Capítulo 3

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    - Já sabe o que quer fazer quando sair daqui? – Bradley me perguntou, sem tirar os olhos da rua
    - Eu não sei... Não sou do tipo de pessoa que tem o futuro todo planejado.
    - Tem que ter alguma coisa que você queira fazer.
    - Bem, eu... - suspirei - Eu queria ser professora para deficientes físicos. Eu sei que é uma ideia idiota mas...
    - Não. Na verdade é uma ótima ideia. – interviu – Mas por que deficientes?
    - Não sei. Acho que eu tenho um pequeno fascínio por ajudar pessoas que precisam de mim. - brinquei.
    Bradley estava sorrindo, mas não para mim. Parecia pensar sobre alguma coisa. Relembrar.
    - E você? – continuei - O que quer fazer?
    - Medicina.
    - Nossa! Isso é bem legal. Já sabe no que quer se especializar?
    - Quero ser cirurgião neurológico.
    - Uau! Que incrível. – exclamei, mas ele apenas deu de ombros.
    O carro parou. Tínhamos chegado aos dormitórios. Eu não imaginava que horas eram, mas ao julgar pelo silêncio e pelas luzes apagadas, já devia ter passado da meia-noite.
    - Obrigada por me trazer.
    - Sem problemas. – ele sorriu, se virando para mim – Não se esqueça: sexta às sete.
    - Às sete. – eu ri.
    Nos encaramos por alguns poucos segundos. O silêncio se instalou ao nosso redor. Mas não era um silêncio desconfortável.
    - Merda! Você não sabe a força que eu estou fazendo pra não te beijar. – Bradley disse, cortando o silêncio.
    Minhas bochechas coraram. O que?
    - Eu... Tenho que ir.
    - Não! Espera eu...
    Mas já era tarde. Eu já estava andando apressada em direção ao meu quarto. Entrei silenciosamente, com medo de acordar Meghan, que já dormia.
    Tirei meus sapatos e meu vestido e coloquei um pijama. Nem consegui tirar a maquiagem. Não tinha forças para mais nada. Despenquei na minha cama. Até então não tinha percebido o quão cansada eu estava. Todos os meus músculos doíam.
    Olhei para o relógio que ficava no meu criado-mudo. 3 horas da manhã? Não sabia que já era tão tarde! Não tive tempo de pensar sobre o que Bradley tinha acabado de dizer. Quando notei, já era de manhã.

    Meghan não estava mais no quarto. Devia ter ido tomar café da manhã. Olhei de novo para o relógio. Já eram quase 11 horas. Não daria tempo de me arrumar e ir pro refeitório comer. Peguei o meu celular e liguei para a minha irmã.
    O telefone tocou por muito tempo, mas Carly finalmente atendeu.
    - Alô? – sua voz estava rouca. Parecia ter acabado de acordar.
    - Oi!
    - Mas que droga Scarlet! Eu estava dormindo, sabia?
    - Bom dia pra você também.
    - Desculpa. – ela bufou – Bom dia
    - Agora está bem melhor. - ri.
    - Engraçadinha. Ei! Onde você se meteu ontem? Não encontrei você em lugar nenhum.
    - Ah, peguei uma carona. Enfim, eu estou com fome. Quer ir pra alguma padaria?
    - Tudo bem. Passo aí em vinte minutos.
    - Ok, tchau.
    Desliguei e fui me arrumar. Tinha acabado de colocar a roupa quando alguém bateu à porta. Peguei minha bolsa e fui correndo atender.
    Mas não era Carly. Era Bradley.
    - Oi! – ele disse.
    - O que você está fazendo aqui?
    - Eu só... Eu queria pedir desculpas por ontem.
    Droga! Ontem! Eu tinha esquecido do que ele tinha me dito.
    - Ah! Não, tá tudo bem. – sorri, nervosa
Ele tinha que ir embora antes que minha irmã chegasse. Carly já achava que eu tinha transado com ele. E se visse Bradley na porta do meu quarto?
- Estou falando sério. – ele insistiu – Sei que eu não devia ter dito aquilo.
- Bradley, tá tudo bem. Eu desculpo você mas preciso que você vá embora antes que a minha irmã chegue.
- Por que antes que a sua irmã chegue? – perguntou, se apoiando no batente da porta.
Boa Scarlet!
- Não... não foi isso que eu quiz dizer. É que...
- É que...?
Ouvi o barulho de um carro se aproximando. Olhei por cima dos olhos de Bradley e vi Carly.
Meu Deus!
Sem pensar, puxei Bradley para dentro do quarto e fechei a porta. Escutei o barulho de uma buzina. Bradley estava confuso, mas parecia se divertir. Ele me encarava, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa.
- Eu vou sair – comecei – e você espera aqui. Quando ouvir o carro indo embora, pode sair também.
Levei a mão até a maçaneta, mas Bradley segurou a porta e me prendeu contra ela.
- O que está acontecendo? – ele perguntou. Seu rosto estava a centímetros do meu. Podia sentir sua respiração batendo contra o meu rosto, e virei a cabeça para encarar a maçaneta.
- Eu preciso ir, Bradley.
- Me fala.
- Prometo que te conto depois, mas preciso ir antes que ela venha até aqui. – disse me virando para olhá-lo – Por favor.
- Tudo bem. – ele bufou, se afastando da porta.
Abri a porta e saí correndo em direção ao carro.
- E aí, irmãzinha! – Carly disse, sorrindo – Conheço uma padaria ótima aqui perto. Podemos ir pra lá.
- Tudo bem. – forcei um sorriso.
Carly deu a partida.

