Capítulo 5

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   Pov – Aysha

Os contraceptivos que dispomos está no fim. Assim como os preservativos. Uma garota que não tem mais que quatorze anos acaba de sair da minha tenda. Gravida de aproximadamente cinco meses.

Sinto que fazemos tão pouco. Ajuda humanitária é o nome do nosso trabalho, mas ao longo desses cinco últimos dias eu tenho medo de estar perdendo um pouco as esperanças. Depois de ver a garota passar pela fenda de tecido que funciona como porta meus olhos se esticam para Daren. Apresso meus passos para me aproximar dele.

O pequeno e raquítico bebê dorme. A fraqueza é a causa disso. Ele simplesmente não tem forças para ficar acordado. Sigo pelo mesmo caminho. Pareço ter areia nos olhos. Desde que nasceu há cinco dias eu não saio do seu lado. Não consigo. Me preocupo com todas as minhas forças. Estamos lutando.

Acaricio seus cabelos ralos. Seguro a mãozinha pequena. Não tenho um terço do que seria preciso para salva-lo. Mesmo assim nada me demove da ideia de continuar a tentar.

Ninguém tem qualquer esperança. Amália não cansa de me olhar com pena. Eu não ligo, eu só ligo para esse pequeno anjo. É para ele que estudei todos esses anos. Para ele que atravessei o oceano. Para todos os pequenos Darens e suas mães. Se desistir então qual a razão de estar aqui?

Meu corpo está esgotado. Minha cabeça lateja. A noite está quente e só queria que ele reagisse.

―Lute Daren. Preciso que me ajude. Precisa lutar comigo.

Me sento a seu lado. Na cadeira onde tenho passado todo tempo livre. Nunca mais voltei ao que eles chamam de dormitório. Encosto a cabeça sobre os braços ao lado de Daren, acho que adormeço no mesmo instante.

Uma mão toca meu ombro. Salto assustada. Amália e a enfermeira Carol estão diante de mim. A cabeça ainda lateja e Carol me estende uma garrafa de água.

Aceito tomando um longo gole. As duas se olham. Tem algo a dizer e meu coração se aperta.

―Está precisando dormir Aysha. – Balanço a cabeça negando. – Sim. Precisa. – Carol é incisiva e fico muda. Olho para o bebê silencioso ao meu lado. Elas seguem meu olhar. – Amália vai atender as crianças aqui e fica de olho nele por umas horas.

―Posso deitar aqui no chão e dormir um pouco.

―É tão bonito. – Amália diz depois de um suspiro. – Mas...

―Ele vai vencer! – Desafio. As duas trocam mais um olhar.

―Daren parte amanhã para Juba. – Carol comunica. Nego.

―Não mesmo. Ele não vai sobreviver a essa viagem. São horas sacolejando num carro.

―Temos três crianças órfãs. Eles todos estão indo para um orfanato.

―Não. Daren fica. Sou a obstetra. Essa é minha decisão e ele não está pronto para essa viagem.

―Nossos recursos são escassos. – Meus olhos marejam. Vou lutar por ele. Malai sonhou. Ela queria que eu fizesse isso.

―Ele só vai encontrar a morte no caminho. Apenas isso. Se chegar a Juba. Ainda que tenha essa chance sabemos o que vai acontecer. Eles estão sob ataque. Ekon me contou. Crianças e mulheres sendo sequestradas. Daren não tem forças para enfrentar isso. Ele não vai. – Fico de pé. Quando o próximo carro vem?

―Daqui duas semanas.

―Então ainda temos duas semanas. Posso conseguir leite com as gravidas. Ele vai conseguir mamar em breve.

Paixões Gregas - Amor sem fronteiras (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora