Capítulo 3

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Pov – Aysha

Nancy me sorri complacente quando entrego a ela os papéis preenchidos. Confere as folhas. Respira longamente.

―Tem certeza? Sabe onde está se metendo?

―Nancy sou uma médica como você. Sua assistente na obstetrícia. Estou indo bem? – Ela afirma. – Então envie. Quero muito isso.

―Tem algo a ver com o doutor Steve? – Levo um pequeno baque. Não fui discreta o bastante.

―Não.

―Eu notei seu pequeno transtorno. Não sabia que existia algo entre vocês.

―Ele parece que também não sabia. – Nancy sorri. – Estou bem. No fundo ele não foi assim tão desonesto. Eu é que fui bem cega. Não vai se repetir.

―Vou enviar isso. Vamos ver. Você é jovem. Bem jovem. Não temos certeza se vão te chamar para o processo seletivo, mas vou fazer uma recomendação. – Abraço Nancy. Ando tão sozinha que um simples abraço em minha mentora me emociona.

―Obrigada.

Começo meu trabalho. De dia as coisas são mais tranquilas. Ainda mais na obstetrícia, é no plantão noturno que costumamos pegar os trabalhos de parto mais graves e inesperados.

Meu próximo plantão noturno leva uma longa semana. Uma semana em que me sinto bastante sozinha. Me faz pensar na verdadeira razão por que não vi como Steve era meu oposto. Eu apenas não queria ficar sozinha. Simplesmente isso.

Quando chego esgotada na manhã do plantão noturno, depois de um parto às pressas de gêmeos que terminou com a morte de um dos bebês meu coração está abalado. Meu corpo esgotado. Nem sempre são lágrimas de alegria e emoção. Nem sempre tem pais zelosos a segurarem a mão de mães assustadas prometendo amor eterno. Muito mais comum é termos mulheres sozinhas. Adolescentes acompanhadas de suas mães ou nem isso.

Essa noite foi a vez de uma adolescente que chegou sozinha, assustada e esperando dois bebês. Ela nem mesmo sabia que eram dois, não tinha ninguém com ela. Não tinha ninguém para quem ligar. Solidão é algo devastador e penso que comigo é um pouco assim. Ninguém para me oferecer uma xicara de café quente, para ouvir meus lamentos depois de uma noite difícil de plantão. Sinto falta do olhar perdido de Steve, dele com os olhos cravados no celular fingindo que me ouvia antes de me levar para cama.

Era só mesmo isso que o interessava e da tristeza surge a raiva e mesmo esgotada eu decido que está mesmo na hora de dar fim ao relacionamento que só existia em minha mente distraída. Pego uma caixa de papelão, começo a correr a casa em busca de seus pertences.

Um pijama, um par de chilenos, dois livros de cirurgia plástica, uma droga de romance policial mal escrito, o carregador de celular, sua escova de dentes, o creme de barbear de sua marca preferida que me custava um bom dinheiro e me sinto ridícula por comprar aquilo todos os meses apenas para agrada-lo. Sua geleia de pêssego sem açúcar por que o imbecil tinha medo de engordar, dessa vez sorrio, nenhuma foto nossa, nenhum presente dele que precisa ser devolvido. Como eu pude ser idiota por tanto tempo?

Mando mensagem para que ele passe em meu apartamento quando sair do hospital. Depois me atiro na cama e durmo até a noite chegar.

Steve não tem a elegância de tocar a campainha, usa sua chave para entrar depois das oito, quando eu remexia as panelas no fogão preparando meu jantar. Ele me sorri despreocupado. Bonito, nem tanto olhando bem.

Paixões Gregas - Amor sem fronteiras (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora