Parecia uma festa de natal. Quando todos estão animados e ansiosos para abrir seus presentes. Tem aquele que ganha o brinquedo que tanto queria. Mas também tem aquele que ninguém gosta muito,e que,por isso,ganha um par de meias.
Eu me senti ganhando um par de meias.
Na verdade ganhar um par de meias séria incrível. Afinal poderia ser útil qualquer dia. Mas isso que o Lucas acabou de dizer não séria útil. Eu não iria pegar isso na gaveta qualquer dia e usar.
"O que?" Perguntei,incrédulo.
"Michael,eu preciso te explicar melhor. Eu preciso que você deixe eu fazer isso." Falou,sentando na poltrona à frente do sofá.
Fiquei em silêncio. Eu quero ouvir o que ele tem pra dizer. Claro que também quero sair correndo dali e ir para um lugar quieto onde eu possa pensar melhor e processar o que ouvi antes. Mas eu gosto dele,gosto de verdade. E não acredito que ele tenha me traído,que tenha brincado comigo,me feito de bobo. Não estamos no colegial mais.
"Três anos atrás,eu conheci um cara em nova York. Ele era super gente boa e o primeiro cara que me aceitou,quer dizer,eu tinha acabado de me assumir. Falei primeiro para a minha família,claro,odiaram saber disso. Me colocaram pra fora de casa,como se eu fosse uma visita que fez coisa errada. Eu estava sozinho. Sem meu melhor amigo. E,esse cara,me disse tudo que eu precisava ouvir. Me deu apoio. A gente começou a namorar e eu estava morando com ele até me estabilizar,conseguir um emprego,uma casa etc. Quando eu consegui isso,eu me mudei pro meu novo apartamento,o que foi difícil fazer,por que ele não queria que eu saísse,nas exatas palavras dele,"da minha asa." Mas no final eu consegui convencer ele. Não foi do jeito que eu queria,cada um na sua casa. Ele se mudou junto comigo. Sem perguntar nada,eu cheguei em casa e ele estava lá sentando no sofá. A gente teve uma briga,por que eu não queria ele ali,eu queria um certo espaço. Não foi um simples bate boca. Ele me bateu,como se pudesse mesmo fazer isso. Depois pediu desculpas fingindo que não tinha acontecido nada. Mas como eu ia ignorar o fato dele ter batido minha cabeça na parede, simplesmente por que eu não queria ele ali? Eu sai do apartamento,corri e corri,ate minhas pernas pedirem socorro. Quando o Calum voltou de uma viagem,me chamou pra ir morar com ele e trabalhar onde ele trabalhava,a gente tinha se formado na mesma coisa,mas a carreira dele deslanchou primeiro. O cara sumiu por um tempo e eu comecei a namorar de novo,dessa vez o cara era bem diferente,carinhoso e gentil. Ai,ele voltou. Acabou com a minha felicidade,de novo. Fiquei um tempo longe de tudo,em uma séria depressão. Me recuperei com a ajuda de um psicologo,que depois veio a ser meu namorado. E adivinha? O cara voltou. E dessa vez foi pior. Ele estava totalmente louco. Tanto que matou o meu namorado. Eu fiquei em depressão de novo. Eu estava com medo,assustado. Calum me ajudou dessa vez. Disse que tinha uma casa aqui,em San Francisco,e eu só queria ficar o mais longe possível daquele cara, então pedi pro meu chefe alguma coisa aqui e ele me recomendou para uma empresa,que me aceitou,ai eu vim pra ca. Agora esse cara me achou. -ele parou de falar e abaixou a cabeça.- E eu estou com medo Michael. Não por mim,mas por você. Eu te amo e não quero que algum ruim aconteça com você. Por mais que me dói dizer adeus -ele chorava baixinho.- eu vou dizer. É melhor pra você."
Lágrimas caiam dos meus olhos e a única reação que eu tive foi levantar e ir até ele. O abracei,bem forte,e senti suas lágrimas molharem minha blusa.
"Eu te amo. E eu estou aqui com você, não vou te deixar. Não vou deixar você dizer adeus.Eu prometo,Lucas,vai ficar tudo bem."
