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O celular do Lucas não parava de tocar nem por reza.

No relógio marcava seis e meia da manhã,e eu comecei a me perguntar quem seria. Trabalho não poderia ser. Lucas tem sua própria empresa,o que significa que ele é seu próprio chefe.

Resolvi não pensar muito nisso,nem meter o nariz na privacidade dele. Se fosse alguma coisa que ele quisesse me contar,iria fazer isso quando estivesse pronto. Eu podia esperar.

Levantei, já que estava acordado e não conseguia mais dormir.

Fiz um café e fui para a varanda,encontrando Cal sentado em uma das cadeiras,bebendo um café e fumando.

"Não sabia que você fumava." Falei,sentando na cadeira do lado.

"Quer?" Respondeu,desinteressado na minha pergunta.

Balancei a cabeça,fazendo um sim.

"Por que tá acordado a essa hora?" Ele continuou.

"O celular do Lucas não para de tocar. E você?" Traguei o cigarro.

"Tive uma briga com meu namorado e decidi vir pra varanda pensar." Ele bebeu um pouco de café.

"Qual foi o motivo da briga?" Olhei pra ele.

"Ele tá saindo com uma garota. Acredita? Eu não me importaria em ter um ficante que fica com outras garotas enquanto tá comigo,mas ele é meu namorado." Bebeu mais café.

"Você vai terminar com ele?"

"Vou."

"Faz bem." Traguei o cigarro de novo.

"E também vou viajar por uns dias. Lucas me deu um emprego na empresa dele,e,antes de começar,quero descansar a cabeça e o corpo." Colocou a caneca no chão. "Agora eu vou dormir aqui mesmo. Bom dia." Jogou o cigarro dentro da caneca e abaixou os óculos escuros que estavam na cabeça.

"Bom dia." Levantei - "Ah,espera,sabado é aniversário do Lucas. Você vai estar aqui,certo?" Perguntei e fui para dentro,ouvindo ele gritar um sim.

Fui até o quarto e o celular do Lucas ainda tocava e ele ainda estava dormindo.

Peguei a toalha e fui para o banheiro. Estavam todos dormindo então não vi problema em deixar a porta destrancada.

Entrei no box e tirei a roupa,deixando ali dentro mesmo,sem me importa que iriam molhar.

Comecei a me ensaboar e terminei rápido,mas não queria sair dali tão cedo. Então fechei os olhos e deixei a água cair por todo meu corpo,me relaxando.

Comecei a pensar na minha mãe.

Uma mulher baixinha e com um sorriso lindo,que só tinha amor pra dar. A vizinhança toda amava ela. Mas quando ela precisou,ninguem tava la pra ajudar. Acho que só amavam a torta de morango que ela fazia sempre.

Lembro do dia em que meu pai foi embora. Uma confusão.

Eu estava brincando no quarto,com o Carlos,um amigo meu desde que eu tinha me mudado para ali. Comecei a ouvir minha mãe gritar e depois meu pai,gritavam coisas que eu não entendia,talvez por que estavam muito longe ou por que eu era pequeno e conhecia poucas palavras. Umas coisas quebraram,inclusive o braço esquerdo da minha mãe. No dia seguinte perguntei por que ela estava usando aquilo no braço e ela não respondeu,entao conclui que foi culpa do que aconteceu na outra noite. Eu fiquei assustado, não sabia se ficava ali no quarto ou se descia as escadas. Decidi ficar ali,aconchegado no abraço de Carlos,que percebeu meu estado.

Mas depois, as coisas começaram a ficar pior,minha mãe gritava mais e mais e eu não ouvia a voz do meu pai.

Depois,o silêncio se estabeleceu,e eu resolvi descer. Pedi a Carlos que ficasse ali.

Desci com cuidado,um pé na frente do outro,como papai me ensinou.

Olhei para a cozinha e só vi algumas coisas quebradas. Continuei olhando e não vi ninguém. Decidi voltar para o quarto,mas quando estava virando para subir ouvi minha mãe dizer:

"Eu não amo mais você,John. E tudo que eu quero é que você vá embora. Por favor."

Depois ela saiu do quarto deles e me viu na escada. Não falou nada. Não deu um passo.

Depois veio meu pai,que disse,depois de hesitar um pouco:

"Michael...sua mãe e eu...achamos melhor morarmos em casas diferentes. Eu não queria isso,nem a mamãe,nem você,mas nem tudo é como a gente quer,certo? As vezes as coisas doem e as vezes elas nos fazem sorri. E eu não quero ver você chorar,nem a mamãe,por que isso não é um adeus, não é motivo de choro. Vai ficar tudo bem. Eu te amo." Me beijou na testa e saiu pela porta,sem ousar olhar nos olhos da minha mãe.

Mas era sim um motivo de choro. Era sim um adeus. Ninguém sabia, mas era.

"No que tá pensando?" Lucas colocou suas mãos quentes na minha cintura e começou a dar vários beijos no meu pescoço.

"Nem vi você chegar." Me virei,com cuidado.

"Surpresa!" Riu. "Mas então,meu amor,no que estava pensando?" Continuou.

"Bom,eu estava pensando no que vou te dar de presente. Seu aniversário ta chegando gato."

"Eu não gosto de festas de aniversário. Então me prometa que não vai ter festa."

"Vai ter festa." Sorri recebendo uma careta como resposta.

Agora eu realmente vou ter que pensar em um presente. Será que meu corpo e o tempo que passo com ele não é o suficiente?

Depois do banho saímos do apartamento e fomos tomar café da manhã em um Starbucks que tinha na esquina.

Era estranho namorar de novo. Quer dizer,esse é o meu único namoro em que eu estou realmente me esforçando,que estou gostando de verdade. Ele é o cara que eu realmente amo agora.

"Amor?"

"Hum?" Respondi,sem presta muita atenção.

"Olha."

Cheguei mais perto da vitrine. Ele estava apontando para um anel de flores. Era pequeno e parecia de mentira,e eu queria acreditar que o preço também era de mentira.

"Você quer querido? Vamos ali e depois voltamos,ai a gente compra. Ta bom?" Brinquei.

Ele fez uma careta e segurou minha mão de novo. Voltamos a andar.

"Você já pensou em casar amor?" Perguntou.

"Não. Eu nunca achei alguém para fazer tamanha ousadia. E também...meus pais,eles tiverem um termino feio,tenho medo de que isso aconteça comigo."

"Ei." Ele me puxou pra mais perto. "Sua vida não vai ser igual a dos seus pais. Vai ser melhor." Me beijou.

"Eu acredito em você." Falei baixinho.

"Eu te amo."

"Eu te amo também,Lucas."

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Chegamos em casa e Calum estava pronto para sair.

"Vocês demoraram. Eu já estava desistindo de dizer tchau pessoalmente." Falou,pegando a mala. "Volto sábado,para seu aniversário. Se comportem e não façam o que eu não faria. Façam pior." Riu, abraçou nós dois e saiu.

Deitei no sofá e Lucas foi para o quarto.

Liguei a TV e estava passando um documentário sobre teorias envolvendo o governo.

Será que os mortos voltam,como zumbis, e o governo prendem todos em um lugar,longe de tudo e todos,e mata todos eles? Por que um apocalipse zumbi ninguém quer. Pensei.

"Eu não quero saber de você. Caralho,entenda isso e para de me ligar." Ouvi Lucas falar do quarto.

Resolvi não ir ate la. Como antes,resolvi esperar ele estar pronto para me contar o que quisesse contar.

Minutos depois ele volto. Foi ate a cozinha e bebeu um copo de água e ficou parado do lado da mesinha de centro.

"Que foi?" Perguntei,curioso.

"Michael... eu tenho outro namorado."

USOnde histórias criam vida. Descubra agora