Sofrer em silêncio

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 Após terminar com toda a faxina do apartamento e me arrumar, decido colocar um vinho pra gelar. Assim, quando Nando chegar poderemos conversar e aproveitar a companhia um do outro, saboreando um vinho. Eu sempre cozinho algo pra gente nos finais de semana, mas hoje resolvi pedir uma pizza, assim sobra mais tempo pra que nós possamos namorar. Além disso eu não precisarei ficar com a barriga colada no fogão enquanto o Fernando assiste a algum jogo na televisão.

O interfone toca perto das 22h. Nando chegou. Confesso que estou muito chateada. Estou esperando há umas três horas. Achei que iriamos curtir a noite juntos, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Autorizo a subida dele e não me espanto ao abrir a porta e perceber que ele estava bebendo. O cheiro vem até mim sem pedir permissão.

-Oi Malu, meu amor. Desculpe a demora, eu encontrei uns parceiros num barzinho perto de casa e não podia fazer desfeita pra eles. Você cozinhou algo pra gente hoje, tô morrendo de fome.  –

A vontade de chorar me invade. Que merda. Os amigos, sempre os amigos não é mesmo? Foda-se, se não nos vemos a uma semana. Esses pensamentos turbulentos me atingem como bomba, mas fico em silêncio. Não quero brigar, nem discutir. Eu só queria que essa noite fosse divertida, tranquila, somente eu e ele.

-Oi Nando, eu não cozinhei hoje, achei que poderíamos pedir uma pizza. Separei um vinho pra gente tomar juntos. Achei que viria mais cedo.- dou espaço pra que ele passe, esperando um beijo, um abraço ou algo assim. Nem parece que faz dias que não nos vemos.

Ele entra e se joga no sofá, ligando a TV em seguida e escolhendo um canal que está passando jogos de futebol. Me deu um selinho, e nem notou que me arrumei. Nenhum elogio. Nada de "como foi sua semana amor"? "estava com saudades". Decido ignorar o bolo que se formou na minha garganta. Decido ignorar também as lembranças dos meus amigos dizendo que eu me acomodei à essa relação e que não sou feliz.

Eu sou muito feliz. E sou feliz com meu namorado, mesmo que nossa relação já não desperte suspiros há algum tempo. Mesmo que muitas vezes eu sinta uma pontinha de inveja daqueles casais românticos, daqueles caras que não poupam palavras pra elogiar suas parceiras. Eu gostaria que o Nando fizesse eu me sentir linda, sensual, amada. Mas não é o perfil dele ficar rasgando seda pro lado de ninguém. O que posso fazer? As pessoas são diferentes, cada uma demonstra afeto de um determinado jeito. O Nando cuida de mim quando saímos juntos. Ele me escolta, me mantém pra si, isso é uma forma de demonstrar amor. Proteção. 

Ligo pra pizzaria, faço o pedido e me sento ao seu lado no sofá. Faço um carinho no seu cabelo, enquanto seus olhos estão vidrados na tela, que passa um jogo qualquer. Decido puxar assunto, pois imagino que ele deva estar cansado devido ao trabalho da semana.

-Como foi sua semana amor? Muito trabalho?

-Não... foi tranquila, nada demais. Saí com os meninos pra um happy hour ontem a noite, e hj fui jogar bola. Tô cansado por isso - Nando fala e continua olhando pra televisão.

-Hmmm, você nem me avisou que iria sair, eu poderia ter ido junto ou marcado algo com a Soff, o Tiago - digo isso, magoada por ter ficado em casa enquanto ele estava se divertindo.

-Seu lugar não é no meio dos caras né, Malu. Lugar de mulher não é em barzinho. E outra, seus amigos são má companhia pra você, não quero te ver com eles andando na noitada não. Isso não é pra você!

-E o que é pra mim Nando? Ficar em casa em plena sexta, enquanto você se diverte com seus amigos? Eu também tenho que sair sabia? Trabalhei a semana toda. Um monte de problemas no trabalho, só dor de cabeça. Poxa vida, pensei que hoje fossemos curtir juntos, aí você chega super tarde e vem assistir futebol. Caramba!!! - exclamo exaltada.

-Malu - Nando exclama já sem paciência -eu não quero discutir de novo isso com você!! Quero ficar de boa, aqui assistindo com você de companhia. Quer melhor que isso? Vamos relaxar em casa, e outra, mulher minha não vai ficar saindo sem mim pra depois ficar mal falada. Agora, pega o vinho lá pra gente tomar. E chega desse papo. 

Olho sem palavras pra ele. É isso mesmo? Eu não posso sair sem ele porque vão falar mal, mas ele sai sem mim e tudo bem? Aquele bolo que tinha na minha garganta parece me sufocar. Quero gritar com ele, quero que se danem os que falam ou vão falar! Quero dizer que amo sair a noite, que amo baladas, que amo beber, que amo música alta explodindo nos meus ouvidos, quero dizer que amo meus amigos e sem eles não sou nada! Quero me sentir gostosa, linda, quero colocar um vestido vermelho, com um batom vermelho, com um esmalte escuro e me sentir exuberante.

 Mas não faço nada disso. Apenas levanto e vou até a cozinha pegar o vinho. Uma lágrima escorrega sem permissão. As palavras foram sufocadas pela mágoa, pela sensação de impotência, pelo medo de dizer coisas a ele e ele ir embora. Quero chorar, quero gritar. Quero libertar esse grito que está preso, mas como? 

***

Gritaaaaaaaaaaaaa Maluzinha, põe pra fora toda essa angústia. Toda essa vontade de poder dizer coisas que o medo te impossibilita! Não deixa que te sufoquem os sonhos, as vontades,a liberdade!

Será que é simples assim? Será que é tarefa fácil colocar pra fora os medos, os gritos, as angústias que nos aprisionam? Não é fácil, pelo contrário! É processo, é superação, aceitação! Vamos ajudar Malu a se libertar de suas prisões! <3 Beijas amores

Será que é simples assim? Será que é tarefa fácil colocar pra fora os medos, os gritos, as angústias que nos aprisionam? Não é fácil, pelo contrário! É processo, é superação, aceitação! Vamos ajudar Malu a se libertar de suas prisões! <3 Beijas am...

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