Um

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I watch your troubled eyes as you rest

And I fall in love with every breath

Wonder if those eyes are really shut

And am I the one you're dreaming of?


Ela deu sorte.

É o que o médico de plantão diz a Ryland quando ele chega ao hospital às três da madrugada, com o rosto ainda inchado de sono.

Ele pensa em ser rude e perguntar como ela poderia ter dado sorte de ter enfiado a porra do carro no meio de um poste àquela hora da madrugada.

Porém, seu lado racional vence antes que ele perca o controle, lhe relembrando que o médico não tem culpa do fato de que seu coração não consegue desacelerar e suas mãos estão tremendo compulsivamente e ele não vai conseguir ficar em paz consigo mesmo até vê-la e enxergar por seus próprios olhos que ela está viva.

O médico diz que foi um acidente muito feio e Ryland acredita.

Ele sabe que, quando ela se distrai, o resto do mundo desaparece, e que é muito fácil se distrair de madrugada quando as luzes das casas e dos prédios estão apagadas e é só ela dirigindo sem rumo por ruas vazias, como se fosse a única pessoa acordada na face da Terra.

(Conseguir dormir de noite? Essa seria a verdadeira sorte.)

Ele sempre temeu pelo dia em que as ruas não estivessem vazias. Agora, não conseguia evitar pensar que aquele medo tinha fundamento, considerando o lugar onde se encontrava.

Quando eles lhe deixam entrar no quarto e ele a vê, deitada em uma cama hospitalar, com o braço enfaixado cuidadosamente e cortes distribuídos por várias partes do corpo, seus pulmões relaxam e ele consegue voltar a respirar direito. No entanto, suas mãos não param de tremer e ele não sabe bem o que fazer, então se senta na cadeira ao lado da maca e espera.

Espera que ela abra os olhos.

Espera que ela acorde.

Espera que ela volte para ele.

Ryland sabe que não deve criar esperanças, mas ele não consegue deixar de pensar que talvez, só talvez, Melody esteja sonhando com ele. Isto é, se ela estiver sonhando, para começo de conversa.

Mas, mesmo que ela não esteja, não tem problema para ele.

Ryland pode sonhar pelos dois.

(Ele sempre fez isso, desde o começo.)

Porque, a cada vez que o peito dela sobe e desce, indicando que ela está respirando, que está viva, que está bem, ele deixa um pouco de paz penetrar em seu corpo extremamente ansioso e acalmá-lo, ao menos um pouco.

Desde que eles terminaram, há cinco meses, não há um dia sequer no qual Ryland consiga esquecer da existência dela. E, a cada lembrança indesejada que invade sua mente fraca, seu coração partido se apaixona um pouco mais.

Ele se lembra de tudo, do momento que a conheceu em uma cafeteria abafada até o momento em que estavam enrolados na cama e ela disse que não tinha mais condições de continuar em qualquer relacionamento.

(Mesmo que o que eles tivessem não fosse qualquer relacionamento, e ela sabia que não era.)

Ele se lembra da sensação horrível de deixá-la se afastar, só para se arrepender profundamente depois. Será que, se houvesse corrido atrás dela e implorado por outra chance, ainda estariam juntos? Teriam conseguido sobreviver ao monstrinho que habitava a cabeça dela? Ele não sabe dizer.

Os cabelos negros e lisos de Melody estão presos e arrumados de forma cuidadosa no travesseiro do hospital sob o qual sua cabeça repousa. Ele se pergunta se ela mesma os prendeu para o passeio da madrugada ou então se foi alguma enfermeira que se preocupou com algo tão banal. Ele também tem outras perguntas a fazer, mas ela não parece estar nem perto de acordar.

Porém, Ryland sabe que não vai conseguir dormir até ter, pelo menos, uma das respostas que precisa.

Por que, depois de todo aquele tempo, ele ainda é o contato de emergência dela?

xxxxxx

Demorou, mas saiu! Estrelinhas? Opiniões? ;)

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