Ellen Pompeo:
Subi as escadas com mil pensamentos na cabeça sobre o que poderia ter acontecido. Entrei no apartamento e me deparo com a mesma pilha de roupas que deixei enquanto me arrumava. Eu poderia ir organizar, mas a minha imaginação não me deixa em paz e eu sinto uma vontade enorme de ligar para o Patrick pra saber o que aconteceu, mesmo que não faça nem 10 minutos que ele saiu daqui. Pego o celular e fico encarando por alguns segundos antes de decidir ligar e, quando faço, só ouço três bips e vai direto pra caixa postal.
- Oi. Sou eu Ellen. Nem pude me despedir direito, mas quero que saiba que amei a nossa noite e também liguei pra saber se você está bem. Ligue quando puder, ou mande um SMS. Eu realmente preciso saber se você está bem. Beijo.
Qualquer coisa que tenha acontecido em Nova Iorque não pode ser menos que sério, pois o ele saiu daqui quase voando.Não, literalmente voando afinal ele vai pegar um avião.
Vou até a adega e pego uma garrafa de vinho. Sei que já bebi no jantar, mas preciso espantar meus pensamentos da cabeça. Sento na poltrona reclinável da sala e pego o controle para ver se tem alguma coisa decente passando na TV. Nada. Só um monte de bobagem. Opa. É o som de SMS no meu celular.
"Estou bem. Obrigada pela preocupação. Eu também gostei bastante da nossa noite e espero que haja outras. Conversamos quando eu voltar. Beijo."
Agora posso dormir um pouco menos preocupada. Seja lá o que aconteceu, se for tão grave, ele vai dizer.
Patrick Dempsey:
"Oi. Sou eu Ellen. Nem pude me despedir direito, mas quero que saiba que amei a nossa noite e também liguei pra saber se você está bem. Ligue quando puder, ou mande um SMS. Eu realmente preciso saber se você está bem. Beijo."
Eu estou apavorado mesmo não sabendo a gravidade da situação. Porém ao ouvir essas palavras eu percebo que, mesmo que nos conheçamos há pouco tempo, ela se importa comigo e, por um momento, desejei que estivesse indo comigo, mas quero poupá-la do estresse que vai ser.
O que mais me assustou nisso tudo foi que quem me ligou foi a minha sogra. Nós nunca fomos muito próximos e as únicas vezes que ela me ligou foram quando o celular da Jillian não estava funcionando, por isso, receber uma ligação dela só deixou tudo pior. Ela não quis me explicar o que ouve pelo telefone, mas sei que deve ter sido algo grave.
...
- O que aconteceu? – pergunto para minha sogra que está visivelmente aflita com tudo isso.
- Ela escorregou e caiu da escada e, antes de ser levada pela ambulância, pediu que eu lhe chamasse.
- Vocês são os familiares da Jillian Dempsey? – pergunta uma moça que eu suponho que seja uma cirurgiã. – Ela está bem. Não sofreu nenhum ferimento grave, mas o bebê...
- Bebê? – será que eu ouvi certo? Jill estava grávida?
- Sim. Você deve ser o esposo. Sinto muito pela sua perda, mas não conseguimos salvar a criança. Querem ir vê-la?
Vejo os pais dela se abraçando e chorando e não consigo distinguir se é felicidade pela filha que está bem, ou tristeza pelo neto que se foi. Mas a Jill estava grávida? E o bebê era meu? Não faz nem um mês que saí de casa e ela nunca me disse nada.
- Ela deve estar um pouco grogue por causa da anestesia e talvez não lembre o que houve, então tenham um pouco de paciência e sejam cuidadosos quando forem falar sobre o bebê. – a cirurgiã avisa antes de nos deixar entrar no quarto.
- Oi, querida. – diz a mãe dela enquanto uma Jill confusa percorre os olhos pelo quarto procurando alguém específico e parece que esse alguém sou eu.
Essa é a hora em que eu deveria esquecer todos os problemas que passamos afinal nós ainda somos casados e ela acabou de passar por um trauma horrível.
- Oi, Jill. – digo enquanto alcanço sua mão para segurar.
- O bebê está bem?
Fico sem saber o que dizer. Eu não sabia da existência dessa criança até alguns minutos atrás e não sei como explicar para ela que...
- Não, querida. – diz a mãe de Jill, percebendo a minha falta de atitude. – O bebê não resistiu à queda e os médicos não conseguiram salvá-lo.
Jillian começa a chorar desesperadamente e eu, em choque, fiz a pior coisa que poderia ter feito naquele momento: saí do quarto. Não tive nem coragem o suficiente para confortá-la ou sequer ficar parado lá enquanto os pais faziam isso por mim.
...
Uma semana depois do acidente
Hoje é o dia em que a Jill vem pra casa. Os pais dela ficaram de ir buscá-la no hospital, enquanto eu fiquei encarregado de cuidar do apartamento para que tudo esteja adaptado, já que ela não pode fazer muito esforço e eu não posso ficar muito tempo devido ao trabalho. Contratei uma enfermeira para que ela não fique sozinha e nós já temos uma empregada para fazer a limpeza, então essa parte não será problema, exceto que ela vai ter algumas tarefas a mais até que a Jill esteja totalmente recuperada.
Meu telefone toca e eu vejo que é do escritório aqui de Nova Iorque. Imagino que seja algo sobre Seattle.
- Alô? Sr. Dempsey?
- Eu mesmo. Pode falar.
- Os papéis do seu divórcio estão prontos. Quando vocês podem vir assinar?
Por um momento eu esqueci essa parte da minha vida. Naquele breve momento enquanto arrumava a casa para receber a minha esposa. Mas, infelizmente, a realidade é outra e precisamos ir assinar os papéis. Lógico que eu não queria dar essa notícia para ela depois do trauma pelo qual passou, mas é necessário.
- Eu ligo amanhã para confirmar. Pode ser?
- Tudo bem. Estou no aguardo.
...
Já é hora do jantar. Estamos Jill e eu sentados em lados opostos da mesa. Ela está claramente abatida, mas eu preciso lhe falar sobre o divórcio. Não quero parecer insensível, mas não vejo a hora disso acabar.
- Hoje ligaram do escritório. Os papéis do divórcio estão prontos e precisam saber quando podemos ir assinar.
- Por Deus, Patrick! Você não podia esperar eu terminar meu jantar?
- Ah qual é, Jill! Você me traiu! Você perdeu um filho, eu sei, mas eu não sei se a criança era minha e você espera que isso conserte as coisas, eu esqueça o que você fez e fiquemos juntos para sempre? Você deve ser mais esperta que isso. Existe algo chamado confiança, Jillian. Já ouviu falar? Confiança é algo que, quando se perde, é muito difícil recuperar. – eu deveria ter pensado mais antes de começar a falar tanta bobagem.
- É claro que o bebê era seu, estúpido! Eu já estava grávida quando dormi com o Phillip. E eu sei que isso não melhora as coisas, mas eu queria essa criança tendo você por perto ou não. Então não, eu não espero que você se arrependa e volte atrás. Só pedi pra lhe chamarem porque achei que você deveria saber sobre o bebê porque no fim de tudo você era o pai, então o mínimo que você poderia fazer era esperar um momento melhor para me dizer. Tenha um pouco de consideração por alguém além de você mesmo! Eu sei que errei, mas você também não é um santo e eu não mereço ser crucificada por um erro no qual nós dois tivemos culpa, mas, já que você não aguenta mais um dia sequer casado comigo, iremos amanhã assinar esses malditos papéis!