Depois de panquecas e café com leite, Carly me deixou nos dormitórios e voltou para o apartamento que dividia com Sarah e Nora. Eu precisava arrumar as coisas para começar as aulas, já que era domingo.
Mas, quando entrei no quarto, me deparei com Bradley sentado na minha cama. Meghan também estava lá, trabalhando no que provavelmente seria seu novo remix. Ela não parecia incomodada com a presença dele.
- Ah, oi. – ela disse – Ele não quiz sair. – apontou para Bradley, que se levantava e vinha na minha direção.
- Por que você ainda está aqui? – perguntei.
- Você disse que eu podia, não que eu precisava ir.
- Você deve estar brincando.
Ele deu de ombros.
- Aliás, você tem uma coisa pra me contar. – disse.
Suspirei e fiz um gesto para que me seguisse. Não precisava que Meghan escutasse a nossa conversa, não que ela fosse prestar muita atenção. Saímos do meu quarto e andamos pelo campus.
- Então. Vai me dizer o que aconteceu mais cedo? – ele perguntou, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans.
- Você vai mesmo me obrigar a fazer isso, Bradley?
- Você me fez uma promessa. - brincou.
- Não conte para ninguém que eu te disse isso.
- Tudo bem, tudo bem. – ele riu – Prometo não contar pra ninguém.
- É que... meu deus... – respirei fundo e comecei a desembuchar. Não tinha como eu fugir daquilo – Minha irmã meio que gosta de você. E ela achou que a gente tinha transado na festa, e eu sei que isso é loucura, mas ela realmente pensou isso. E aí você apareceu na minha porta bem na hora que ela ía me buscar e eu não podia deixar ela te ver, porque se não ela ía achar que nós estamos ficando, ou algo do tipo, e ía me odiar pra sempre e..
Bradley me segurou pelos ombros, me interrompendo.
- Mais devagar. – ele disse, rindo – Assim fica difícil te acompanhar.
- Desculpa.
- Você pede desculpa demais. – falou tirando as mãos dos meus ombros e retomando a caminhada.
- Olha, é que... Eu não posso fazer isso com a minha própria irmã, e quando você disse aquilo no carro...
- Eu já falei que o que eu disse foi besteira. – ele olhou para mim – Mas nunca disse que não era verdade.
Minhas bochechas coraram. Parei de andar no mesmo segundo. Ainda não tinha parado pra pensar que aquilo poderia ser verdade. Droga! Droga!
- Olha Scarlet. – continuou – Sua irmã é legal e bem bonita mas... Nós nunca nem conversamos.
- E nós dois nos conhecemos ontem.
- Eu sei. E eu não entendo isso.
- Não entende o que?
- Não entendo essa vontade que eu sinto de estar com você. E me desculpe por sentir isso, mas é verdade. Eu sei que você ama a sua irmã e não quer fazer isso com ela, mas... – seus olhos se encheram de tristeza – Por favor, não se afasta de mim.
Estava chocada. Chocada por ele sentir isso por mim. Chocada por ele pensar que eu me afastaria dele. E chocada por saber que era aquilo que eu devia fazer, mas mesmo assim, eu não conseguia.
- E quem disse que eu ia me afastar de você? – ri.
- Eu pensei que...
- Eu disse que não podíamos ficar juntos, não que não podíamos ser amigos.
Seus olhos brilharam. Era impressionante ver como o fato de não falar mais comigo lhe abalava tanto.
- Amigos podem se abraçar? – brincou, o que me arrancou um sorriso.
- Sim, amigos podem se abraçar.
Bradley me agarrou pela cintura e me girou no ar. Quando me colocou de volta no chão, toda a sua tristeza havia desaparecido, e deixado lugar para apenas um sorriso enorme.

Eu não vou te deixarOnde histórias criam vida. Descubra agora