Capítulo XIV - Parte 1

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 A minha infância e a maior parte de minha adolescência foram solitárias. Mary e Henrique são assoberbados com política, economia, tradições e futilidades. France era minha única companheira. Tive afinidades com alguns professores. Falava com os convidados nos eventos reais, e apenas neles as gêmeas estavam ao meu lado. Tinha minhas aulas, o piano, meu esconderijo. Por vezes, achava um bom livro e me entretinha com ele. E era mais que comum que a solidão, o medo de jamais ter alguém, a tristeza e a sensação de inutilidade me dominarem. Eu passava tempo demais sozinha com meus pensamentos, mesmo que eu possuísse materialmente tudo o que desejava. A natureza sempre teve uma ação calmante sobre mim nesses instantes complicados. Ocupava-me a olhá-la, ou a cuidar do jardim. Hoje eu fui ao jardim, observa-lo junto com a visão da Floresta Amaretem, onde passaremos dias caminhando.

Tenho de perguntar a Ed se ele já arranjou tudo o que precisamos e hoje mesmo me despedirei de Katy. Então podemos partir amanhã ou depois de amanhã. Não suporto mais a pressão que sinto quando estou próxima de Fernando, e ter de estar a mentir a todo momento. Bom, há pelo menos, uma consequência boa na presença de Fernando e Blair. Mary e Henrique não estou suspeitando que minha relação com meu "irmão" ultrapasse a amizade.

É tão irônico que tudo o que desejei toda a minha era um marido que viesse a me amar. Alguém exatamente como Fernando. E é isso o que posso ter agora. Antes de eu finalmente conhecer Edgar, mesmo que tivéssemos vivido na mesma casa durante toda a minha vida, era o que fantasiava no meu esconderijo. Mas então, ele revela-me o segredo e um buraco grande se abre no meu coração ao me contar. Nos conhecemos melhor e em não muitos dias, estamos apaixonados. Ele abraçava-me, beijava-me e fazia perguntas que nunca me foram feitas. Ele me amava e me ama, assim como eu o amo. Só ele tem o poder de me fazer sentir extasiada, maravilhada e totalmente embevecida.

Ed é egoísta algumas vezes. Ousado, corajoso, rebelde, impulsivo, sensível. Assim como eu, era solitário e triste. Sente fortes ciúmes e possessividade e tem medo de perder o que temos. Ele também adora a natureza, a acha gloriosa. Mesmo com seus momentos de bravura e cólera, é divertido e carinhoso. Eu o acho intenso. E mesmo aberto comigo, sempre sinto que há mais a conhecer. O que há de errado com nosso amor? Por que, afinal, temos que fugir? Nosso amor foi e é algo natural... Às vezes me questiono, se de fato pedíssemos que Mary e Henrique revelassem que não sou filha deles ao povo, para que eles pudessem aceitar nosso romance, eles não acatariam o pedido.

A eminente partida para um desconhecido futuro, me deixou mais pensativa. Refleti muito sobre mim, sobre Edgar, sobre minha vida. Ontem, enquanto Ed dormia, fiquei despertada a pensar. Muitos questionamentos rondam minha mente. Será que, também, não conhecerei meus pais nunca? Nunca saberei quem são eles?

No desjejum, após a ida ao jardim, somente Mary, Henrique e Ed estão sentados. Acordei cedo e nem todos acordaram. Dou um "bom dia", e um grande sorriso ao meu amor.

– Acha que todas as coisas já estão prontas para nossa partida? – Murmuro a Edgar.

– Dê me somente mais um dia, meu bem.

Antes mesmo que posso respondê-lo, Blair adentra com seu sorriso irritante. Ela está com um vestido rosa, com a saia muito grande para a ocasião. E a muitos babados nele, semelhante as vestes de crianças. Reviro meus olhos automaticamente

– Muito bom dia, Vossas Altezas. Muito bom dia, Vossas Majestades – nos cumprimenta. – Repito que é uma honra estar no grande palácio de Dipertionis. Jamais imaginei que teria tamanho prazer.

– É muito bem-vinda aqui, Blair – Ed começa a responder e a família Solares passa pela porta.

– Bom dia, minha querida – diz Fernando e dá um beijo em minha face.

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