Capítulo 27 - Wicked game.

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A noite estava um pouco quente, final do verão nos Estados Unidos. Meus pés jogados para dentro da piscina ajudavam a aliviar um pouco o calor do meu corpo. Respirei fundo algumas vezes enquanto mantinha a cabeça erguida, os olhos fechados, o vento abafado soprando em meu rosto, minha cabeça em apenas uma coisa, digo, uma pessoa: Lauren.

Ela ainda não tinha me ligado, mas pelo horário já deveria estar em Miami há muito tempo. Depois da conversa que tive com meus pais, fiquei vagando pela casa como um zumbi. Não comi, não bebi, não fiz nada mais além de vagar… Sem rumo. Um vazio no peito, me sentia tão inerte a qualquer coisa ao meu redor e fora dos meus pensamentos que mal percebi quando alguém se sentou ao meu lado. Não abri os olhos, não tinha vontade. Talvez eu quisesse chorar, ou nadar, ou sofrer… Sozinha, ou com Lauren.

: - Lembra quando você era pequenininha e me gritava de madrugada para mandar embora o monstro que se escondia dentro do seu armário?

Era meu pai. Abri meus olhos e o fitei de canto, não o via desde a hora em que saiu. Sorri um pouco triste, as lembranças daquela época feliz e despreocupada tomando conta da minha mente.

: - Como esquecer? Se não fosse o senhor eu jamais teria voltado a dormir em todas as noites.

Ela riu baixinho, desviando seus olhos de meu rosto para encarar as luzes que iluminavam o jardim ao redor da piscina.

: - Me lembro como se fosse hoje o sorriso de felicidade que você me dava quando eu dizia “Pronto, hija, esse monstro feio foi embora com o rabo entre as pernas. Papai vai te proteger sempre.”

Ele sorriu triste, assim como eu, e abaixou a cabeça. Meu coração pulsava dentro do meu peito com uma dor diferente, uma dor aguda de saudade, saudade de quando eu era criança, saudade de quando as minhas preocupações eram apenas fazer o trabalhinho do colégio e brincar. Saudade de me sentir segura embaixo das asas dos meus pais sem medo de ser atingida. Saudade do tempo que passou é um dos tipos mais dolorosos de agonia, porque você sabe que pode fazer o que for, esses tempos jamais irão voltar.

: - Você sempre me protegeu, pai, nunca faltou com sua promessa. – Eu disse sincera.

: - Eu não podia te proteger no colégio naqueles dias ruins, eu me sentia o pior pai do mundo quando você chegava em casa chorando, ou quando me ligava para ir buscá-la, pois não estava mais aguentando permanecer naquele inferno.

Meu pai tocou em um assunto que eu fazia questão de nunca tocar, de nunca pensar, de nunca lembrar. Aqueles anos no colégio foram os piores anos da minha vida, tinha dias que eu sentia vontade de fechar os meus olhos e não acordar mais.

: - Pai…

Eu queria interrompê-lo, mas ele não permitiu.

: - Me deixe falar, Camila, só me deixe falar.

Ele pediu com tanta dor em sua voz que não tive como dizer não, apenas abaixei a cabeça para ouvir, ouvir o que me machucava, ouvir o que lastimavelmente ainda me fazia chorar. Nunca iria esquecer a entrevista que demos para uma rádio, onde toquei no assunto e acabei derrubando mais lágrimas que o necessário na frente de todo mundo, ao vivo. Fiquei tão envergonhada que jurei para mim mesma aquele dia que jamais choraria por conta daquele assunto, mas lá estava eu novamente com o choro preso na garganta.

: - Minha vontade era de pegar você no colo e não soltar nunca, te proteger de todas as afrontas e de todo aquela maldade. Perdi as contas de quantas vezes fui até aquele colégio, me sentindo inútil por não poder ficar dentro da sala de aula com você, pronto para interceder se alguém ousasse falar ou fazer alguma coisa. Nada nunca me doeu tanto na vida. Um pai vendo sua filha ser maltratada e não poder fazer nada, nada além de trocar de colégios, pulando de um para o outro já que eu não tinha condições de lhe colocar para ter aulas particulares. – Quando olhei meu pai pude enxergar seus olhos molhados, seu rosto cansado contorcido em vestígios de arrependimento. – Eu fui um covarde e nunca vou me perdoar por isso.

Falling in love for the last time Onde histórias criam vida. Descubra agora