Eu não conseguia enxergar nada, lágrimas se acumulavam nos cantos dos meus olhos. Victor me puxava pelo pulso, enquanto eu escutava o carro de bombeiro chegar, e apagar o incêndio. Nunca me senti tão culpado em toda minha vida. Eu acabei com a festa, eu causei prejuízo...
Não sabia pra onde Victor estava me levando, também não era essa a questão: porque eu estava deixando ele me levar, ele me tocar, depois de tudo que ele fez? Estávamos no calçadão da praia, havia muita movimentação por causa do incêndio, carros passavam toda hora ao meu lado, já que a avenida era pequena, e a maior faixa era para ciclistas.
-Me solta! -Disse parando bruscamente. - Victor, mandei me soltar!
-Não! -Ele me respondeu, o vento agitando seu cabelo e uma tênue linha de fumaça do incêndio passava por nós -Você está, VOCÊ É: completamente insano!
-Insano? -gritei- Eu não sou insano! Naquele momento eu vi que eu realmente não era insano, eu era MUITO INSANO. Me soltei de Victor e corri para a avenida movimentada, sem prestar atenção em nada.
No começo eu só ouvi o som de buzina, depois uma luz se abria vagamente, me cegando. Era um carro, que já estava quase que em cima de mim. Foi quando um impacto desnorteante me jogou no chão, Victor havia se jogado para me empurrar pra longe do carro, mas ele, assim como eu, não era tão bom em física. Ele foi atingindo pelo carro, e caiu a alguns metros longe de mim. A única coisa que eu ouvi foi o meu grito chamando seu nome, depois eu levantei e corri até ele.
-Victor! Victor! -ele estava inconsciente e dessa vez as lágrimas não se acumularam, elas caiam loucamente. O motorista saiu do carro e corria para uma das varia ambulâncias que estacionaram no meio-fio perto da praia, para ajudar as pessoas que podiam ter se machucado com o incêndio.
***Eu estava em um quarto escuro, e uma luz azul surgiu em cima de mim, algo queimava meu braço, e de repente a sala toda estava em chamas, e eu era engolido pelo fogo.
Acordei gritando, segurando no braço da poltrona. O cheiro de hospital invadia meu nariz. A porta se abriu e a tia de Victor entrou no quarto.
-Pietro- Ela falou -Você está bem?
-Estou bem sim -respondi- Foi só um pesadelo. -Vitória, a tia de Victor a qual ele veio passar férias era muito bonita, seus cabelos eram volumosos, lisos com alguns cachos no final e muito sedosos. Ela estava na casa dos trinta anos, e era extremamente elegante.
-Por que você não vai para casa? -Ela perguntou, me entregando um suco de maracujá. -Você dormiu aqui todos os dois dias, conversei com o médico, amanhã Victor já vai ter alta. Ele melhorou bastante, mas vai ficar de repouso em casa.
-Nossa! -falei- que ótimo! - Victor teve fraturas leves, mas o médico disse que o corpo dele doía, ele ficou inconsistente porque bateu a cabeça, então o médico o deixou em observação, caso tivesse alguma reação. A gente quase não conversou esse dois dias, na maioria do tempo ele estava dormindo ou sedado para não sentir dor. Eu não queria conversar com ele, mas eu não poderia evitar isso, uma hora ou outra.
****
Victor e eu estávamos na sacada do prédio, olhando para as estrelas, a noite estava abafada e o céu estava lindo. Ele já havia tido alta fazia dois dias, e eu passei esses dias fugindo dele, não queria atrapalhar o repouso dele, mas agora ele já estava melhor e queria conversar, havia curativos em sua testa e queixo.
-Sério, qual o seu problema pra fazer aquilo? -perguntei- por qual motivo você se jogou na frente de um carro? -Olhei atentamente em seus olhos, apoiando no parapeito da sacada. -Não que eu não esteja grato e tal... mas... você salvou minha vida, e poderia ter perdido a sua.
-Pietro -Ele respondeu- Minha vida não seria nada sem a sua. Eu errei, e você ficou bravo, e eu entendo. Lembre-me de nunca te irritar
-Pode deixar que eu lembro sim! -Respondi, rindo. -Eu queria te pedir desculpas, eu fui muito idiota!
-você nunca é idiota-Victor respondeu- Eu sou idiota, eu fui idiota em beijar o Zeca....
-Realmente...-Falei mas ele me interrompeu, levantando a mão, e tirou do bolso a pulseira. -Toma! -ele me entregou, e eu peguei. -É sua, por favor, nunca me devolva, você não sabe como doeu.
O interfone tocou. Eu fui atender e era o zelador, dizendo que tinha gente querendo falar comigo na entrada do prédio.
***
Victor e eu saímos do Hall de entrada, e fomos caminhando até o portão de entrada, e uma luz vermelha refletia no prédio, era a polícia.
-Pietro? -Um policial perguntou, minha mãe e meu pai estavam conversando com ele, desesperados. -Tivemos uma denúncia que você começou um incêndio na praia, queira nos acompanhar, com seus responsáveis.
-Meu filho não fez isso! -Minha mãe gritava, e meu pai mandava ela parar.
-Senhora, eu sou só o mensageiro, vocês precisam ir na delegacia.....
Virei pro Victor, que segurava meus ombros, passando confiança.
-Não me deixa -Falei, com os olhos cheios de lágrimas -Por favor, não me deixa!
-Eu nunca vou te deixar... -Ele respondeu.
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O VERÃO DA MINHA VIDA
RomancePietro tem 16 anos, nunca beijou, nunca foi correspondido, até as suas férias de verão na praia de Mongaguá, aonde ele conhece pessoas e experiências novas.