado de uma etapa da minha vida diretamente para outra.

Era engraçado como Camila ganhava mais cor a cada segundo. Sua voz, mais audível. Seu corpo, mais palpável. Sua presença, mais real. Enquanto isso, o resto do mundo parecia perder a graça. Suas vozes, um eco. Seus corpos, como animações 2D. Suas presenças, distantes. Eu sentia que, enquanto mais eu me conectava com Camila, mais eu me desconectava do mundo.

E, naquele momento, vendo Camila tão concentrada na beleza romântica que apenas nós víamos em Las Vegas, eu percebi que bastava existirmos nós para que o globo terrestre girasse normalmente e os planetas fizessem a sua rotação. Estar desconectada do mundo nunca fora tão bom.

Meus olhos passeavam pela sua silhueta, iluminada pela luz da noite que atravessava a janela. Existia algo quase angelical naquela cena. Sua pele brilhava e seu olhar perdido transmitia calmaria. Como se o tempo houvesse parado para nós, as águas dançantes congelaram, as pessoas lá fora viraram estátuas, a música que tocava — eu tinha certeza — não fazia parte da trilha do espetáculo. Agora o tempo era nosso e ele era eterno.

Eu a beijei.

Seu gosto de baunilha invadiu meu paladar e se alastrou por toda a minha boca. Era doce. Seu perfume era o único ar que eu respirava. E tocá-la não doía, não queimava, não machucava.

Eu não abri os olhos. Nós cambaleamos até a cama, sem quebrar o contato, andando no escuro, como se soubéssemos exatamente os próximos passos que a nossa estrada reservava. E ela não abriu os olhos. E sentirmo-nos era como uma brincadeira de adivinhação.

Minhas mãos, suas roupas; Seu toque, minha pele; Meus lábios, sua boca; Sua boca, meu pescoço; Meu peito, ofegante; Seus beijos, uma trilha imaginária; Minha respiração, descompassada; Sua língua, meu sabor.

Seus dedos, meus cabelos; Seus olhos, meus olhos; Íntimo, íntimo; Seu toque, meu toque, nosso contato; Seu sorriso, meu estrago; Minha voz, sua recompensa.

Os ponteiros do relógio, parados; O seu coração, batendo; A minha alma, se unindo a sua; Eu, completamente dela; Ela, inteiramente minha; O tempo, nas nossas mãos; As estrelas, queimando; A lua, sorrindo; E o sol, com saudade.

Não existia, ali, nenhuma dúvida de que o universo havia sido bom comigo. Ele havia aliviado a minha dor. Ver, tocar, sentir e ter Camila fora o maior presente que eu poderia ter ganhado. E se, na próxima manhã, não houvesse Las Vegas, não houvesse Camila, não houvesse nós, ainda assim, teria sido o mais bonito sonho.

xxx

HEYAY! 

deem suas respectivas opinioes sobre a evoluçao do meu hot (desde o baú de destinadas) ate esse (mesmo que tenha sido menor que ally brooke)

EH HOMENAGIALAS

EH HOMENAGIALAS

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