Capítulo 3

93 7 0
                                    

Desci com as pontas dos pés a escada do sótão que atualmente é o meu quarto.
Sempre tive passos leves porém por mais leve que eu tente pisar a madeira da escada range de uma forma estrondosa.
Minha madastra tem um sono pesado e ela preza muito pelas suas oito horas de beleza e acredito que nenhum som estranho possa a despertar.
É o que eu espero.
Cheguei ao segundo andar e olhei para todos os lados.
Tudo estava em seu mais completo silêncio ao meu redor .Só consegui ouvir o som da minha própria respiração.
Ainda na ponta dos meus pés e almodiçoando o assoalho  que me denunciava cheguei até o vaso onde todos os dias minha madastra colocava os molhos de chaves.
Elas tilintaram quando peguei e apressadamente coloquei em meu bolso.
A parca luz de minha vela e a lunar que iluminava o meu caminho.
Encarei a escada que me levaria para o salão com um certo temor.
Estranho na noite em que aquela mulher apareceu e me persuadiu a cometer a insanidade de enfrentar a noite e ir até ao baile eu não tive receio algum.
Agora  a idéia de enfrentar a escuridão me parecia algo mais perigoso e minha mão esta bem mais fria.
O que eu tinha que fazer deve ser feito.
Ressoluta comecei a descer novamente a escada.
As escadas não rangeream e eu respirei com alívio.
   — Aonde vai Carolinne ?
A voz de Margaret me fez estremecer dos pés a cabeça e derrubar no chão o toco da vela  que eu estava segurando.
Ela segurava em sua mão um candelabro que a iluminava de uma forma bruxelante  .Tom que a sua camisola de um tom escuro realçou.
—Irei repetir somente dessa vez. Aonde você vai tão arrumada? Por acaso tem algum amante?
A voz parecia sumir da minha garganta e não consegui pensar em uma resposta.
—Aconteceu algo com a sua  língua, fedelha inútil? -ela rispidamente disse.
—Eu vou ir beber água e tomar um pouco de ar.O sótão pode ser as vezes muito sufocantes e não tem nenhuma janela.
Ela franziu o cenho e estreitou os seus olhos em minha direção. Porém a sua voz estava um pouco menos irada do que anteriormente.
—Não quero saber de você rondando  fora de casa á noite como uma meretriz .Ainda mais que agora o meu  nome é ligado ao da realeza.Por mais que você seja a personagem menos importante da casa você esta ligada a nós e não seria se um bom tom se começassem a falar de você.

Fiquei boquiaberta com o discurso.

—Margaret , eu vou apenas tomar um ar e prometo não sair de seus domínios.
—Prefiro que me chame de sr(a) Watson e não pelo meu primeiro nome. Não se esqueça que eu subi de nível .

Parece que alguém acha que vai virar rainha agora.

Não acredito que Margaret,  desculpe, Sr.(a) Watson,  podia ficar ainda mais esnobe.

—Sim senhora Watson.  —disse com uma reverência — Peço a sua permissão para dar uma volta pelas redondezas?

Espero que ela não tenha percebido o sarcasmo em minha voz.

—Não.Exijo que devolva o meu molho de chaves.

Tirei as chaves de meu bolso e apertei contra o meu peito enquanto lentamente me aproximava de minha madastra com elas
—Irei as guardar em um local mais seguro.

Olhei  tristemente as chaves na mão enrugada  de Margaret ou sr. (a) Watson, como preferir.

—Porque esta parada feito uma estátua com essa cara de cão quando quer um pedaço de osso?  —ela gritou de repente. 

Talvez seja porque eu sou um cão e a chave o meu osso, porém não respondi isso a ela.

—Estou esperando a permissão da senhora para poder ir tomar um pouco de água.

—Traga um pouco para mim .Minha garganta esta seca.

—Sim senhora.

Acendi a minha vela na chama de uma das velas de seu castiçal e voltei a descer a escada.

Não deu certo.
As probalidades eram pequenas , mas não podia deixar de pensar em como isso é tão injusto.

Como ela pode me chamar de inútil enquanto eu arrumo essa casa e as suas filhas não moviam nem ao menos uma palha.

Um amante? Por quem ela me toma?

A revolta cresceu dentro de mim e acabei soluçando.

Queria que um cavalheiro  aparecesse para me resgatar e acabar com os tempos de martírio. E acabasse com Margareth.
Mas essa não é um história de cavalaria.
Parece que somente quando eu der o meu último suspiro é que esse inferno terá um fim.
Acredito que não irá demorar muito ,
se passaram poucos meses desde a morte de meu pai e quando vejo o meu reflexo parece que envelheci muitos anos.
Margaret , ao contrário, somente rejuvenesceu.
Senti saudades  dos tempos felizes e derramei algumas lágrimas.
Não posso me apresentar a Margaret com lágrimas em meu rosto. Ela sentiria feliz em ver um espetáculo de minhas fraquezas.
Respirei fundo e peguei um pouco da água para a "sr. (a ) Watson que ja havia gritado reclamando da demora.
Me senti desprezivel depois, mas não resisti  e cuspi em seu copo.

Margaret estava em seus aposentos quando cheguei no andar superior.
Aposentos que anteriormente pertencia a minha mãe.
Ela sempre arrumava arranjos de rosas enfeitando o quarto,  mas Margaret não era amante das flores,  acredito que uma pessoa de tão pouco sensibilidade como minha madastra não consegue compreender a beleza delas.
A sua marca no quarto eram algumas estátuas que ela dizia ser caríssimas , mas que eu com o meu conhecimento parco em artes considero de um gosto duvidoso.
Me assustaria todo dia se acordasse com uma delas me olhando.
Não se pode deixar de notar que não gosto muito de entrar nesse aposento.Por isso tentei sair apressadamente do quarto após entregar a água.

Porém Margaret agarrou os meus braços

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Porém Margaret agarrou os meus braços.
Olhei dentro de seus olhos verdes que faiscavam e os lábios finos que estremeciam.
Pensei que ela havia percebido a minha pequena travessura e iria ralhar comigo por esse motivo.
—Carolinne , se eu descobrir que você andou fazendo algo, qualquer coisa , que tenha traído a minha confiança em você, irá se arrepender amargamente ,sua criatura insolente. Você não tem o meu sangue em suas veias e eu não sou obrigada a te sustentar. É um suplício suportar sua presença sob esse mesmo teto que eu. Somente te suporto por pura caridade e não mereço ingratidão alguma sua.
—Mas essa casa é do meu pai. -protestei em um sussurro.
—Porém ele não deixou nada para  você.
Abaixei a cabeça. Como meu pai me deixou assim?
Eu pensava que ele me amava.
Ela me dispensou com um aceno enquanto eu tentava esconder a lágrima que brotava em meu olho.
Quando fechei as pesadas portas do aposento ouvi ela reclamando do gosto da água
Um tímido sorriso surgiu em meus lábios apesar de tudo.

O que deu errado Cinderella? Onde histórias criam vida. Descubra agora