//Décimo//

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19:37

- Maria, estás a sentir-te bem?

- Mais ou menos, porquê?

- Estás muito pálida!

Estou um pouco zonza, tenho arrepios e tanto me sinto quente como me sinto gelada. Se calhar estou a ficar é doente.

- Vou buscar-te um copo de água, espera aí.

Estou a perder as forças, meu Deus. Não faço ideia do que se passa comigo. Sinto um líquido a escorrer entre o meu nariz e a minha boca. Oh não!

- FILIPA, FILIPA TRAZ GUARDANAPOS!

Ela aparece a correr com um copo de água na mão e um monte de guardanapos na outra. Ela muda de expressão assim que olha para a minha cara, estende-me os guardanapos e eu apresso-me a confirmar que estou a sangrar do nariz. Detesto quando isto me acontece, detesto ver sangue. A minha prima começa a chorar e a gritar pela Dolores que rapidamente aparece na sala e me ajuda a estancar o sangue.

- Desculpa, prima, desculpa! A culpa é minha, fui eu que te arrastei para fora de casa, desculpa!

- Não chores, Filipa. Não tens a culpa, já passou, já não estou a sangrar, está tudo bem.

O telefone de casa começa a tocar e a Filipa vai atendê-lo enquanto a Dolores me vai buscar algo para comer. Continuo sem forças e pelo que parece muito pálida. Não devia mesmo ter andado tanto tempo ao calor. Eu estava protegida, com protetor solar e um chapéu, mas mesmo assim foi calor a mais, tempo a mais exposta ao sol.

- Fiz-lhe uma sandes mista e um sumo, menina Maria. Coma, vai fazer-lhe bem!

- Obrigada, Dolores.

Como calmamente o que a gentil senhora me trouxe e tento ao máximo manter-me de olhos abertos; estou muito zonza.

- Maria, a tua mãe está ao telefone e exige falar contigo. Eu já lhe disse que estás bem, mas sabes como são as mães.

Agarro o telefone e rezo para que a minha mãe não me bombardeie de perguntas.

- Filha, como é que estás?

- Estou sentada, mãe.

- Maria Nunes Ribeiro, tu não brinques comigo!

- Mãe, não grites, ainda estou um bocadinho tonta e os teus gritos não ajudam.

- Mas como é que estás?!

- Estou bem, estou a comer para ganhar forças.

- És uma irresponsável, Maria! Sabes que és sensível ao calor, devias ter tido mais cuidado!

- Sim, mãe, eu já sei que faço sempre tudo mal. Adeus.

Desligo o telefone e pouso-o no sofá. Acabo de comer e depois de levar a louça à cozinha, subo para o meu quarto e deito-me um pouco para dormir. Esta coisa toda deixou-me muito cansada, espero só acordar amanhã de manhã.

*

Abro os olhos de repente com um salto. Outro pesadelo. Olho para o meu relógio que marca 08:58. Ligo o meu telemóvel que esteve desligado desde ontem e vejo que tenho algumas mensagens.

"Maria, a tua mãe ficou magoada por lhe teres desligado o telefone na cara! Eu sei que desligaste o telemóvel e não sei se vais ver a minha mensagem, mas somos teus pais e preocupamo-nos contigo"

Pai, ontem às 20:00

"Como estás Maria? Estamos com saudades, espero que estejas bem, xuxu"

"Os teus pais não param de reclamar por teres desligado o telefone... eles vieram jantar com a minha mãe."

"Fica bem, sweetheart"

Sara, ontem às 21:27

"Maria, Maria... sempre a mesma cobarde"

"Sempre a fugir, não te cansas?"

"Não sei onde te andas a esconder mas vou encontrar-te um dia"

"E nesse dia vais pagar por tudo o que me fizeste, sua cabra"

Número Desconhecido, ontem às 23:57

Estou farta, farta de ter os meus pais a reclamarem com tudo o que eu faço, farta destas ameaças, farta de tudo. Vim para Lisboa para mudar de vida, mas parece que as coisas que deixei em Braga continuam comigo.

Levanto-me e preparo um vestido simples para ficar por casa, não tenciono sair. Dirijo-me à casa de banho e tomo um duche rápido para me refrescar. Depois de completar a minha higiene e de me vestir, desço para a sala e sento-me no sofá. Vejo a mesa posta e restos de comida em dois pratos, provavelmente os meus tios já saíram.

- Menina Maria, já acordada?

- Que susto, Dolores! Eu dormi muito, ontem deitei-me cedo.

- Desculpe, não era minha intenção assustá-la. Vá comer qualquer coisinha, o pequeno almoço é muito importante!

- Eu sei, a Filipa ainda não acordou?

- A menina Filipa saiu muito cedo, acho que foi dar uma voltinha pelo bairro.

Levanto-me do sofá e sento-me na grande mesa de jantar.

- Sente-se comigo, Dolores, faça-me companhia!

- Não sei se devo, menina, tenho serviço para fazer...

- Por favor, sente-se. Não quero estar sozinha.

A prestável senhora senta-se ao meu lado e observa-me enquanto como.

- Não quer comer nada?

- Não, menina Maria, já tomei o meu pequeno almoço, obrigada.

- A minha mãe voltou a ligar...?

- Sim, várias vezes até.

- Ela estava muito chateada?

- Não, Maria, não se preocupe. Ela estava apenas preocupada consigo, como qualquer mãe estaria com os seus filhos.

- Acha mesmo, Dolores? Eu falei-lhe mal e desliguei o telefone, não a queria magoar...

- A menina faz-me lembrar a minha filha. Foi estudar para o Porto e de vez em quando vem cá passar uns dias. Vocês são parecidas. E eu tenho a certeza que a sua mãe não ficou chateada consigo, fique descansada.

- A sua filha tem que idade?

- Tem vinte anos. Está na faculdade de Direito no Porto, se a Maria ficar aqui por alguns meses ainda é capaz de a conhecer. Ela costuma vir aqui quando pode.

- Eu vou ficar aqui por algum tempo, sim. Talvez nos possamos conhecer.

- Coma lá, menina, faz-lhe falta. A Maria está muito magra!

- Acha? Eu sempre fui assim, acho que é genético.

- É verdade que a sua tia e os seus primos também sempre foram magros, mas a menina exagerou nos genes! Tem de se alimentar!

- Eu sei, Dolores, não se preocupe.

- Preocupo pois! Mas deixe estar que eu agora vou tratar do seu estômago e garantir que se alimenta.

Esboço um sorriso ao ouvir a Dolores dizer-me estas palavras. A verdade é que devo estar ligeiramente mais magra, mas sempre fui relativamente mais magra do que as minhas amigas, sendo muitas vezes a estranha do grupo, não me espanto muito com isso.

***

A demora é imperdoável, mas fui de férias e não tinha nem computador nem acesso à internet. Peço desculpa a quem ainda acompanha a Love Sucks, agradeço que partilhem se o quiserem fazer.

Obrigada.

Lea.

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