A porta do meu quarto se abriu lentamente, mostrado apenas o rosto confuso de minha mãe.— Já é segunda-feira, você não saiu do seu quarto todo o fim de semana e eu estou começando a ficar preocupada com você, Nicolas Rosemberg.
Ela disse num fio de voz.
— Eu tô bem, mãe.
— Se estivesse, não diria isso. — disse convicta.
— Acontece que eu estou bem.
— Ótimo, porque você tem visita.
Franzo o cenho.
— Visita? Não estou esperando ninguém...
— Por favor, querida... — minha mãe olhou para fora do quarto e sorriu para alguém que eu ainda não podia ver.
Mas, no segundo seguinte, a porta do quarto se abriu por completo e mostrou Vaida Collins com um sorriso tímido nos lábios.
— Vou deixar vocês a sós. Nick, seja educado. — minha mãe ordena, me fazendo encará-la com raiva.
Desvio meus olhos da coroa e suspiro fundo.
— Oi. — Vaida fala segundos após a saída de minha mãe.
— O que está fazendo aqui?
— Eu te mandei várias mensagens durante o fim de semana, você não me respondeu, pensei que tivesse morrido.
Abro um sorriso irônico.
— Eu estou vivo, como já deve ter notado...
Vaida semicerra os olhos em mim.
— Não precisa agir feito um idiota, Nicolas.
— Não? — arqueio o cenho. — Porque foi exatamente assim que você agiu quando me deixou lá, na maldita poltrona de hospital, dormindo e... Ainda por cima, sozinho, feito um otário.
— Eu só não queria te incomodar...
— Me incomodar, Vaida? Não ia me incomodar avisar que estava liberada, assim eu poderia vir para casa e descansar tranquilamente.
— Acontece que...
— Acontece que a única idiota aqui é você, não eu.
— Eu não te pedi para ficar lá comigo, eu não te pedi nada. E eu só vim aqui porque notei que o que o fiz, para você, pode não ter sido algo legal. No entanto, para mim, foi um ato de compaixão.
— Compaixão? — gargalho. — Deixe-me dizer o que é compaixão: eu te vi sozinha, grog, numa maca de hospital e tudo que eu pensei foi em ajudá-la. Acha que eu gosto de hospitais? O meu melhor amigo está lá há quatro anos e eu o visitei... — ponderei. — Três vezes, acho?!
— Nick...
— Eu não sei quem você é, Vaida. Mas percebi que há uma muralha em sua volta. Não se preocupe, não quero invadir seu espaço.
— Nicolas...
— Se é só isso, você pode ir porque estou muito ocupado...
— Eu não sou indefesa. — ela começa. — Moro sozinha desde os quinze e aprendi muita coisa com a vida. Aprendi a sobreviver. Não sou uma garotinha assustada e amedrontada. Sou uma mulher. Tenho medos, sim. Afinal, quem não tem? Mas a gente aprende a lidar com eles. A amenizá-los. Eu não sei porque diabos eu conheci você, mas minha mente insiste em dizer que não foi por acaso. Tem algum motivo para isso e... Eu estou aqui hoje porque preciso descobrir qual é o real motivo de ter ter conhecido.
Suspiro fundo, derrotado.
Um silêncio assustador se instala, e não tenho forças para dizer nada.
Vaida, então, toma o silêncio como uma forma minha de mandá-la embora. E quando ela já está prestes a abrir a porta, minha voz soa tão baixo que o medo de que ela não me escute fala mais alto:
— Você... Quer dar uma volta?
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O Tipo Certo de Mulher dos Sonhos.
Short Story#23 categoria Conto em 13/06/18. #67 categoria Conto em 16/05/17. Nicolas é o típico galinha. Ele faz a linha do pega, mas não se apega. Essa é sua filosofia de vida e ele se julga muito bem, obrigado. Entretanto, ao conhecer Vaida Collins em mais u...