resumo: o natal chega mais cedo na casa de Sophia; eles bebem vinho demais; Harry fala demais; Louis é secretamente grato por isso.
A primeira e a última vez que pusera um cigarro na boca, Harry tinha quinze anos. Além de tossir como o asmático que era por horas e viciá-lo em sua bombinha novamente, o gosto era horrível e o cheiro sufocante. Incontáveis anos depois, colocando o lixo para fora na casa de Sophia e observando a praça logo a sua frente, os seus dedos formigavam com a urgência de segurar um cigarro entre eles e a sua garganta coçava com a ânsia pelo gosto esquisito que carregava uma falsa calmaria.
O fumante a quem observava levantou-se do gramado, jogou a bituca no chão e a esmagou com os pés; Harry caminhou lentamente até lá, observando-o se afastar pela direção oposta e pegou o cigarro quente entre os dedos, caminhou de volta até a frente da casa e jogou-o na lixeira. Fitando a grama esbranquiçada agora inabitada, o seu atestado de idiotice estava carimbado.
Pela deusa, Harry era muito patético.
Ele não queria um cigarro preenchendo o espaço entre seus dedos ou o gosto ruim inundando a sua garganta. Ninguém queria nicotina para preencher o oco em suas almas.
O que o preencheria possuía nome, sobrenome, um belo par de olhos azuis e um talento incrível com um pincel em mãos e um quadro branco a sua frente.
Ele não queria cigarros. O seu anseio era bater na porta de Louis e convidá-lo para qualquer passeio turístico bobo, o qual se tornaria incrível com a presença dele, mesmo que fosse apenas uma desculpa mais do que esfarrapada para conseguir qualquer mínimo toque em sua pele macia.
No entanto, os direitos que ele possuía de dirigir qualquer palavra a Louis eram tão existentes quanto o encontro que tivera com ele.
Se as crianças que brincavam na praça naquela hora começassem a jogar bolas de neve em sua direção, Harry provavelmente deitaria no chão e comeria todos os flocos de gelo porque era apenas o que ele merecia, honestamente.
Ele estava vivendo constantemente no limite, a voz de Louis prometendo que não se afastaria dele ressoando em sua mente todos os dias, apenas para fazê-lo colocar em dúvida se a sua decisão de se afastar e oferecer espaço a Louis era correta. Era uma tarefa difícil, viver na extrema margem e calcular até que linha ele poderia cruzar para não invadir a vida de Louis e, ao mesmo tempo, não parecer que estava o ignorando ou, pior ainda, que Harry não se importava com ele.
Louis era, na verdade, cada fragmento de seus pensamentos; bem como a preocupação com os seus sentimentos.
Durante a festa de Danielle, no último dia antes das férias de Natal, o olhar de Louis o escaldava. Quando ele pensava ser um momento adequado para se aproximar, Louis sorria tão leve, livre de preocupações que lhe fazia desistir em um piscar de olhos porque ele não era egoísta. Ele não queria ser. Deixar-se guiar pelo sentimento esquisito que incendiava o seu peito toda vez que a imagem de Louis, conversando com outro rapaz piscava em sua cabeça era ridículo e egoísta.
Pelo restante da festa e dos dias, Harry prendeu a si mesmo no looping de devo-ou-não-devo. Por mais árduo que fosse, ele continuava se lembrando de que Louis era livre e ele não possuía direito algum de se sentir incomodado por Louis ver outras pessoas. Harry, em pessoa, fora quem lhe dissera com todas as letras de que eles não tiveram um encontro. Parecia, cheirava, falava como um encontro, mas não era um maldito, estúpido e simples encontro.
Harry só tinha a si mesmo para culpar por isso.
O amontoado de culpa que Harry carregava só aumentava, ele não poderia negar, mas a culpa de não ser honesto com Louis ele não suportaria carregar. Todo o seu discurso fajuto e cafajeste sobre isso não é um encontro só o tornava um idiota e não uma pessoa íntegra e transparente como procurava ser. Não havia mais como adiar uma conversa honesta com Louis. Não havia mais como ignorar a intensidade de seus sentimentos.
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Tiptoe
Fanfiction"Talvez depois de pintá-lo com todos os verdes de sua paleta e em todos os ângulos que conseguisse lembrar, sua mente se libertasse do feitiço. O que Louis não sabia, no entanto, é que pincéis não são varinhas mágicas. E Harry Styles não encantava...