Tirando a venda dos olhos

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Após sair do abraço triplo mais gostoso do mundo, me pego sorrindo de orelha a orelha. Meus amigos me olham e Soff e Ti não param de dizer o quanto estou gata. Bem, isso tem muito a ver com a escolha que fiz. Há tempos que uma onda sufocante tem tomado conta das minhas escolhas. Não poder vestir aquilo que gosto, não poder sair com meus amigos, não poder ir a uma festa, não, não e não. Afinal, que tipo de relação é essa? Se a cor que mais amo é vermelho, mas estou proibida de usar, porque me torna vulgar, realça minhas curvas. Se meus amigos não me vêem a semanas, porque aparentemente não são boas companhias pra mim. Se as festas que eu amava ir, não fazem parte da minha programação há anos. Ó céus, que merda é essa que estou metida? Me sinto aprisionada numa penitenciária de segurança máxima de ciúme e controle obsessivo do Nando. Muito diferente daquilo que sou. Confio cegamente, porque não quero ter ninguém preso a mim por medo, insegurança ou coisas do tipo. 

 Nos tempos em que eu valorizava mais a companhia dos meus amigos, estava sempre confortável e me sentia protegida por eles. Nós sempre prezamos pelo cuidado um do outro, sempre apoiando as escolhas que fazíamos, independente do que fosse. Nunca julgamos as escolhas alheias por mais insignificantes que aparentassem ser e principalmente Soff e Ti buscavam sempre desmitificar certos preconceitos que reproduzíamos sem perceber. Por isso estar na presença deles me faz tão bem, que chego a emanar raios de felicidade. 

***

-Trouxe um presente pra você Gui - digo isso com um sorriso sincero, ao mesmo tempo em que tiro da minha bolsa uma pequena caixinha de presente e entrego a ele. Soff e Ti nos observam atentos, com sorrisos de boca e de olhos.

-Que é isso, Malu, você sabe que eu não sou pilhado nessas coisas. Sua presença aqui é o melhor presente. Já faz tanto tempo que não te vejo, que o fato de você estar aqui pra mim é tudo - Gui, levanta e me abraça apertado e sinto que o melhor lugar do mundo com certeza é na companhia dos meus amigos. 

-Abre logo isso maluco, estou louca pra ver o presente - Soff eletrizada de curiosidade, quase tira a caixinha das mãos do Gui para que ela mesma abra, enquanto Ti bebe seus drinks esquisitos.

Guilherme, desfaz o pequeno lacinho da caixinha e quando vê o presente, fecha os olhos e sorri. Sei que o presente diz muito da nossa relação e das vezes que compartilhamos nossos sonhos, nossos planos e expectativas. A primeira coisa que me veio a mente na hora de escolher seu presente foi isso e tenho certeza que significa muito pra nossa amizade. 

-Nossa Malu, eu não acredito! É perfeita, nem acredito que se lembra. Isso é demais, muito muito importante pra mim - Gui diz isso ao mesmo tempo que mostra o presente a Soff e Ti, que não estão entendendo nada e ficam com cara de tontos, enquanto eu e Gui rimos do nosso segredo particular.

-Gente, na moral, estamos aqui sem entender nada. Lógico que isso é bonitinho, mas...-tiro a pequena ampulheta das mãos da Soff e devolvo ao Gui, porque do jeito que é desastrada é capaz de deixá-la cair. 

-Soff, isso é uma ampulheta

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-Soff, isso é uma ampulheta. Tem um significado importante pra gente, pra nossa amizade. Quando acharmos que a distância, a ausência se aprofunda, temos a ampulheta como norte pra nos mostrar que nós devemos fazer nosso tempo, nós devemos usá-lo a nosso favor. Aproveitar os momentos, e fazer deles único. Simboliza que mesmo com as dificuldades, ainda há tempo pra que possamos compartilhar bons momentos e que nossa amizade é mais forte do qualquer distância- Guilherme termina de dar sua explicação e guarda a ampulheta na caixinha novamente, colocando-a no bolso da jaqueta. Soff e Ti dizem que é super bonitinho nosso segredo, mas que infelizmente não é mais nosso segredo, e que eles precisam inventar algo bonitinho pra eles também. Com certeza a bebida já está agindo no organismo deles. 

Pedimos mais uma rodada de cervejas, cantamos parabéns pro Gui, dançamos, rimos e jogamos conversa fora. As 05h da manhã damos a noite por encerrada, pagamos nossa conta e vamos pra fora da casa de show. Ti veio de carro, mas como mora do outro lado da cidade, fica totalmente fora de mão para nos dar carona, por isso nós três resolvemos ir de táxi. Enquanto esperamos, Soff e Gui dizem o quanto precisamos repetir essa noite. Eu assinto, mas como a bebida me deixou lesada, tenho dificuldades pra interagir na mesma velocidade que eles. O táxi chega em instantes. Nos deixa em nosso destino, cada um com suas expectativas e eu com uma certeza. A minha felicidade está aqui com eles e viver com Alessandro não é o que almejo pra mim, por isso, essa história tem hora para acabar.

***

Uauuuuu! É isso mesmo produção? Será?

Uauuuuu! É isso mesmo produção? Será?

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