Capítulo 8- Um quarto pra dois

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Eu não falei uma palavra com Yoongi, nem com ninguém. Porque eu matei aula durante uns quinze dias. Sem minha mãe saber, é claro, porque se ela soubesse me mataria.

Eu ''ia'' para a aula e esperava ela sair para o trabalho. Quando ela saía eu entrava com minhas chaves. Ficava vendo filme ou dormindo. Quando ela chegava me encontrava ''estudando'' no meu quarto. É que ela sempre chegava em casa depois de mim, então sempre me encontrava em casa antes dela.

Então ela nem desconfiou. Mas eu sabia que logo a escola iria ligar para perguntar sobre minhas faltas. Quando eles ligaram segunda feira da terceira semana que eu faltei, eu atendi.

Lógico que eu fingi ser minha mãe.

-Ah, minha filha está muito doente. Com febre, dor no corpo... Mas amanhã ela estará aí, para comparecer a aula... Tudo bem, obrigada... (isso fui eu com voz grossa).

Eu tinha que ir para a aula no dia seguinte... Infelizmente. O inverno já havia chegado, então estava nevando um pouco do lado de fora.

De repente, ouço uma batidinha na janela do meu quarto. A mão que era branca. Muito branca. Era o Yoongi. Abri a janela e vi que era ele mesmo.

-Beleza? –ele disse.

-Yoongi, o que está fazendo aqui?

-Ah, não sei... Mas, dá para você me deixar entrar? Acho que não vou conseguir descer daqui.

Ele estava em cima de uma árvore, que dava pra janela do meu quarto. Eu o deixei entrar, porque estava muito frio.

Ele estava de touca vermelha e cachecol cinza, a calça era preta, assim como a o casaco. Ele entrou no meu quarto. Como meu quarto tinha aquecedor, ele logo foi tirando aquele monte de roupa. Tirou o cachecol, a touca e o casaco. Ele usava uma camiseta amarela com o símbolo dos ''Rolling Stones''.

Sim, eu reparo bastante nas pessoas... 

Ele olhou em volta, examinando meu quarto. Eu falei para ele se sentar no meu puff, pois era a única coisa que tinha além da minha cama. Ele se sentou. Ele olhou para mim, me analisou em meio milésimo e esboçou um sorrisinho, enquanto desviou o olhar.

Foi quando me lembrei de que eu estava de pijama branco de bolinhas pretas, que era super-revelador... Que vergonha... Mas agora não adiantaria nada tirar...

-Ahn... Você... Tá com frio? Eu posso fazer um chocolate-quente...

-Eu aceito.

-Nossa... *risadinha*

-Não vou negar um chocolate-quente... Muito menos um que venha de você.

Fiquei vermelha. Mas fui pegar o chocolate.

Quando eu voltei, encontrei Yoongi dormindo no puff. Devia estar cansado. Eu não ia acordá-lo... Mas, por conta do meu jeito desastrado, eu fiz barulho enquanto andava no meu quarto e ele acordou.

-Puxa vida, Elisa... Eu estava quase sonhando.

-Eu... Trouxe o chocolate.

Entreguei-lhe o chocolate. Ele bebeu calmamente. Quando acabou, deitou a cabeça para trás, fechou os olhos e relaxou o corpo. Eu apenas fiquei olhando. Na verdade, eu estava com vontade de falar com ele sobre o beijo na sala, para esclarecer melhor o assunto. Mas ele estava tão relaxado... Achei melhor ficar quieta e deixá-lo ali.

Mas ai ele se ergueu de repente.

-Olha... Eu vim aqui... Pra... Falar do que aconteceu há uns dias atrás...

-Não precisa falar nada, Yoongi - por que eu disse isso?????

-Não, eu preciso sim. E vou falar. Aquilo foi por impulso, e eu... Bom...

Por um segundo, eu queria estar surda, só para não ter que ouvir Yoongi dizendo que não estava afim de mim, e que só tinha feito aquilo para me fazer sentir melhor. Mas... Ele se levantou e se sentou do meu lado.

-Eu te beijei, mesmo sem saber se você queria ou não. Eu te desrespeitei ao invadir seu espaço... Espero que não esteja com... Raiva de mim.

Eu sorri.

-Não. Não estou com raiva.

-É sério?

-É.

-Que alívio... Eu não tenho muitos amigos na escola. Então se eu te perder, não vou ter ninguém para zoar comigo...

Eu ri e ele riu também.

Mas, de repente tudo mudou.

Eu estava tão perto dele... Num lugar tão silencioso... Só nós dois, um momento tão aconchegante, num dia tão frio...

Ninguém podia nos irritar. Nada podia nos atrapalhar.

Um momento perfeito... Mas, porém, era um momento em que ele poderia fazer o que quisesse comigo, não importava o que se eu quisesse ou não. E ninguém ia ficar sabendo por que só tínhamos nós dois ali.

Era um lugar onde ninguém me escutaria gritar... E essa ideia me perturbou. Muito.

Então, aconteceu de novo. Nossos olhares se encontraram. Mas aquilo demorou tipo, um milhão de anos! Ele segurou meu rosto e o puxou suave e lentamente para perto dele, para que ele pudesse me beijar. Quando nossos lábios já estavam quase se encostando, eu o afastei de mim.

Ele me olhou confuso. Meu coração ardia de tanto que batia.

-O que foi?

-Não é nada...

-Você... Não... Quer me beijar?

-Não, não é isso.

-Então o que é?

-Eu sei onde vai dar... E não quero que dê onde vai dar...

-E onde vai dar?

Naquele momento, minha mãe chegou.

-ELISA, MINHA FILHA... CHEGUEI.

Eu entrei em pânico. Ele pareceu em pânico também. O que uma mãe pensaria se visse sua filha e um garoto conversando sozinhos no quarto? Provavelmente não reagiria bem. Eu expulsei Yoongi pela janela. Mas ele ainda estava apenas com a blusa dos ''Rolling Stones''. E lá fora estava uma neve tremenda.

Eu o mandei descer logo que eu ia jogar as coisas pela janela. Ele saiu e eu taquei as coisas dele. Fechei a janela e me virei aliviada. Minha mãe entrou no quarto.

-Oi filha. Como foi o dia?

-Uma merda. Agora, me deixa, por favor?

-Ok, me chame se precisar de ajuda... Ei, espera um pouco... O que é isso?

Minha mãe apontou para um cachecol cinza... Agora o bicho ia pegar. Yoongi esqueceu o cachecol dele...

-É... O cachecol da minha amiga... É! Eu me esqueci de devolver a ela... Que tonta eu sou...

-Ah, tudo bem. Vou preparar o jantar então.

Que alívio. Foi por muito pouco.


Isso não era para ser uma história de AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora