Capítulo 2

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   Pov – Aysha

Um rapaz passa por de trás da minha cadeira. Derrama umas gotas da cerveja em minha camiseta. Se desculpa com a fala enrolada. Jojo balança o jornal me chamando atenção.

―Capa de jornal Aysha. Você é capa do jornal mais vendido do país.

―Capa do caderno cotidiano. – Eu a corrijo. Ela faz careta. – Além disso...

―O que? Não acredito que não está feliz com isso.

―Garota negra se forma em medicina aos vinte e um anos. – Leio em voz alta.

―Um grande feito eu acho. – Ela comunica. Como se eu não ouvisse isso todos os dias nos últimos seis anos.

―Garota negra. Se eu fosse branca acha que teria a mesma manchete? Garota branca se forma em medicina aos vinte e um anos?

―Isso! Droga Aysha. Não sei, eu acho que pensa demais nisso tudo. – Ela vira o copo. – Se formou hoje. Pelo amor de Deus. Comemore. Acabo de decidir o que fazer com minha vida e nem comecei a caminhar. Você já está...

―Formada. Eu sei. ― Tomo um gole da minha cerveja. Depois suspiro. Não é muito coisa já que não sei bem o que fazer com isso. Realizei um sonho, ou parte dele, mas ainda é preciso continuar brigando e tem tanto que quero fazer e mudar.

―Seu pai ficaria muito orgulhoso. – Conheço Jojo desde a infância. Estudamos juntas nos primeiros anos de escola. Depois eu avancei um pouco e mesmo assim nossa amizade nunca se abalou. – Eu me lembro que ele sempre dizia. Jordyn, minha menina vai muito longe, ela é tão inteligente quando a mãe.

A lembrança me traz um sorriso. Bons tempos, difíceis, nenhum dinheiro e muitos sonhos. Earl e Viola Hardson fizeram de tudo para sermos uma família feliz.

Mais do que isso, meu pai trabalhou dia e noite, muito mais do que podia para que minha pudesse se tornar advogada, um ano depois de finalmente realizarem esse feito ele faleceu de um maldito ataque do coração. Eu tinha treze anos. Vivíamos com muita dificuldade, foram anos de muito esforço com minha mãe trabalhando de dia e estudando a noite. Tudo para que nossa vida pudesse melhorar.

Melhorou, mas ele não estava mais lá e as vezes penso se valeu tanto esforço. Eu e minha mãe não tivemos muito tempo juntas. Com quinze anos eu ingressava na universidade. Um prodígio que ganhava olhares em Yale. Morria de medo, mas não desisti. Seguindo o exemplo dela eu me esforçava, vinha pouco em casa, muito pouco. Não notei a doença dela chegando, não até os primeiros meses da residência.

―Aysha! – Jojo me chama atenção. Volto a realidade. – Mais uma?

―Não Jojo. Vou ver minha mãe antes de ir para casa. Contar da formatura.

―Está certo. Como ela está?

―Está acabando Jojo, já devia ter acontecido. Ela está lutando, mas... – Meus olhos marejam e tomo mais um gole da cerveja e então eu chamo o garçom. Estendo as chaves da casa onde cresci para Jojo. – Vai indo para casa. – Minha velha amiga largou tudo para vir assistir minha formatura, se mudou para Columbia tem dois anos, ficamos muito tempo longe, mesmo assim ela veio a minha formatura e foi a única, nem sei como agradecer, somos apenas eu e minha mãe e com ela no hospital não teria ninguém a quem sorrir quando finalmente recebi meu diploma.

―Quer que eu...

―Não. É tão deprimente. Me espera em casa. Levo umas cervejas e continuamos a comemorar lá.

Paixões Gregas - Amor sem fronteiras (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora