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resumo: Louis prova sorvete de iogurte com amora; o livro preferido de Harry definitivamente não é A Letra Escarlate; rotina, rotina e piquenique?


O pincel estava escapando do seu bolso, ele conseguia sentir, mas não podia fazer nada além de lamentar a inevitável perda e sentir pena de si mesmo porque aparentemente ele possuía dois pés esquerdos. Como humilhação pouca era bobagem, o capuz do moletom começou a escorregar, revelando a bagunça de fios que ele tinha a cara de pau de chamar de cabelos e suas mãos estavam ocupadas tentando segurar as duas telas e uma sacola com tintas. Tudo bem, um suspiro de derrota perpassou entre seus lábios.

A sala de aula do professor Josh estava a apenas um lance de escada e se ele fizesse força o suficiente, conseguiria ignorar as risadinhas abafadas e o seu rosto queimando como se tivesse pegado uma chuva de lavra e alcançá-la para se esconder lá dentro pelo resto do período. Não era nada que ele não estivesse acostumado e não era como se a humilhação pudesse ser ainda maior.

- Você parece estar precisando de uma mãozinha. – o peso da mochila sobre seus ombros sumiu, o pincel não cutucava mais as suas costas e a sua dignidade virava a esquina do corredor gritando um hasta la vista.

O gostinho doce e amável do carma e Louis e seus malditos pensamentos irritantes!

- Yep, acho que preciso. – concordou, porque, honestamente, o que havia para se fazer?

Que dia para estar vivo.

– Aula do Josh? – Harry perguntou e Louis finalmente o encarou pela primeira vez. Uma covinha gentil ao final do sorriso condolente, cachos desgrenhados e um casaco verde musgo sobrepondo uma camisa xadrez que, por favor, matem o Louis.

Ainda continuava a musa dos seus quadros. Checado.

– Sim. – disse simplesmente, observando que Harry não possuía nada além da sua mochila e seu pincel em mãos. – Você não vai de novo?

– Eu não preciso realmente comparecer às aulas do Josh. – respondeu educadamente, ajeitando a alça da mochila em seu ombro.

– Por que não?

– Me inscrevi como atividade extra e eles me deram a vaga porque houve desistente, mas não entra na minha grade por causa da minha ênfase.

– E você não vai às aulas?

O sorriso se espalhou pelo rosto de Harry.

– Às vezes. – ele deu de ombros, guardando o pincel no bolso da mochila – de onde ele não deveria ter saído.

– É bem estúpida a sua ideia então – Louis atirou, em uma das epifanias na qual o seu cérebro enviava o comando rápido demais para a sua língua e ele se tornava um maldito tamanduá. Ele suspirou, arrependido, e virou-se para Harry. – Merda, me desculpe.

Harry ergueu o olhar do chão, o sorriso de covinha na sua genuína calmaria e doçura de sempre.

– Por isso ou pelo bolo que levei ontem?

E então era isso. A pergunta. Louis não pensava que Harry simplesmente ignoraria o fato de ter sido rejeitado. Rejeitado não, não era essa a palavra. Louis havia cordialmente recusado o seu convite para faltar a uma aula porque ele simplesmente não conseguia ser essa pessoa espontânea. Faltar a aula do senhor Hemmings tinha sido uma exceção e a culpa já comia as suas entranhas ao pensar no que havia perdido.

De qualquer jeito, não era essa a imagem que Liam pintara sobre Harry. Não. Mas Louis ainda possuía um respingo de tinta de esperança que ele apenas ignorasse e continuasse sendo o persistente intrigante idiota que ele era e enquanto isso, ele o evitaria o máximo que pudesse até não sentir vontade de atear fogo em seu próprio cabelo toda vez que o visse pela universidade.

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