//Segundo//

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- Pára de fingir! Pára! Quero ajudar-te, mas tu não me deixas... assim não dá. Preciso que fales comigo, que me contes as coisas como elas realmente são!

- Desculpa, Sara.

- Não peças desculpa, conta-me o que se passa para eu te poder ajudar!

- Se eu não conto, não é porque não confio em ti. Eu não conto porque não acho importante. Agradeço a tua preocupação, mas eu estou bem. Se eu precisar de falar, serás a primeira pessoa a quem vou recorrer.

- Não. De hoje não passa. Andas mal, andas triste e abatida. Andas estranha, diferente. Eu sei que precisas de falar, mas tens medo, não é?

- Claro que não! Medo, eu? Por que raio haveria de ter medo?

- Tens medo, é evidente. Vais contar-me o que se passa e é agora!

Não quero contar. Não quero que ela saiba. Eu própria tenho vergonha disto, não vou deixar que a minha melhor amiga sinta o mesmo. 

- Não há nada para contar.

- Maria, podes começar a falar. Não te vou deixar sair sem que me contes tudo.

E foi suficiente para começar a chorar. Não é um choro parvo e sem importância. É um choro guardado há muito tempo e que precisa de sair desesperadamente. Um autêntico pranto.

- Oh meu Deus, estás mesmo mal! Deita tudo cá para fora, chora o que precisares e conta-me, quero ajudar-te!

Não profiro uma palavra durante dez minutos.

Sou só eu, as minhas memórias, as minhas lágrimas e a preocupação da Sara. Respiro fundo. Limpo as lágrimas que consigo, ficando ainda assim com o rosto bastante húmido. Preparo-me para a conversa que vou ter.

- Vais contar-me? Não te quero pressionar, desculpa se o fiz!

- Eu só não quero que sintas o que eu sinto. Não quero que fiques com uma ideia errada de mim. É verdade, tenho medo. - disse calmamente.

- Podes falar comigo, Maria. Conheço-te há anos e nunca te vi assim...

- Eu nunca estive assim. O problema é que... eu... não sei bem como dizer isto, mas... eu não acredito que me sujeitei a uma relação. Eu nunca mais quero estar com nenhum rapaz, nenhum. Eu sinto-me impura, mal tratada, sinto-me lixo.

- O quê? O Diogo fez-te mal? O que aconteceu?

- Não digas esse nome. Não quero ouvi-lo. Quero esquecer que o conheci. Ele bateu-me, tratou-me mal! E eu feita parva não fiz nada. Nada. Com medo do que ele pudesse fazer depois. Sujeitei-me a isto e ainda mal acredito. Eu, que sempre fui inteligente o suficiente para distinguir o certo do errado, sujeitei-me a uma relação destrutiva!

- Isso nem uma relação é! Como foi isso acontecer? Como deixaste que ele te batesse? Tens de apresentar uma queixa contra ele, tens de fazê-lo pagar por isto!

- Não. Eu quero mudar-me para longe daqui e começar de novo. Quero tentar viver uma vida normal. Sara, eu vou para Lisboa. Preciso de me afastar daqui.

- Eu compreendo. Mas tens de apresentar uma queixa na polícia. Ele não pode ficar a rir-se.

- Eu não consigo. Eu só me quero ir embora.

- Maria, os teus pais sabem disto?

- Achas? Estás doida? Os meus pais não podem saber de nada! Por favor, não contes a ninguém! Já basta o que eu sofri com aquele monstro, não quero ouvir sermões. Vou amanhã para Lisboa, vou ficar na casa dos meus tios. Os meus pais sabem que vou, mas não sabem porquê. Pensam que vou passar umas semanas de férias para conhecer a cidade. Não lhes contes nada, por favor!

- Eu não sei se consigo pactuar com isto. E tu só dizes agora que te vais embora? Tu ias embora sem te despedires de ninguém?

- Eu ia. Mas agora contei-te a ti e não quero que mais ninguém saiba. Por favor, Sara, faz o que te estou a pedir!

Não obtenho resposta. Ela olha para mim, abraça-me e deseja-me sorte. Sorrio-lhe e volto para minha casa. Preciso de acabar a mala para partir amanhã. 

Love Sucks {PT}Onde histórias criam vida. Descubra agora