5- MAIS QUE BELO DESASTRE

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                               A delegacia cheirava a café, medo e uma pitada de ansiedade. Estávamos do lado de fora, na sala de espera. Eu estava sentando no meio, entre meu pai e minha mãe. A delegacia de Mongaguá era estranha, parecia a de filmes antigos.
                               Eu não falei nada durante um bom tempo, e os meus pais também não me perguntaram nada, e assim era melhor. Eu estava  com vergonha e super culpado. EU REALMENTE INCENDIEI UM FESTIVAL, e não queria deixar isso transparecer, não pros meus pais. Mas meu plano era contar tudo pro delegado, mesmo que isso significasse a raiva dos meus pais, e claro, a nossa volta pra São Paulo.
                               Victor também foi chamado. Segundo o delegado, a pessoa que nos denunciou disse que ele estava junto também.
                             Fomos chamados para entrar na sala juntos. Minha mãe ficou do meu lado e a tia de Victor do dele.
-Muito bem rapazes! -O delegado disse, a mesa a nossa frente parecia um oceano até o delegado, sentado e eu me senti pequeno. - Sei que a adolescência é meio estranha, mas isso não significa inicendiar as praias por aí.
-Calma! -A tia de Victor falou. -Como vocês têm tanta certeza que foram eles? Há provas?
-Senhora, provas não há, apenas a denúncia de duas testemunhas. -Explicou o delegado. -E por isso eles foram chamados aqui. Para esclarecimentos. -o delegado nos olhou, seus olhos eram azuis oceano, e seu cabelo, grisalho. -Eu queria conversar a sós com os meninos, para eles ficarem mais a vontade.
                  Minha mãe me olhou, perguntando se estava tudo bem. Nós éramos de menores, então não acho que ele podia nos prender ou qualquer coisa do tipo.
-Pode ir, mãe. -falei.
-Vai com ela tia. -Victor falou, e as duas saíram da sala.
-Então, vocês vão me contar o que aconteceu? -O delegado perguntou, e eu vi a plaquinha em cima da sua mesa, com seu nome "Jordanny" e, por uma fração de segundos eu me vi contando tudo, e meu cérebro rapidamente fez eu abrir a boca.
-Então... -Comecei, eu iria contar tudo, eu era um incendiário e merecia ser punido.
-Não fomos nós! - Victor rapidamente se intrometeu, e eu olhei para ele de lado, estranhando. -Não foram? -O delegado perguntou, e eu vi um sorriso malicioso se formar em seus lábios. - Por acaso -Ele desbloqueou o seu celular e mostrou uma foto -Essa foto foi uma das pessoas que denuncio vocês  quem me mandou -Era eu e Victor, discutindo, e depois outra, eu empurrando o cilindro de fogo.
                              Meu coração acelerou, ou parou, não sei. Victor colocou as mãos sobre a minha, ele estava quente, e eu, gelado. Por um momento, por um segundo, eu esqueci de tudo, era como se seu toque me fizesse ficar dormente no espaço, no universo, me levando para uma dimensão paralela.
-Bem -Victor falou. -A foto não está clara, pode ser qualquer um.
-Pode mesmo. -O delegado falou.- Mas, sabe, essas roupas, será que não estão  no guarda roupa de vocês? -O sorriso do delegado se alargou. -Enfim, apenas eu tenho essas fotos, foi mandada diretamente para mim, não está no meio das provas. -Aonde isso estava nos levando? Segurei a mão de Victor mais forte, e acho que ele sentiu um pouco de dor, mas não deu sinal disso.
-E o que você quer? -Victor perguntou, com um tom um pouco elevado, e eu não entendi direito o que estava acontecendo, até certo ponto, é claro.
-Eu posso sumir com essas fotos! -O delegado falou, arqueando a sobrancelha. -Eu só preciso que vocês.... digamos, se beijem, na minha frente.
-O que? -Victor perguntou. -Qual é a porcaria do seu problema?
-Eu adoro beijos -O delegado nojento falou.
                               Eu só queria que aquilo acabasse, TUDO aquilo, então, virei para Victor, me inclinei na cadeira  e o beijei. Apesar do momento ser difícil, e eu notar que o delegado tarado estava nos secando, o beijo foi bom. Foi o meu segundo beijo, e diferente do primeiro, esse saiu sincronizado, e Victor foi tão carinhoso que eu me senti um pouco menos estranho. Sua mão acariciava minha bochecha mas eu a afastei. Eu não queria, eu não devia. E não era assim que eu imaginava. Assim que paramos o delegado bateu palmas:
-Uau, isso foi ótimos. Esclarecimentos dados, estão livres.
                            ***
   
                    Assim que saímos da sala minha mãe estava nos esperando, junto com a tia de Victor, nós falamos que tudo não passou de uma confusão, e que não tínhamos nada a ver com o incêndio. Pedi para minha mãe para voltar para o prédio a pé, e ela deixou, Victor me acompanhou.
                           Porém, assim que saímos da delegacia, eu desabei em lágrimas, que desciam feito espinhos, ardidos e doloroso. Eu corri, corri muito, o vento e a maresia batiam no meu rosto, e eu entrei na praia, me agachando na areia.
-Pietro! -Victor gritou, e sentou do meu lado. -O que foi? O beijo foi tão ruim assim?
-Não! Não é isso!-Falei. -Não era assim que eu imaginava, o primeiro já foi um desastre e o segundo, foi até que bom... mas as circunstâncias.... Eu me senti usado, um lixo, imponente.
-Eu odeio saber que fiz você sentir isso. -Victor se desculpou.
-Não! -Falei. -Você me fez suportar isso, se fosse com outra pessoa eu acho que teria morrido, você foi como minha âncora, obrigado!
-Tudo bem -Victor falou. -Se não foi eu, foi o delegado. E eu prometo Pietro, prometo pela minha vida que ele vai pagar por ter feito você se sentir assim.

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⏰ Última atualização: Nov 23, 2016 ⏰

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