|Capítulo 1 - Onde tudo começou

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Antes que eu percebesse, tinha enchido minha banheira com uma tinta vermelha, misturada com terror, sofrimento, angústia, raiva... uma mistura que poucos conhecem, uma mistura fria e amarga. Quer saber o por quê? Minha mãe faleceu, teve câncer de pulmão.
Minha mãe faleceu, a mulher que eu mais amo nesse Mundo. A mulher que eu confiava mais que tudo. A mulher que trabalhava todos os dias, 24 horas, para eu ter o que vestir, me alimentar, ir para a escola, comprar o celularzinho da moda (mesmo sabendo que não ia durar muito tempo em minhas mãos), só para me ver feliz. Por que minha mãe era assim. A mulher mais feliz do mundo, mesmo ganhando mizeros centavos. Minha mãe era guerreira, a minha guerreira, de mais ninguém.

Me lembro até hoje do dia que recebi essa notícia: Tinha 6 anos (hoje tenho 16), meus tios e tias se reuniram lá em casa, e me explicaram, que a minha mãe estava dodoi,  e que teria que passar um tempinho no hospital,  só que logo logo tudo ia ficar bem. Eu, com a cabeça de uma criança de 6 anos, não sabia direito o que aquilo significa, e muito menos de perceber que eles estavam mentindo para mim, pois ela já estava no estágio terminal do câncer. Ia morrer. Corri para o meu quarto, mesmo não sabendo direito o que estava acontecendo. Quando sem querer, passo pelo banheiro e vejo a minha mãe, sentada no chão, chorando, raspando seus lindos cachos azuis, azuis da cor do céu, cachos parecendo molas, tão sedosos quanto algodão. Também não entendi. Mas mesmo assim, vou até ela, abraça-la. Choro. Consigo sentir o sofrimento dela em mim. E ali mesmo, sentadas no chão do banheiro, eu agarrada nela e ela em mim, adormecemos.

Sra. Piscopata de Pulsos CortadosOnde histórias criam vida. Descubra agora