epilogue

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O céu tinha uma coloração diferente naquele fim de tarde. O vento fresco tinha um aroma doce e estranho. O silêncio parecia uma risada de criança.

Veronica ajudava Cameron, nosso filho, com um trabalho da faculdade. Nós decidimos que essas férias seriam passadas em Miami, afinal, eu já estava mesmo cansada de viajar todo ano para um canto do mundo, e Cam estava empenhado com suas pesquisas.

Nós formamos uma bonita família. Cameron era um bom menino, estudioso e um pouco impaciente e pessimista como eu no passado, ainda com essa personalidade estranhamente herdada de mim — afinal, ele era adotado —, não foi de se admirar quando ele apareceu em casa namorando a filha de Sofi. Os Jaureguis e os Cabellos se uniram, no final.

Boa parte da minha família já havia partido, porém Chris e Cali sempre faziam questão de vir nos visitar, com os seus filhos, que já eram belos adultos. Dinah, Ally e Normani também eram presença quase constante na nossa casa, com suas respectivas famílias.

A vida foi longa e boa — e agora eu sentava na varanda, deslizando o óculos de grau até a ponta do nariz e deixando minha leitura para mais tarde. Meus olhos pesavam e estavam cansados. Então um pequeno som atravessou os meus ouvidos: Boo!

Meu coração deu um salto. O último.


Abri os olhos. Sentia-me nova em folha, o sol quente me iluminava, dificultando que eu conseguisse manter meus sensíveis olhos abertos. Coloquei o braço sobre a testa, a fim de bloquear a luz, situando-me de onde estava.

Era a antiga ponte de madeira, caindo aos pedaços. Analisei minha roupa de colegial e toquei meus cabelos longos e castanhos, logo tocando meu rosto e constatando que não havia sequer uma ruga ali.

"Ei!" Uma voz chamou, fazendo-me erguer o olhar. "Nós vamos nos atrasar."

Abri a boca, incrédula, correndo até aquela imagem, "C-camila?" Gaguejei.

Seus cabelos negros caíam pelos ombros, os olhos cor de chocolate derretiam e o seu cheirinho de camomila contaminava o ar. Dentro do seu vestido, com um laço no topo da cabeça e com um sorriso torto estampado no rosto. Era a minha Camila.

"Meu deus, a gente fala 'apenas o básico' e você aparece com a campanha do agasalho." Beijou meus lábios rapidamente. "E atrasada!"

"Camila!" Eu travei, finalmente me dando conta. Nós estávamos naquela maldita noite — mas havia sol? —, a noite da fuga, a noite da sua morte. "Depressa!" Peguei na sua mão, tentando arrastá-la para o outro lado da ponte.

Porém, a garota me segurou pelos ombros, "Para que tanta pressa, Lauren? Nós temos toda a eternidade."

O grande sol noturno se abriu, acolhendo-nos no seu quente abraço. E nós vivemos lá... Felizes para sempre. Sem fim.  


DEDICATÓRIA

E a gente nasceu em um dia de morte e as coisas não podiam ter outro fim. Acho que não existe uma poesia pra isso. Mas é por todos os dias em que eu morri por dentro e respirei através dos teus pulmões.

Desculpa por gastar o teu oxigênio. Eu te desculpo por tirar o meu ar.

02/11/2010


À alguns amigos em especial. Não mais lamento por termos nos perdido, agradeço por um dia termos nos encontrado. :)



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