Capítulo I - Parte 2

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Sou encaminhada pela saída do jardim, a uma das entradas do palácio. Então, a rota se torna impressionantemente familiar. Subir as escadas até o quarto andar, adentrar no quarto cômodo à esquerda do corredor a direta, uma sala de descanso. Nele, outra porta conduz a um quarto pequeno e empoeirado, com uma escada pequena e apertada. Edgar conhece o esconderijo, mas será que sabe que é meu? Quando chegamos ao pequeno compartimento, ele finalmente esclarece a situação:

– Sei que adora esse lugar. É o seu esconderijo. Não se chateie, não planejo roubá-lo.

Ouço-o perfeitamente, estamos sentados lado a lado num espaço apertado; sua voz é mesmo deslumbrante. Estou surpreendida. Deveria supor, ele é uma pessoa observadora... Parece estar sempre a pensar.

– Perseguistes-me? Pensei que todos desconhecessem meu pequeno espaço.

– É a verdade. Desconhecem, exceto eu.

Eu não falo mais nada, e ele também. Não reconheço o porquê, porém, não me aborrece que conheça meu esconderijo pessoal. Não o enxergo como um invasor. Olho a janela, ainda o mesmo sol nublado da manhã, totalmente cinza. Lembro-me daquele segredo mencionado a pouco, esquecido por uns instantes, e minha curiosidade desperta. Esse dia está sendo tão estranho.

– Conte o seu segredo, Edgar.

– Acalme-se, Celine. Não é bem um segredo, mas acho que você gostaria de conhecer esses fatos – ele suspira e, por fim, me segreda. – É explicitamente proibido a todos falar-te algo... Desde seu nascimento se iniciaram boatos e fofocas. Escutei de funcionários antigos do palácio, meu lacaio comentou, e uma vez nossos pais, quando era mais novo, que determinaram que estava proibido de contar a você. Boatos...de que você não tem sangue real, ou ao todo real. Fruto de...

A notícia curta que vem em escassas palavras – embora Edgar alongue as sentenças, receoso –, não tem nenhum efeito imediato em minha mente. Apenas muito interesse, e eu o interrompo.

– E como esse absurdo boato seria verdade?! Nosso pais confirmaram o boato? O que todos lhe disseram?!

– Você por algum motivo deve ter sido adotada e criada por eles. Nunca compreendi e não tive nenhuma fonte confiável. E é claro, pode não passar de um boato bobo. E não, eles jamais confirmaram a história. Apenas questionaram se eu sabia do boato e ao dizer que sim, exigiram que eu não lhe contasse. E sobre meu lacaio quando era criança, perguntei-lhe se era estranho não gostar de minha irmã mais nova, e ele me respondeu que não eras minha irmã, então não deveria me preocupar. Além dos comentários suspeitos dos funcionários sobre vossa mercê...

– É por isso que me ignora desde nossa infância? Por que não tem a confirmação que sou sua irmã? –Solto o que a minha mente deduz.

– Não, não é essa a razão...

Não questiono mais nada e ele não fala mais nada. São necessários poucos minutos de reflexão para que meus olhos lacrimejem, refletindo em silêncio com pensamentos desconexos. Esforço-me para controlar o choro, antes que se inicie, e ainda assim, a primeira lágrima já rola pelo meu rosto. Mordo os lábios com força. Não quero ser fraca, contudo estou em prantos em poucos segundos.

Meu pranto não é exclusivamente pela notícia! Tudo está uma bagunça! Eu sou triste, muito triste! Não tenho nenhum amor e quais são as chances de se apaixonar pelo homem que casarei?! Céus! E se Mary e Henrique não forem meus pais?! Quem seriam meus pais?! E como fui cair nas mãos do rei e da rainha?! Meu choro aumenta. Será que sou sequer digna de estar aqui...? Pensamentos repetitivos sobre minha solidão invadem minha mente.

O Céu de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora