Capítulo Um

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14 de fevereiro de 2005

São 6h00 e o alarme do despertador tocou, mas acordei uns 30 minutos antes porque precisei ir ao banheiro. É meu primeiro dia no trabalho e já estou devidamente instalado no meu novo apartamento, com exceção de algumas caixas que não precisavam ser desempacotadas com urgência então estou deixando pra depois. Consegui encontrar um lugar que corresponde as minhas expectativas: grande o suficiente para receber visitas, mas pequeno o suficiente para um só morador. Esse tem o tamanho exato e ainda é próximo do meu local de trabalho, mas a melhor parte é poder ver a Space Needle pela janela do meu quarto e, se eu forçar um pouco mais a vista, também posso enxergar algumas barcas atracando no porto, além do pôr-do-Sol que fica incrível. A mistura de cores no céu é de tirar o fôlego.

Já estou pronto para trabalhar. Preciso estar no trabalho somente às 08h00, então ainda tenho tempo suficiente para tomar um café, mas não consigo achar a cafeteira. Com certeza deve estar nas caixas que eu julguei como "não urgentes" e eu não vou mexer nelas agora, até porque não sei em qual delas está. Ainda bem que a alguns quarteirões daqui tem o The 5 Point Cafe e eu tenho tempo de sobra para ir até lá e depois ir caminhando até o escritório.

Entro no The 5 e o sino na porta soa anunciando a minha chegada. Posso ouvir uma música tocando num volume bem baixo. Eu acho que é In These Arms do Bon Jovi, mas não tenho certeza, pois está se misturando com o som das conversas. Dei uma leve checada nas pessoas que estão aqui e me deparei com a mesma moça que conheci no bar do hotel. Ela está usando um vestido azul marinho que realça a cor da sua pele muito branca e o brilho dos seus cabelos. Tão linda quanto na outra noite. Chego perto da mesa onde ela se encontra sentada, mas está tão concentrada no seu jornal que nem nota a minha presença. Eu pigarreio para chamar a sua atenção, ela me olha me dá um sorriso bastante convidativo.

- Posso sentar? – eu digo enquanto ela continua sorrindo, faz que sim com a cabeça e toma um gole do seu café.

- Então isso é uma perseguição? – ela diz com um ar brincalhão.

- Ah, droga! Você descobriu. – eu entro na brincadeira.

Chamei a garçonete e pedi um café.

– Então, eu achei que ainda fosse ver você pelo hotel, assim eu teria a chance de perguntar seu nome, mas você sumiu...

- O que aconteceu foi que eu recebi uma ligação da minha corretora de imóveis confirmando a compra do meu novo apartamento na manhã do dia seguinte àquela noite. Eu já estava de malas prontas, então só fiz o check-out e corri pra lá. Aliás, me chamo Ellen.

- Patrick – disse enquanto estendia minha mão para cumprimenta-la. – Agora sim, devidamente apresentados. Espera aí, você não havia dito que também estava procurando um apartamento.

- Claro. Eu havia acabado de lhe conhecer. Não ia dar muitos detalhes sobre a minha vida!

- Mas eu também tinha acabado de conhecer você e contei quase tudo sobre mim.

- O problema não é meu se você sai contando as histórias da sua vida para qualquer pessoa. – ela ri.

Olho o relógio e já são 07h30. Eu preciso ir, senão me atrasarei para o meu primeiro dia.

- Já está na minha hora. Tenho 30 minutos para chegar até o trabalho e vou andando, então tenho que ir. – puxo a carteira do bolso e aceno para que a garçonete traga a conta.

Ela checa o relógio no próprio pulso e começou a arrumar suas coisas.

- Eu também preciso ir. Hoje é meu primeiro dia e não quero me atrasar.

A moça trouxe a conta da nossa mesa, eu paguei e já estamos andando para sair dali. Eu abro a porta para que ela possa passar e ela me agradece com um sorriso.

- Onde fica seu trabalho? – eu pergunto.

- Na Broad Street com a 2nd Avenue.

- Só pode ser brincadeira! – eu gargalho.

- O que? – ela me olha tentando entender o motivo da risada.

- Você é Ellen Pompeo?

- Sim. Mas como você sabe meu sobrenome?

- Bom, é que meu chefe havia me dito que tinha contratado uma Ellen Pompeo pra trabalhar no escritório, mas eu achei que seu nome fosse só uma coincidência.

- Ah, então você é o Paddy, amigo do John? Você é bem diferente do que eu imaginei.

Já estamos chegando ao prédio do escritório e eu estou espantado com tudo isso.

- Você me imaginou? – eu pergunto sendo sarcástico.

- Claro que sim! Quando o seu chefe diz que você vai ter que trabalhar com alguém desconhecido, você torce pra que essa pessoa não seja um idiota.

- E então?

- Então o que?

- Eu não sou um idiota, né? – eu pergunto fazendo um olhar triste.

- Sendo bem sincera... – ela me dá mais uma dose daquela risada gostosa – Não, você não é um idiota.

A campainha do elevedor toca e isso quer dizer que já estamos no nosso andar. A porta abre e Ellen caminha pra fora, indo em direção à porta que tem seu nome escrito.

- Bom trabalho, Paddy.

- Bom trabalho, Ellen. – eu digo enquanto abro a porta que tem meu nome.

**

Já é quase a hora de ir embora e eu não saí da minha sala nem para o almoço porque tinha muita papelada pra resolver. Aliás, ainda tenho, mas, como já está quase no fim do meu expediente, eu resolvi deixar para amanhã.

Não vi Ellen durante o dia inteiro. Acredito que ela está cheia de trabalho também, afinal abrir um escritório de advocacia requer uma burocracia enorme, mesmo sendo uma filial de um escritório já existente.

Arrumo as minhas coisas para ir pra casa e decido passar na sala dela para ver se ela também já vai. Bato na porta torcendo para que ela diga sim, pois eu tenho adorado as poucas horas que passamos juntos.

- Pode entrar! – ela grita lá de dentro.

- Você já está indo? Podemos ir caminhando juntos, se você quiser.

- Ah, na verdade, não. Tem muitos papeis aqui e não gosto de deixá-los acumular, então vou ficar mais algumas horinhas.

Eu fico encarando-a por alguns minutos.

- O que foi? – ela finalmente tira os olhos dos papeis e me olha.

- Você gostaria de ir jantar comigo amanhã? – eu digo já me preparando para ouvir um não.

Ela me encara com uma expressão de surpresa, marcada pela sua sobrancelha arqueada.

- Tudo bem se você não quiser. – posso sentir as minhas bochechas pegando fogo.

Eu não sou nada tímido. Pelo contrário. Sou muito seguro das minhas ações e só me arrependo daquilo que não faço, mas essa mulher causa em mim um efeito que eu ainda não consegui entender.

- Pegue-me às 20h00 – ela diz deixando um sorriso escapar da sua boca.

- Combinado! Apenas anote seu endereço e eu vou buscá-la.

- Para onde nós vamos? – ela diz caminhando para me entregar o papel com o endereço.

Eu a encaro dos pés a cabeça, com o meu melhor sorriso.

- É surpresa!

- Ok, então. Até amanhã! - ela arqueia a sobrancelha novamente.

- Até amanhã.

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