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Estamos sentados no chão,os corpos colados,tentando processar tudo. Aquecendo um ao outro,e tentando ninar um ao outro. Mas ninguém dorme,e ninguém fala nada.
Ninguém consegue falar.
É surreal saber desse lado da vida de Lucas. Mas ao mesmo tempo estou feliz em saber,me sinto mais próximo dele agora,e também,com mais vontade de estar com ele.
Mais do que nunca eu tenho certeza que eu amo ele.
E também sinto uma enorme vontade de contar pra ele o que aconteceu comigo. De contar um dos piores momentos que já vivi. Afinal somos namorados,amigos. E eu não quero esconder nada dele,ele me contou uma coisa muito íntima. Sinto que devo fazer o mesmo.
"Lucas..." Chamo baixinho. Ele não mexe um músculo apenas fala um "hum?".
"Eu já fui estuprado." Digo mais baixo que imaginei. Ele levanta devagar do meu abraço e olha nos meus olhos. Eu continuo. "Eu estava em uma festa,e desde que eu tinha chegado lá,um cara ficava me encarando. Eu não me importei muito,achei que era um garoto qualquer afim de mim. Bebi e dancei muito. Mas a questão é que,depois de um tempo,eu acordei em um quarto escuro,sentia uma puta dor de cabeça e também uma certa dor na região anal. Eu levantei devagar,na verdade,tentei levantar,o cara me segurava tão forte,como se eu fosse um travesseiro onde ele podia descontar a raiva. Eu sentia tanta dor e estava tão assustado. Comecei a chorar e a gritar por ajuda. Parecia que alguém estava lá na casa,alem dele e de mim,mas não foi me ajudar. Foi horrível. Depois daquilo eu me sentia sujo e assustado o tempo todo..." -ele chegou mais perto de mim e me calou com um beijo lento e demorado.
- Agora eu estou aqui. E posso te ajudar quando você precisar.
Ele continuou me beijando e eu senti uma certa paz. Me lembrei do dia que fomos no parque e eu disse que só tinha andado de roda gigante uma vez,e que foi horrível. O garoto que estava sentado comigo vomitou em mim enquanto eu estava apavorado e vomitado também. Foi uma bagunça e eu quase cai de lá.
Quando o Lucas conseguiu me convencer a ir naquela roda gigante ali,eu me vi apavorado de novo. Ele me segurou forte e disse que ia ficar tudo bem. E ficou tudo bem afinal. Naquele momento eu me apaixonei de novo. Eu vi um novo Lucas,um cara romântico e que se importava de verdade. E não o cara que eu conheci quando cheguei,um cara frio que só queria se divertir.
Eu gosto disso. Gosto do Lucas que só quer se divertir e do Lucas romântico. Gosto de ter um namorado que gosta mesmo de mim,que se importa com o namoro.
Me sinto tão bem com ele que até dói.
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Ele já estava chegando os beijos ate a borda da minha bermuda, quando Calum entra no apartamento,fazendo Lucas se assustar e se afastar de imediato de mim.-Atrapalhei alguma coisa?-Calum perguntou depois de sentar na poltrona. -Ah,e feliz aniversário! -disse,logo pulando no Lucas,o fazendo gargalhar.
-Obrigado. - agradeceu,ainda rindo.
-Fecha a porta Calum. -pedi, pegando a caneca no chão e levantando.
-Ah, não,meu namorado ta subindo.
-Hmmmm -eu e Lucas falamos em couro.
Ouvi o barulho do elevador e parei no meio da sala,para olhar o tal namorado do Calum.
Ele falou alguma coisa antes de entrar,mas eu não ouvi muito bem. "Aqui amor!" Calum gritou. Olhei pro Lucas e ele estava olhando pra mim,pouco interessado no que estava acontecendo.
Finalmente o namorado do Calum entrou. Olhei de imediato para a porta.
-Pessoal, Ashton Irwin. Meu namorado.

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Fanfiction"E eu agradeço por ter vivido tudo isso. Agradeço por ter conhecido o amor da minha vida."